No seguimento do lançamento do Guia salarial 2025 da Adecco Portugal, a Ambitur entrevistou Bernardo Samuel, diretor da Adecco Recruitment, para nos falar sobre o setor da Hospitalidade, uma das áreas que continua a sentir uma grande pressão na captação de talento, especialmente em funções operacionais e de gestão. O responsável analisa as tendências salariais neste setor, os perfis mais procurados e os novos desafios de fidelização de talento.
Que análise podemos fazer atualmente do setor da hotelaria no que diz respeito à captação e fidelização de talento? O que é hoje mais difícil para os hotéis – captar ou fidelizar?
A captação e fidelização de talento são desafios que andam de mãos dadas, mas, de uma pragmática de recrutamento, diria que a atração/ captação é o maior desafio atual. O mercado encontra-se cada vez mais competitivo (não apenas com players nacionais, mas internacionais), com uma procura crescente por profissionais qualificados, especialmente em áreas de gestão e de operações. A escassez de talento com as competências técnicas específicas e experiências adquiridas em funções anteriores, exige que os hotéis adotem abordagens mais inovadoras no recrutamento. No entanto, a fidelização também tem sido um desafio, na medida que os profissionais mais qualificados procuram ambientes de trabalho flexíveis e que ofereçam uma evolução contínua. Alinhar a estratégia de recrutamento com uma cultura organizacional que valorize o desenvolvimento e o bem-estar dos colaboradores tem sido um ponto-chave para transformar este desafio numa oportunidade de crescimento para o setor.
Quais são as funções/cargos onde essa pressão se sente mais?
A pressão sente-se principalmente em funções operacionais (onde existem altas taxas de turnover) e em posições de gestão e liderança, como Diretores de Hotel, Chefs e Diretores de F&B. Em funções operacionais, serão as que possuem contacto direto com o cliente, como Governantas e Front Office, onde a combinação de qualidade de serviço e resiliência é fundamental. Nas posições de liderança, estes profissionais não só precisam de uma forte competência operacional, como também de uma visão estratégica e capacidades de liderança que vão muito além da experiência técnica. Encontrar perfis que combinem experiência e visão estratégica com as exigências imediatas da operação tem sido uma tarefa desafiante, mas não impossível, delineando a estratégia certa.
A pressão sente-se principalmente em funções operacionais (onde existem altas taxas de turnover) e em posições de gestão e liderança, como Diretores de Hotel, Chefs e Diretores de F&B.
O que devem as empresas hoteleiras fazer para ultrapassar esta dificuldade? Tem havido algum esforço nesse sentido por parte dos hotéis?
As empresas hoteleiras devem adotar uma abordagem de recrutamento estratégica e focada no longo prazo. A construção de uma marca empregadora sólida, que destaque a cultura organizacional e as oportunidades de desenvolvimento profissional, é fundamental para atrair os melhores talentos. No entanto, a fidelização começa bem antes da contratação. Investir em programas de formação contínua e em ambientes de trabalho que promovam o bem-estar, a flexibilidade e a inovação tem sido cada vez mais uma prioridade para as empresas que querem não só atrair, mas também reter os melhores profissionais. Além disso, apostar em condições de trabalho que permitam o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são fatores essenciais que têm sido cada vez mais integrados pelas empresas hoteleiras para se tornarem mais atrativas.
Investir em programas de formação contínua e em ambientes de trabalho que promovam o bem-estar, a flexibilidade e a inovação tem sido cada vez mais uma prioridade para as empresas que querem não só atrair, mas também reter os melhores profissionais.
Atualmente, que tipo de perfil tem maior procura na hotelaria – que exigências/critérios são pedidos aos candidatos? Que tipo de elementos são mais valorizados?
O perfil mais procurado na hotelaria combina competências técnicas e operacionais com uma forte orientação para o cliente e uma compreensão profunda das transformações (digital e não só) do setor. Cada vez mais, os hotéis procuram profissionais que para além de skills operacionais, saibam também integrar inovações tecnológicas que melhorem a experiência do cliente e a eficiência operacional. A experiência em gestão sustentável também é altamente valorizada, dado o foco crescente no setor em práticas ecológicas e responsabilidade social. Além destes pontos, as competências humanas como a empatia, comunicação eficaz e a capacidade de liderança são essenciais, pois a criação de boas experiências para os hóspedes é um fator decisivo no sucesso do negócio.
O perfil mais procurado na hotelaria combina competências técnicas e operacionais com uma forte orientação para o cliente e uma compreensão profunda das transformações (digital e não só) do setor.
E quais os perfis com maior procura por parte dos candidatos? Porquê?
Os profissionais da hotelaria estão cada vez mais a procurar empresas que ofereçam um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, além de estabilidade e remuneração atrativa. Muitos candidatos procuram um propósito e alinhamento com os seus próprios valores, procurando trabalhar em empresas que se preocupem com o desenvolvimento sustentável e com a inovação. Estes profissionais são também sensíveis ao nível de tecnologia/ digitalização no setor e, ao mesmo tempo, poderem participar em ambientes de trabalho positivos e colaborativos. O investimento no talento está a tornar-se uma prioridade para os candidatos, e a escolha das empresas que apostam nesta vertente vai depender, em grande parte, de como estas se posicionam e cuidam dos seus colaboradores.
Os profissionais da hotelaria estão cada vez mais a procurar empresas que ofereçam um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, além de estabilidade e remuneração atrativa.
Fazendo um ranking das funções melhor remuneradas na hotelaria, qual seria o TOP 5? E as menos bem remuneradas?
Com base nas tendências salariais mais recentes e na minha experiência de recrutamento especializado, o TOP 5 das funções mais bem remuneradas na hotelaria seria:
- Diretor de Hotel: Entre 30.800€ e 138.600€, refletindo a responsabilidade de gerir um hotel de grande porte e a sua operação estratégica.
- Chefe Executivo: Entre 38.500€ e 75.460€, uma posição essencial, dada a complexidade e exigência de liderar as operações de cozinha.
- Diretor F&B: Entre 35.420€ e 73.920€, uma função-chave para gerir as operações de alimentação e bebidas com foco na experiência do cliente.
- Assistant Hotel Manager: Entre 38.500€ e 49.280€, um cargo estratégico que envolve a coordenação das operações diárias de um hotel.
- Gerente de Restaurante: Entre 21.560€ e 38.500€, refletindo a importância da gestão eficaz de restaurantes e bares, garantindo a satisfação do cliente.
Por outro lado, as funções mais operacionais, como Governanta e Gerente de Front Office, embora essenciais, têm uma remuneração inferior, variando entre 23.100€ e 33.880€, dependendo da experiência e da localização.
Estas tendências salariais são iguais em todo o país? Há diferenças regionais?
Sim, há diferenças salariais notórias consoante a localização. As grandes cidades como Lisboa e Porto, onde estão concentrados os hotéis de luxo, apresentam salários mais elevados, devido à maior procura de profissionais qualificados e à intensidade do mercado. Regiões turísticas como o Algarve também apresentam salários mais elevados, dado o volume de negócios e a competição por talento. No entanto, em regiões mais pequenas ou rurais, os salários tendem a ser mais baixos, o que torna ainda mais difícil atrair e fidelizar profissionais qualificados.
As empresas que investirem em tecnologias que melhorem a experiência do colaborador e em práticas de sustentabilidade estarão a preparar-se para um futuro de sucesso.
Como pode a hotelaria voltar a ser atrativa para os futuros profissionais?
A hotelaria tem de se tornar uma indústria mais moderna e alinhada com as novas expectativas dos profissionais. Isso significa criar condições de trabalho que ofereçam flexibilidade, bem como programas de formação contínua que permitam o crescimento e a evolução dos colaboradores. As empresas que investirem em tecnologias que melhorem a experiência do colaborador e em práticas de sustentabilidade estarão a preparar-se para um futuro de sucesso. Além disso, uma forte aposta na responsabilidade social e ambiental será determinante para atrair profissionais que compartilham destes valores.
Acreditamos que a hotelaria tem uma oportunidade única de evoluir para um setor mais dinâmico, sustentável e focado no bem-estar dos seus colaboradores. As empresas que souberem integrar inovação, cultura organizacional forte e programas de fidelização e desenvolvimento de talento estarão melhor posicionadas para não só atrair, mas também manter os melhores profissionais, criando um ambiente de trabalho que é,
simultaneamente, gratificante e desafiador. O futuro da hotelaria passa pela capacidade de se reinventar, adaptando-se às novas exigências do mercado e aos valores das gerações mais jovens.
Por Inês Gromicho






















































