Continuam a “existir muitas entropias” à evolução dos investimentos hoteleiros em Portugal

“Na base da escolha do investimento a fazer, o racional continuará a ser o mesmo: se é uma localização que nos interessa, se há  potencial ou se permite fazer o tipo de hotel que se enquadra no padrão da nossa marca”. Quem o diz é Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo Vila Galé, que acredita no potencial turístico de muitas regiões de Portugal. Ainda assim, continuam a “existir muitas entropias” à evolução dos investimentos hoteleiros no país.

O primeiro tem que ver com o “fechar a conta”, ou seja, o “aumento dos custos de produção que são absurdos” e a “falta de disponibilidade das empresas de construção em pegar nas obras”. Um bom exemplo são os projetos que a Vila Galé já tem prestes a arrancar nos Açores, Tomar e Alentejo: “Quando lançámos concurso para adjudicar algumas destas obras, não havia empresas e a resposta que nos foi dada é que não há disponibilidade”.

Outra preocupação que já antes da pandemia era uma realidade, tem que ver não tanto com a mão-de-obra necessária ou recursos necessários para a construção, mas sim a operação: “Em 2019, já era um drama a contratação de recursos humanos”. Mas Gonçalo Rebelo de Almeida quis chamar a atenção para o saber separar temas que, muitas das vezes, se confundem: “As condições, o vencimento e a remuneração dos profissionais da hotelaria que vêm sendo justificadas como sendo a razão de não haver gente, com a ausência objetiva de recursos humanos no país”. No entender do empresário, são “dois problemas diferentes”, sendo que a falta objetiva de pessoas é um problema muito mais grave: “É algo sério e demográfico e a tendência demonstra que Portugal vai perder população ativa drasticamente nos próximos 20 anos”. Numa altura em que se “promovem” e se “desenvolvem” novos negócios, o administrador da Vila Galé olha para o “decrescimento” da população ativa como algo dramático “É algo que, por um lado, se resolve a médio e longo prazo com eventuais políticas de incentivo à natalidade e, por outro lado, com uma política de imigração responsável, que permita acolher e que convém acelerar”. Sobre a questão de “melhorar as condições de trabalho”, o empresário reconhece que merece ser debatido, mas que “não pode ser confundido”.

Voltando aos “entraves” já existentes e que condicionam os investimentos hoteleiros, Gonçalo Rebelo de Almeida lamenta os prazos de licenciamento excessivamente longos: “É fácil um projeto demorar mais de um ano a ser aprovado, sem ter nada de especial”. Por isso, continuam a ser “incompreensível” estes atrasos: “Demoramos tanto tempo a aprovar um projeto como a construí-lo”.

[blockquote style=”1”]“É fácil um projeto demorar mais de um ano a ser aprovado, sem ter nada de especial”. Por isso, continuam a ser “incompreensível” estes atrasos: “Demoramos tanto tempo a aprovar um projeto como a construí-lo”.[/blockquote]

Por fim, a “instabilidade legislativa” ou as “alterações legislativas do ponto de vista laboral e fiscal” continuam a ser, também, entraves: “Se eu tenho um projeto de hotel em que faço contas que o retorno venha a 10 ou 15 anos, tenho que ter alguma previsibilidade para fazer uma projeção financeira do retorno deste investimento dentro deste horizonte temporal; se as regras mudam a meio, pode mudar o racional económico que esteve na base do investimento”, sustenta.

[blockquote style=”1”]“Se eu tenho um projeto de hotel em que faço contas que o retorno venha a 10 ou 15 anos, tenho que ter alguma previsibilidade para fazer uma projeção financeira do retorno deste investimento dentro deste horizonte temporal; se as regras mudam a meio, pode mudar o racional económico que esteve na base do investimento”[/blockquote]

Gonçalo Rebelo de Almeida falou no painel “Investidores – Caminho a Percorrer!”, um debate promovido no XVIII Congresso Nacional ADHP (Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal), que decorreu na Escola de Hotelaria e Turismo de Vila do Conde. De 31 a 2 de abril, foram vários os “players” que centraram o debate em torno do tema “Atrair Talento, Recuperar o Setor, Planear o Futuro”.

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