O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.
É verdade que a Casa Relvas era vinho muito antes de ser azeite. Esta empresa familiar, de capital nacional, que já produz vinhos há mais de 20 anos, decidiu diversificar a sua atividade e apostar no cultivo o olival, uma aposta que tem tudo para dar certo. Fomos pois visitar o Lagar casa Relvas, na Vidigueira, e ficámos a conhecer como começou este projeto e o que é possível aprendermos numa visita a este espaço. É a Henrique Herculano, diretor executivo do Lagar, que cabem as honras de nos guiar nesta viagem pelo mundo do olival e do azeite, um produto tão português que faz parte da mesa de todos.
O lagar industrial, que vai este ano a caminho da quarta campanha, nasceu para dar resposta à produção própria. Tendo investido na produção de olival, quer em copa, em sebe ou tradicional, a família não estava satisfeita com o recurso a prestadores de serviços externos para fabricar o azeite e, por isso, o Lagar Casa Relvas foi criado com o intuito de garantir mais confiança e qualidade a todo o processo. Na primeira campanha feita, há três anos, produziram-se cerca de cinco milhões de quilos de azeitona e na última já se chegou aos 20 milhões, um crescimento de 400%. A ampliação que vai ter lugar este ano, e que deverá estar concluída em meados de julho, fará com que o lagar fique dimensionado para uma campanha de aproximadamente 30 milhões de quilos de azeitona. Neste momento, se o ritmo do início do ano se mantiver, tudo indica que o Lagar Casa Relvas poderá embalar 500 toneladas de azeite por ano, sendo que atualmente esse número poderá estar perto das 300 toneladas. Também a nível do olival tudo aponta para o crescimento, com os 300 hectares atuais, distribuídos entre o Redondo e a Vidigueira, a ganharem mais 250.
Mas o lagar está também preparado para o olivoturismo, uma tendência cada vez mais procurada por portugueses e estrangeiros, aqui sobretudo brasileiros. Fazemos então a visita guiada com Henrique Herculano, que nos explica, passo a passo, como se processa todo o fabrico dos azeites Casa Relvas.
Quando a azeitona chega ao lagar, é pesada e identificada digitalmente, para ser encaminhada para uma das duas linhas de grande capacidade que existem neste espaço: a primeira tem uma capacidade de limpeza de 70 toneladas/hora e também de lavagem; enquanto que a segunda tem uma capacidade de 100 toneladas/hora. O responsável vai contando que, tradicionalmente, a lavagem era uma operação essencial, mas que tem dois aspetos negatives: por um lado, o consume de água e, por outro, a qualidade final do azeite, até porque o próprio pode perder alguns compostos essenciais por arrastamento.
Na máquina de limpeza são retiradas folhas, ramos, paus ou pedras, no fundo, todos os corpos estranhos à azeitona, e Henrique Herculano lembra que, na última campanha, até foram encontradas duas cobras grandes na máquina. Uma vez limpa, a azeitona segue caminho para a báscula, que referencia o peso de entrada, e depois é transportada para um dos 10 tegões existentes, onde é separada por variedade, qualidade, proveniência ou produtor. Cada tegão pode levar até 45 a 50 toneladas, bem otimizados, o que significa que é possível ter ali até 500 toneladas de azeitona.
Dos tegões vão então para os moinhos, hoje quarto mas em breve cinco. Um processo suportado por mecanismos de segurança que estão interligados, ou seja, se o moinho pára, o sem-fim pára, e por aí em diante.
É tempo de a azeitona repousar, no mínimo duas horas mas podendo ir às 14 horas, dependendo da qualidade que se quer extrair. É de seguida moída e bombeada para dentro de umas caixas que funcionam como batedeiras, que mais não fazem do que agitar suavemente a pasta de azeitona, com uma temperatura estabilizada entre os 26 e os 30º, um processo de aquecimento feito a partir de caldeiras de biomassa. Dessas caixas, a pasta é bombeada uma vez mais para os decanters, uma espécie de máquinas de lavar com um tambor de alta rotação, que vai permitir separar polpa, pele, caroço, água e azeite. Mas nesse tambor está um sem-fim com umas janelas de passagem que vai arrastando tudo o que não é essencial e deixando na caixa o anel de azeite que, por sua vez, vai sair para uma segunda linha de equipamentos, onde é novamente submetido a uma centrifugação para separar restos de polpa e de humidade, e maximizar assim a limpeza do azeite.
Nas primeiras 24 horas este azeite limpo fica a repousar nos decantadores, depósitos de fundo cónico onde se tende a acumular, no fundo, a humidade, a polpa e o caroço. E depois então é submetido a um controlo de qualidade, de acidez e uma análise sensorial.
É ainda possível visitarmos o pequeno laboratório do lagar que, diz-nos Henrique Herculano, é o lugar de maior azáfama em época “alta”. Aqui o azeite é analisado sempre que sai das centrífugas, com o equipamento designado por fóssil, que trabalha por infravermelhos, a determinar o rendimento e a humidade da azeitona. Mas as tecnologias mais recentes também ajudam e o que no anterior equipamento pode levar várias horas, há outro que só demora segundos e que normalmente é utilizado para limpar o primeiro.
Qualquer visitante poder fazer este percurso mas, se os grupos forem grandes, é mais difícil poderem conhecer o laboratório. No final, chegamos à loja, onde tudo começou.
E a partir daqui somos convidados a provar os azeites: temos o Casa Relvas, o Segredos de São Miguel e o Art.Terra, todos eles azeites virgem extra. A verdade é que a maior parte dos visitantes também quer provar os vinhos da marca e isso é possível. No final, pode mesmo parar na loja e levar consigo uma ou mais garrafas do azeite e/ou vinho que mais gostou, no fundo, um pouco da história e da experiência que viveu neste lagar.
Se está a planear uma visita, diz quem sabe que a segunda quinzena de outubro é a melhor altura do ano para fazer a visita, que também pode incluir um passeio pelo olival.





















































