“Investidores – Caminho a Percorrer!” foi o mote para empresários da hotelaria partilharem aquele que foi o ritmo de investimento que estava planeado, mesmo com a pandemia a criar algumas pressões no desencadear dos mesmos. O debate foi promovido no XVIII Congresso Nacional ADHP (Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal), que decorreu na Escola de Hotelaria e Turismo de Vila do Conde, de 31 a 2 de abril.
No caso da Vila Galé, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo, afirma que o ritmo de investimento que estava planeado manteve-se: por um lado, a pandemia que surgiu foi totalmente imprevisível – “já tínhamos três hotéis em fase final de construção” – e os investimentos foram praticamente feitos; por outro, sempre se assumiu a situação como transitória – “o investimento hoteleiro é de médio e longo prazo” – e sabia-se que o ciclo negativo iria terminar. Portanto, deu-se a “conclusão dos projetos” e, de seguida, entrou-se numa segunda fase: “novos planeamentos”. É o caso do resort “Vila Galé Alagoas”, previsto abrir em junho de 2022, ou dos “projetos pendentes” que se encontravam em “fase de licenciamento” e dependentes de “autorizações camarárias”: “Aquilo que fizemos foi fazer menos pressão às entidades para aprovar os projetos e deixámos correr o calendário normal”. Neste momento, tal como indica o empresário, existe a previsão de arrancarem novos investimentos nos Açores, Tomar e numa propriedade do Alentejo: “Mais ou menos, mantivemos o calendário de investimento que estava previsto”, sucinta.
Do lado da Hoti Hotéis, o grupo trabalha em vários modelos de negócio, marcas e conceitos que implicam timings diferentes. Mas, no que diz respeito à Melia Hotels, foi solicitado ao Grupo Hoti Hotéis que promovesse “rebrands profundos” a todos os produtos TRYP mais qualificados: “A pandemia foi o momento adequado para planearmos requalificações bem feitas”, afirma Miguel Proença, administrador do Grupo Hoti Hotéis. Ao nível dos investimentos, o Grupo tem centrado uma parte da sua atividade na “compra de ativos em operação: eram oportunidades que existiam até ao período anterior da pandemia”. Ou seja,” tudo aquilo que estava contratado até fevereiro 2020 em termos bancários executou-se em períodos normais”, mas daí para frente, deixa de existir financiamento bancário, prevendo-se que haja um sentimento de “dificuldade em avançar”.
Tratando-se de investimentos feitos em “ciclos longos” e que envolvem “um número muito grande de stakeholders”, não é fácil parar uma construção hoteleira porque surge uma pandemia: “Os custos de fazer parar qualquer investimento são muito grandes: são custos económicos, financeiros e reputacionais”, afirma Jorge Catarino, Hotel and Real Estate Investment and Asset Management Advisory, que não demonstra surpresa quando vê investimentos hoteleiros a concluírem-se. Acresce que, “quando a pandemia surgiu, ninguém fazia ideia de qual seria a sua duração” e a verdade é que o setor da construção civil não parou: “Portanto, seria uma decisão racional concluir esses mesmos investimentos”. Contudo, face aos 130 hotéis que existirão em pipeline, o consultor vê nesse número alguma “parcimónia (…) devido à incerteza enorme dos custos de construção, dificuldades e impossibilidade de acesso a financiamento ou a rentabilidade associada a capitais próprios que têm de ser reforçados”. Jorge Catarino acredita que existirá “alguma impossibilidade” de se fazer novos desenvolvimentos e que os mesmos gerem os retornos necessários e exigidos pelos investidores: “Parece-me que vai haver um acréscimo dos custos de construção e uma sobrevalorização dos ativos existentes”. Aliás, “vai ser difícil construir a custos históricos”, perspetiva, considerando que “as operações estão a sentir um conjunto de pressões”, marcadas pela “subida de matérias-primas: as margens vão tender a ter alguma compressão, seguindo-se os custos de financiamento também a colocar alguma pressão”.
Apesar de ser essencial “muita criatividade e prudência” por parte dos investidores, João Catarino partilha algum otimismo, no sentido em que, aquele que seria o maior receio não se sucedeu: “O mercado inundado com fortíssimos descontos. Toda a gente cerrou os dentes, os bancos e os investidores aguentaram firme e não houve vendas em bloco e a saldo, algo que permitiu suster os preços”. As previsões são de que, em 2022, haja um “volume invulgar” de transações: “Existe um excesso de liquidez e muito dinheiro, pelo que se conseguirmos controlar as variáveis, os grupos vão continuar a crescer”.
“Atrair Talento, Recuperar o Setor, Planear o Futuro” foi o mote deste 18.º Congresso da ADHP.
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