O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.

Chegou a vez de visitarmos Arraiolos, no distrito de Évora, tão conhecida por ser “a terra dos tapetes” numa tradição que remonta provavelmente ao século XVI. Muitos são aqueles que têm um Tapete de Arraiolos em casa, e se por acaso não é um dos “felizardos”, certamente que não lhe são indiferentes os desenhos e cores destes objetos que têm tanto de útil como de decorativo. Mas poucos saberão talvez a sua história. Por isso fomos ao Centro interpretativo do Tapete de Arraiolos (CITA), onde o historiador Rui Lobo, diretor do espaço, nos levou pelas várias salas e exposições permanentes e temporárias. E lembrou-nos que é já entre 6 e 10 de junho que “O Tapete está na Rua”, uma iniciativa que, todos os anos, se realiza nesta vila alentejana e que traz às ruas de Arraiolos espetáculos, exposições e debates, bem como, naturalmente, uma mostra destes tapetes que ornamentam as ruas do centro histórico.
O CITA abriu portas em 2013, num edifício histórico de Arraiolos, na praça do município, onde anteriormente funcionou o antigo Hospital do Espírito Santo, construído no final do século XV ou início do século XVI. A verdade é que o imóvel acabou por vir parar, mais tarde, às mãos da Câmara Municipal, que aí instalou os serviços da Segurança Social, o quartel da GNR e, só em 2011, iniciou obras para adequar o espaço às suas atuais funções museológicas. E é hoje um dos imóveis mais antigos desta vila do Alentejo.
O nosso objetivo é conhecer um pouco melhor como e quando surgiu o famoso tapete. Mas o nosso guia diz-nos logo que não existe uma “prova cabal” de como se iniciou a sua produção, havendo mesmo várias teorias. No entanto, há uma versão oficial, e esta que nos é contada. Rui Lobo explica que o que se sabe é que existia uma grande tradição de tapeteiros mouros em Lisboa, nos séculos XIV e XV mas, com o édito de expulsão ou de conversão das minorias religiosas existentes no território português, estas referências deixam de existir. E garante que esta seria uma tradição dos muçulmanos, presumindo-se que alguns deles se teriam convertido, pelo menos aparentemente, ao cristianismo, e teriam vindo para Arraiolos, pois era nesta região que já havia a tradição de tingimento de lãs mais antiga, algo fundamental para quem produzia tapetes. Uma vez estabelecidos, começaram então a criar tapetes bordados, com influências orientais, muito próximos dos tapetes turcos, que na época dos séculos XV, XVI e XVII, juntamente com os tapetes persas e indianos, chegavam em abundância a Portugal. Como os “artistas” não queiram ser associados à sua anterior cultura religiosa, optaram por uma técnica diferente.
Há um elemento que é sempre constante desta arte herdeira dos tapetes orientais, o esquema pré-decorativo, constituído por um centro, um campo que é simétrico, o que implica que se o dividirmos em quatro partes, elas serão simetricamente idênticas.
Há ainda a técnica do ponto pé de flor, muito comum dos tapetes de Arraiolos, sobretudo nos mais antigos, para contornar os motivos decorativos. Uma técnica que, refere o historiador, está a ser reativada.
Na verdade, montar um Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos não foi fácil, pois não há muitos originais antigos que tenham chegado incólumes aos tempos de hoje. Por isso, apesar de algumas relíquias encontradas e outras recuperadas, há também muitas réplicas, que procuram respeitar as cores originais. Até porque, com o passar do tempo, estes coloridos perdem-se e os tons dos tapetes ficam mais claros. Mas logo à entrada podemos ver, a meio das escadas, um tapete do século XVIII que pertencia à paróquia da Nossa Senhora dos Mártires e que foi minimamente restaurado ao ser descoberto num baú.
Praticamente todos os tapetes que podemos ver ao longo da exposição permanente, e que não são réplicas, são da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga ou comprados à Fundação Ricardo Espírito Santo. As bordadeiras locais vão também replicando os tapetes antigos já com as cores que teriam nesses tempos.
Podemos conhecer a D. Olinda, que incansavelmente faz perdurar esta arte secular, que hoje dificilmente será seguida como profissão, apesar do interesse de alguns jovens em ainda a aprender. Na sala onde a bordadeira trabalha podemos também ver o processo artesanal de produção do Tapete de Arraiolos, algo que hoje já se faz de forma diferente pois a lã tingida já é comprada. Em conjunto com a Universidade de Évora, concluiu-se quais os corantes naturais utilizados para tingir a lã na altura, como a cochinilha, o pau-brasil, os lírios tintureiros, o trovisco, a garança ou o indigo, recorrendo-se ao alúmen e ao sal de ferro como fixadores. E foi nesta análise que também se percebeu que a cor vai desaparecendo gradualmente quando os tapetes são expostos à luz.
Ao percorrermos a sala seguinte, podemos ver tapetes divididos por três épocas, desde o século XVV ao século XX. E aqui sim são todos eles originais. Alguns mantêm as cores muito próximas do original pois não estiveram expostos à luz, podendo estar em conventos ou guardados. E podemos observar que nos tapetes mais antigos a garança era utilizada para o vermelho, sendo mais tarde utilizado o pau-brasil, cuja degradação é mais acelerada. Onde visualizamos o amarelo-torrado, o historiador diz-nos que podemos imaginá-los vermelhos. Já na última parte desta sala, os tapetes mais recentes distinguem-se facilmente dos anteriores, alguns com as cores naturais da lã e outros já com recurso a corantes artificiais.
Na verdade, o Tapete de Arraiolos “ganhou fama” essencialmente no século XX, e nessa altura, produziram-se peças com fundo branco ou bege, no fundo as cores que os olhos viam na época, lembra Rui Lobo, repetindo-se os desenhos. Mas poucos sabiam que a tradição era que os tapetes fossem coloridos.
Além da exposição permanente, o CITA realiza três exposições temporárias por ano, com a duração de cerca de três meses (fevereiro/março, junho e outubro). A próxima inaugura já dia 6 deste mês e prolonga-se até 28 de setembro, e traz as obras da artista plástica Susana Cereja a Arraiolos.
No final da sua visita, não se esqueça d elevar para casa o kit especial para que também possa fazer a sua mostra de tapete de Arraiolos. Nele encontrará lá, o desenho, a tela, a agulha e a explicação de como criar a sua própria obra de arte.
Neste momento, estando já inscrito no Inventário Nacional, o Tapete de Arraiolos aguarda pelo seu reconhecimento pela UNESCO, sendo que a candidatura está prestes a ser submetida.
Horário de visita: 3ª a domingo, das 10H00 às 13H00 e das 14H00 às 18H00






















































