“A easyJet é um pouco de todos nós”

Esta é a Segunda Parte da Grande Entrevista a José Lopes, country manager para Portugal da easyJet, que nos fala do seu percurso profissional e da paixão pela indústria da aviação.

Quando é que percebeu que a sua carreira ia estar ligada à aviação comercial?
Começou por uma casualidade. Quando terminei o curso o meu primeiro emprego foi numa corretora de bolsa. Depois, em 1993, fui convidado para uma entrevista na Portugália, que era uma empresa ainda muito jovem. A liberalização europeia – que teve os seus atrasos e fez muito mal a uma série de projetos, inclusivamente o da Portugália – só começou em 1992, com o pacote final em 93. Portanto eu acabei por entrar no projeto mesmo na altura da liberalização final em termos comunitários. Foi devido a esse convite, que inicialmente estava ligado à área de reservas mas que depois o saudoso Francisco Bordalo me convidou para criar uma área de estatística dentro da direção geral comercial da companhia, que começou a minha aventura na aviação. Com a sorte de entrar para uma empresa pequena, a crescer, o que me permitiu ficar a conhecer o negócio de forma transversal. Foi uma grande escola, com profissionais muito bons, numa altura em que muitas coisas novas surgiam e que colocou cá dentro o “bichinho” que foi crescendo. Hoje não me vejo de todo a deixar esta indústria. Tanto que quando da compra da Portugália pela TAP não me vi de todo a abraçar outro ramo de negócio e preferi ir para o estrangeiro para continuar na aviação.

Aproveitei uma proposta que tive para ir para o maior aeroporto privado de Espanha, onde estive quase cinco anos, em Ciudad Real. Mais tarde surgiu o convite para abrir a primeira base da easyJet em Portugal, em Lisboa, em 2012, onde estou até hoje, muito feliz por ser um projeto de crescimento, com uma equipa muito profissional, com muita vontade de deixar a sua marca e de fazer da easyJet não só aquilo que já é, uma empresa pan-europeia, mas de ser cada vez mais vista em Portugal como uma empresa portuguesa; como a primeira escolha dos portugueses para voar, com a qual se identifiquem como algo. Esse é o nosso grande objetivo e, pouco a pouco, vamos conseguindo deixar a mensagem de que a easyJet é um pouco de todos nós.

O que é que o apaixona na indústria da aviação?
No meu caso até nem são os aviões em si. Não me considero um geek de aviões. Gosto do negócio, da gestão. É uma área desafiante, uma indústria que sempre teve margens muito reduzidas; não é o caso da easyJet que tem margens muito superiores à média da indústria. Mas é uma área em constante mudança, sempre um passo à frente no que tem a ver com a utilização das tecnologias, e isto já vem do passado. Lembro-me de entrar há 25 anos e de haver um sistema de comunicações mundial que era em tudo igual ao que é hoje o nosso email. Em termos tecnológicos, a aviação esteve sempre na vanguarda, e a capacidade de termos que inovar é um desafio constante. Na easyJet redobra porque, sendo uma empresa líder, puxa por nós ainda mais. É extremamente entusiasmante a nível profissional trabalhar nesta indústria.

Ao longo destes anos certamente houve momentos que o marcaram mais. Quer recordar alguns?
Pela positiva, creio que este projeto da easyJet é sem dúvida o mais entusiasmante e desafiante da minha carreira. É agarrar numa empresa e transformá-la, em termos de sentimento, em algo que seja visto como nosso. É um trabalho que demora algum tempo. Estamos a entrar num mercado em que existem players há mais de 50 anos. Sendo uma companhia jovem, é um desafio também porque, pela primeira vez na minha carreira, olho à minha volta e não sou um dos mais novos. É uma alegria poder constatar uma realidade que mudou, 25 anos depois, mas continuar a sentir-me com vontade e energia para ser mais um do grupo, de avançar com desafios para mudar a indústria. Nós estamos constantemente a querer mudar a nossa indústria, tornando-a mais simples – mais acessível já o conseguimos. Agora ainda temos muito a fazer para a tornar mais simples para as pessoas: a experiência do passageiro, aquilo que ele sente ao entrar num aeroporto – porque nós preocupamo-nos ainda antes de ele chegar ao nosso avião… A imagem do aeroporto do futuro é que tudo esteja tão facilmente articulado junto com a tecnologia, para que com um telemóvel na mão seja possível fazer tudo sem termos que olhar para visores, sem estarmos à espera de ouvir o sinal sonoro, ser tudo fácil em termos de interação, é o nosso grande desafio.

Do lado negativo, creio que para toda a minha geração o grande momento foi o 11 de setembro. Quase todos assistimos ao vivo ao embate do segundo avião e todos percebemos que a nossa indústria mudou naquele dia. Aliás nestas quase três décadas de aviação, o ano a seguir foi o único ano em que o tráfego em Portugal baixou. Foi marcante pois tivemos que nos adaptar a uma série de circunstâncias que se alteraram. E continuamos hoje todos juntos nesta indústria a trabalhar em uníssono, independentemente da companhia aérea que representamos, para transformar a nossa indústria na indústria de transporte mais segura que existe à face do planeta.

O que é necessário para se ser um bom gestor?
Ter consciência de que o que nos propomos só é exequível pelo somatório do esforço de todas as pessoas da nossa equipa. Não há “one-man shows”. Nós somos o que a nossa equipa toda faz. E eu tive a sorte de ter uma boa escola de gestores à minha frente que me fizeram sentir isso na pele e perceber essa importância. Ganhamos em conjunto, perdemos em solitário. Quando perdemos como responsáveis máximos de um projeto, a responsabilidade é nossa e quando ganhamos, ganhamos em equipa. Temos que ter sempre em conta as pessoas. O mais importante numa equipa são as pessoas, pessoas que estejam felizes, despreocupadas, com problemas exógenos ao seu trabalho produzem muito mais e são muito mais ativas, e permitem-nos mais facilmente ganhar e chegar aos nossos objetivos. Temos que ter sempre uma gestão centrada nas pessoas que estão à nossa volta. É a pedra de toque.

É fácil desenvolver uma carreira numa multinacional?
Sim. Na nossa indústria se calhar é mais fácil sentirmos este entrosamento porque é uma indústria internacional, existe uma maior abertura. A nossa sede em Luton parece as Nações Unidas. Mesmo nas nossas bases, nos vários países, há sempre uma panóplia de nacionalidades.

Tenho de viajar com alguma frequência. É algo que é inerente e gosto. Uma parte do nosso escritório é um “assento dentro de um tubo pressurizado” (risos). Acaba por ser também um local para pôr alguma leitura em dia, para responder a emails atrasados, para pôr em dia coisas pendentes.

O que mais valoriza quando anda de avião?
Pontualidade. E para qualquer pessoa que voe, essencialmente em trabalho, é o mais vital. Daí nos orgulharmos de a easyJet ser das principais companhias com volume mais pontual aqui em Portugal, e uma das mais pontuais na Europa. E de ser algo que, em termos de gestão, seja constantemente uma pedra de toque para nós como empresa, à qual estamos sempre atentos. Há muitos fatores que não controlamos, como as greves do controlo de tráfego aéreo francês, que é algo recorrente, e que afetam o espaço aéreo europeu, especialmente Portugal. É uma constante preocupação nossa, porque faz parte do compromisso. Para nós é um ponto de honra, é algo que nos esforçamos por poder pôr em prática tudo o que é possível da nossa parte, primeiro para cumprir, segundo para minimizar efeitos quando existem atrasos provocados por terceiros.

E o que mais detesta num aeroporto?
Não ser tratado como uma pessoa. Daí muitas das nossas críticas relativamente a alguns aeroportos estarem relacionadas com a deterioração da experiência do passageiro. Temos que simplificar e tornar o mais agradável possível a experiência de um passageiro num aeroporto. É algo que me tira do sério quando me obrigam a andar mais 15 minutos para ter que passar por dentro de umas lojas na chegada, quando 99% dos passageiros à chegada não compram, foi uma batalha que felizmente conseguimos vencer aqui em Portugal, conseguimos convencer o gestor aeroportuário a voltar ao normal. Tudo o que tem a ver com a experiência do passageiro é algo pelo qual irei sempre lutar para que seja melhorado e seja o mais friendly possível.

Quem é José Lopes?
[textmarker color=”4754FF”]Nasceu em Lisboa, em 1972, e foi na Grande Lisboa, entre a Ajuda e a margem Sul que José Lopes passou a sua infância. Os anos escolares passaram-se aos altos e baixos, alturas havendo em que o futebol, uma paixão de sempre, falava mais alto, e as notas se ressentiam, voltando a subir à medida que ganhava alguma maturidade. Formado em Informática e com um Executive MBA em Gestão do Transporte Aéreo/ Aviação Civil pela Universidade Lusófona, José Lopes assume ser um apaixonado pela indústria da aviação mas admite que não é viciado em trabalho. “Dou muito valor à vida familiar”, sublinha o pai de duas filhas, com 11 e 13 anos de idade. E talvez seja por isso que afirma sentir-se tão bem na easyJet, onde ingressou em 2012 para abrir a base portuguesa da companhia em Lisboa. Recorda a primeira vez em que recebeu uma chamada de atenção por estar a trabalhar enquanto estava de férias, algo que aconteceu nas suas primeiras férias na easyJet. “Na easyJet obrigam-nos a ter essa consciência de que é muito importante que o tempo em que estamos com a nossa família seja de qualidade”, explica, reconhecendo que é algo que também ele valoriza e que acaba por ser positivo até para o regresso ao trabalho, com mais energia. Ambicioso afirma sê-lo mas na medida certa, e não só profissionalmente, mas também por ver as filhas crescerem para se tornarem seres humanos bem estruturados e felizes. [/textmarker]

Em discurso direto…
Livro de mesa-de-cabeceira… Neste momento estou a ler Tolkien.
Melhor aeroporto… Gatwick, pela aposta na automatização e simplificação de projetos. Está na vanguarda.
Próxima viagem… Não será de avião mas de férias, em agosto, para o Algarve.

 

*Esta é Segunda Parte da Grande Entrevista publicada na edição 313 da Ambitur.

Leia aqui a Primeira Parte:Somos um player incontornável para Portugal continuar a crescer