O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.

Hoje estamos numa das regiões mais remotas de Portugal mas também uma daquelas que, todos os anos, continua a atrair milhares de visitantes pois é aqui que se situa um dos monumentos mais conhecidos e procurados do país. Falamos de Sagres e do seu Promontório, um lugar onde a história de séculos e os vários mitos que o envolvem geram uma aura especial que ainda hoje é motivo de interesse por portugueses e estrangeiros.
À nossa espera está a diretora do Promontório de Sagres, Ana Cláudia Silveira, que nos faz recuar no tempo, até ao Terramoto de 1 de novembro de 1755, altura em que a fortificação ali erguida ficou praticamente destruída e foi, posteriormente, alvo de um plano de reconstrução substancial. Mas a verdade é que podemos recuar até aos tempos do Infante D. Henrique, que ali criou a Vila do Infante e aqui viveu até aos seus últimos dias. E se quisermos ir mais atrás, desde a pré-história que este local, considerado então uma finisterra, motivava a curiosidade das pessoas, que lhe atribuíam uma dimensão ligada ao fim do mundo conhecido, portanto, do desconhecido.
Mas além da dimensão cósmica e de introspeção, quase de misticismo, Ana Cláudia fala-nos da importância da sua dimensão geográfica, que o posicionava como um lugar de interseção de rotas comerciais e de navegação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, tornando-o um ponto absolutamente estratégico no controlo da navegação, na proteção e na defesa da costa ao longo da história.
Por outro lado, há a questão da biodiversidade que também aqui é pertinente, já que o Promontório de Sagres esteve desde sempre ligado a rotas migratórias de determinados peixes e cetáceos que, em tempos, teriam um valor económico relevante. O que significava que atuava como um ponto de vigia e de apoio a essas atividades. Durante toda a Idade Média, Sagres foi conhecida pela pesca de cetáceos, do atum ou da corvina, com a criação de almograves que terão sido destruídos pelo Terramoto de 1755. Além disso, o facto de estar integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina intensifica o seu valor natural e de preservação, permitindo também atividades de sensibilização dos visitantes para estas questões. Todos os anos a Fortaleza tem estado associada ao Festival de Observação de Aves, que se realiza no início de outubro, e que já ganhou uma importância expressiva a nível nacional e internacional.
Ana Cláudia Silveira recorda uma transformação mais recente, operada pelo Estado Novo, onde a narrativa estava associada à valorização dos heróis e grandes feitos nacionais.
A verdade é que têm sido realizadas, ao longo dos anos, intervenções arqueológicas na Fortaleza de Sagres que permitiram obter dados importantes e que devem ser mantidas. Foram, por exemplo, detetados vestígios da muralha henriquina, que há intenção de valorizar no circuito de visita, e na entrada foi identificado um fosso que terá tido um importante papel de reforço defensivo.
Há pois uma série de motivos para visitar o Promontório de Sagres, um lugar com um potencial enorme do ponto de vista histórico, museológico e de património natural, capaz de “nos colocar sempre desafios novos pela sua imensa versatilidade e riqueza de nos remeter praticamente para todas as temáticas”, sublinha a diretora do espaço. E recorda, por exemplo, a ligação a São Vicente e ao culto vicentino, bem como às peregrinações, algo que náo será tão conhecido pelo público em geral, mas que acabou por contribuir decisivamente para o caráter místico e mítico da Fortaleza. Este culto a um santo protetor dos marinheiros ainda hoje motiva a curiosidade de muitos os que têm ao seu dispor rotas de peregrinação e trilhos para caminhadas ou cicloturismo.
“Há uma grande diversidade de oferta neste território que não é sazonal, dura o ano inteiro; e há, de facto, um turismo diferenciado de outros locais do Algarve”, frisa Ana Cláudia Silveira. Uma diferenciação que também é reforçada pela paisagem selvagem e as arribas impressionantes.
Não admira pois que, só em 2024, tenham sido aproximadamente 500 mil os visitantes que quiseram conhecer, ou revisitar, o Promontório de Sagres, muitos portugueses, sim, mas maioritariamente estrangeiros. E a verdade é que é atualmente o monumento mais visitado do Algarve e o segundo mais visitado do país, logo atrás do Mosteiro dos Jerónimos, segundo os dados estatísticos dos museus integrados na rede de Museus e Monumentos de Portugal. Um crescimento que tem vindo a ser visível e que traz uma “responsabilidade e uma pressão enormes”, admite Ana Cláudia Silveira.
Até porque o Promontório de Sagres está aberto quase todos os dias do ano, á exceção de cinco, o que obriga a uma gestão de recursos enorme.
Os visitantes, além de poderem conhecer livremente, ou com guia, a Fortaleza, classificada como Monumento Nacional em 1910 e como Marca do Património Europeu em 2015 – conhecendo a pequena capela da Nossa Senhora da Graça aí erguida em 1570, a enorme rosa-dos-ventos no solo, ou o padrão semelhante ao que os portugueses construíam no século XV nos territórios explorados e em cuja base se encontra uma placa em homenagem ao Infante D. Henrique – podem também conhecer o centro expositivo, com uma primeira exposição de contextualização e interpretação do espaço, e uma segunda área com um centro de arte contemporânea com exposições temporárias.
O facto de a Fortaleza ser Marca do Património Europeu irá marcar a programação deste espaço ao longo do próximo ano, começando já por este mês de dezembro.
O Promontório de Sagres desenvolve igualmente uma série de visitas temáticas mensais: em setembro alusiva ao final da Segunda Guerra Mundial, em outubro alusiva ao Dia Nacional dos Castelos e em novembro debruçada sobre o Dia Nacional do Mar. Por isso, quem visita o espaço tem sempre uma razão nova para aqui vir, com programação cultural diversificada que acaba por fidelizar o seu público.
Leia também…
Algarve reforça liderança no turismo sustentável com o projeto “Save Water”





















































