CongressoAHP2024: “Tem de haver uma entidade reguladora do crescimento da oferta de alojamento local”

“O alojamento local foi muito importante para fixar tráfegos a viajar para a Madeira”, afirmou António Trindade, CEO do PortoBay Hotels & Resorts, que participou ontem na mesa redonda “Evolução e Inovação na Hotelaria: Da História à Visão de futuro na Madeira e no País”, que teve lugar no primeiro dia do 34º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que decorre até amanhã, no Funchal. Mas o empresário madeirense não hesitou em alertar que “este lastro tem os seus limites”. Ou seja, “o grande interesse é que haja uma entidade reguladora das duas estruturas”, uma mesma entidade para gerir alojamento local e hotelaria tradicional. “Tem de haver uma entidade reguladora do crescimento da oferta de alojamento local”, frisa o responsável, que adianta que “é fundamental criar-se um entendimento para podermos falar nos mesmos termos”. O orador lembra que, por exemplo, em 2023, abriram na Madeira 6800 camas de alojamento local, algo que nunca foi falado, e no Algarve acontece “exatamente o mesmo”. E lamenta que, para se fazer um investimento hoteleiro, “o que temos de passar para conseguir aprovar 100 a 300 camas, e enquanto isso o alojamento local cresce «pianinho»”.

Outra questão abordada pelo CEO do Grupo PortoBay prendem-se com a burocracia, que diz ter um impacto ainda maior para um empresário patrimonialista e que “tem tido um valor muito grande na própria inflação de preços da oferta turística”.

António Trindade fez ainda questão de mencionar a o IVA turístico, lembrando que “o fator de diferenciação do turismo é que o IVA é pago cá dentro” e, no caso da Madeira, “onde mais de 80% dos clientes não são portugueses, isto quer dizer que 80% das receitas geradas na Madeira são passíveis de IVA pago cá”. Resumindo, “temos esta capacidade, e representa muito mais do que os dois euros da taxa turística”.

“O principal sustento de uma marca são os seus produtos, e esta tem sido a nossa grande preocupação, fazer crescer a marca mas não desiludir com produto a marca que temos”

O empresário não deixou passar a oportunidade de lembrar à plateia deste congresso que o Grupo PortoBay Hotels & Resorts assenta em três pilares, os três P’s: produto, promoção e pessoas. Referindo-se ao primeiro pilar, António Trindade explicou que o produto tem vindo a evoluir no tempo e, se há um tempo atrás, “a boa cama e a boa mesa eram determinantes daquilo que era um bom produto”, esta evolução levou a que os clientes tenham deixado de pedir apenas isso e, agora, “o produto é fundamentalmente a experiência que possa passar, essa é que vai moldar o que é o produto e a capacidade de diferenciação”. O gestor não tem dúvidas de que “o homem do turismo é um visionário”, até porque “pensar um produto novo obriga-nos a ser visionários”. E dá aqui o exemplo da Madeira, onde a cadeia hoteleira tem a maioria dos seus hotéis, e onde “o compromisso dos microprodutos tem sido muito grande, com uma particularidade: o plano de ordenamento de turismo da região tinha o plafond máximo de 40 mil camas hoteleiras e, na realidade, já temos hoje mais de 60 mil camas na Madeira (30 mil hoteleiras e 30 mil de alojamento local)”. O orador explica que o posicionamento do grupo madeirense a nível da oferta e da diferenciação coloca-se a uma escala global. E sublinha: “O principal sustento de uma marca são os seus produtos, e esta tem sido a nossa grande preocupação, fazer crescer a marca mas não desiludir com produto a marca que temos”.

“Há 30 anos éramos facilmente comprados e agora passámos a vender”

Referindo-se ao segundo “P”, António Trindade explica que, quando se fala na promoção, numa lógica da distribuição, o mundo dos charters mudou. “Há 30 anos éramos facilmente comprados e agora passámos a vender”, uma grande alteração e desafio que se coloca ao setor, alerta, que diz que “o conceito da oferta se colocar no mercado foi profundamente alterado”.

os imigrantes que recebemos é gente com formação superior, que se adapta ao próprio mercado, e esses temos que trabalhar com todo o carinho

Por fim, mas não menos importante, o orador olha para as pessoas, com uma preocupação na formação de base, na dignificação das carreiras e de rotinas. E alerta para a necessidade de não demonizarmos os fenómenos migratórios. No caso do PortoBay, explica, “os imigrantes que recebemos é gente com formação superior, que se adapta ao próprio mercado, e esses temos que trabalhar com todo o carinho, reconhecimento de mérito da formação contínua”.

Por Inês Gromicho, no Congresso da AHP, no Funchal.

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