#Consultoras (I): Como pode a Hotelaria atrair os melhores gestores?

A formação tem vindo a assumir uma importância cada vez maior para o setor da Hotelaria em Portugal que pretende captar os melhores profissionais para oferecer um produto de excelência. Mas será que o setor continua a ser atrativo para os melhores gestores hoteleiros? Deixamos aqui a 1ª parte deste trabalho, publicado na íntegra na edição 340 da Ambitur, no qual falámos com alguns consultores especializados nesta área que apontam o dedo a um modelo ainda demasiado tradicional, distante dos setores de serviços qualificados e da nova economia. O que, por sua vez, poderá não atrair as novas gerações formadas nas melhores escolas de gestão. Como evoluir deste patamar?

Rui Pedro Almeida

Esta opinião é defendida por Rui Pedro Almeida, CEO e Managing Partner da Moneris, que não dá nota positiva ao nível de atração dos setores da hotelaria e turismo para os gestores. “Estão ainda muito arraigados aos princípios e modelos da indústria tradicional, ainda distante dos setores de serviços qualificados e da nova economia”, alerta. E acredita que esta forma de organização do setor, e dos seus agentes, “não atrai as novas gerações e os novos licenciados formados nas melhores escolas de gestão”. Para o consultor, verifica-se uma estrutura na generalidade das organizações ainda “muito estanque, hierárquica e pouco dinâmica ou flexível”, com a qual os mais jovens, que estão a entrar no mercado de trabalho, não se identificam. Além disso, vai mais longe dizendo que as funções disponíveis, numa fase inicial de carreira, pautam-se por uma vertente operacional, pouco voltada para a inovação e para funções criativas e desafiantes. Rui Pedro Almeida não duvida que, para motivar os novos talentos, há que “investir em planos de carreira, claros e estruturados, remuneratoriamente atrativos, que permitam uma exposição mais diversificada a diferentes áreas da gestão e uma experiência mais enriquecedora num momento de dinamismo e em que a capacidade de desafiar o status quo e de propor inovação está mais desperta”.

Filipe Santiago

Filipe Santiago, especialista em gestão aplicada à hotelaria e senior partner da BlueShift, lembra que um dos problemas históricos desta indústria é “viver em circuito fechado”, com as equipas a serem, tradicionalmente, compostas por hoteleiros, mais do que por gestores. Apesar de admitir uma evolução positiva nos últimos anos, com algumas das melhores escolas de gestão nacionais a apostarem mais na formação de talento direcionado para a hotelaria, o consultor defende que a atração, motivação e retenção deste talento requer uma mudança cultural nas organizações, que se baseiam, muitas vezes, em estruturas “muito hierárquicas, baixas remunerações e carreiras lentas”. Por isso, não hesita em dizer que “se as empresas querem atrair talento de topo têm que oferecer carreiras e remunerações compatíveis com essa ambição”. Filipe Santiago reconhece que já se verificam mudanças, até ao nível da gestão de topo de alguns grupos hoteleiros que perceberam que, além de skills operacionais específicas, precisam também de competências de gestão que são mais transversais”, embora haja ainda um longo caminho para percorrer.

Karina Simões

Por sua vez, Karina Simões, Head of Hotel Advisory JLL, acredita que só segue gestão hoteleira “quem nutre uma paixão forte pelo setor pois é uma área exigente que não possui uma remuneração alinhada com o nível de exigência da função”.

Teresa Moreira

Teresa Moreira, manager da Neoturis, afiança que “as empresas que não se atualizarem terão dificuldade em atrair talento, e o seu sucesso será curto”. Já “as mais dinâmicas, que valorizem os seus gestores e se preocupem com o seu crescimento e desenvolvimento porque entendem que estão, na verdade, a apostar na melhoria dos seus próprios resultados, serão as que permanecerão bem-sucedidas e relevantes num mercado cada vez mais competitivo”.

Por Inês Gromicho

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