Entrevista (I): “Vamos continuar com o espírito irreverente e inovador que temos tido”

Gerir boutique hotéis é a missão da Unlock Boutique Hotels que, desde a sua criação, há seis anos, tem vindo a aumentar a sua oferta estando hoje em nove destinos com 16 unidades. Miguel Velez, CEO do Grupo Unlock, é o entrevistado desta edição (Ambitur 339) e garante que o espírito de inovação veio para ficar, no sentido de trazer novas experiências para o mercado. Este ano, a juntar-se ao desafio de captação de recursos humanos, o gestor aponta o problema do abastecimento logístico como outra grande dificuldade, isto sem esquecer que a Covid-19 ainda não desapareceu, com toda a imprevisibilidade que poderá acarretar.

 

Que balanço faz de 2021?

O ano de 2021 acabou por ser muito positivo tendo em conta as envolventes, apesar de nos três/quatro primeiros meses quase não ter havido atividade. Tivemos hotéis que, apesar destas condicionantes, tiveram os seus melhores anos de sempre, por um lado pela pandemia, por outro porque são boutique hotéis, procurados por clientes que querem menos hóspedes num hotel e em ambientes de envolvente natural.

Para a Unlock, ao nível do número de hotéis, acabamos por ter mais três adições ao nível de alojamento para gestão, o que foi um desafio pelo contexto da pandemia e da gestão dos recursos humanos. Estas foram Lavand´eira, Rose Garden House e Albergaria do Calvário. Temos atualmente 16 hotéis, em nove destinos, ao fim de seis anos de atividade.

2021 foi um ano muito desafiante, mas com um saldo muito positivo.

Tanto em 2020, como em 2021, a preocupação foi que os hotéis associados à Unlock conseguissem passar este período (pandemia) em alguns casos claramente positivos, em outros positivos, noutros em breakeven, e naqueles que foram menos positivos, que houvesse o menor impacto possível. Quer isto dizer que a nossa própria forma de remuneração mudou durante a COVID, sempre coordenada com os proprietários dos hotéis, equilibrando o que estes conseguiriam suportar e o que nós precisaríamos para continuar a nossa atividade. A Unlock é uma empresa de gestão, gere hotéis para terceiros. Não perdemos nenhum hotel durante a COVID, pelo contrário, aumentámos o nosso portfólio. Esta é a melhor prova do trabalho que foi feito em conjunto.

 

Quais as linhas gerais do vosso modelo de gestão?

Não há nenhuma empresa a atuar como nós em Portugal. Primeiro, somos uma rede de hotéis que trabalha com uma marca umbrela, basicamente deixámos a identidade de cada um das marcas, e depois temos uma soft brand que trabalha para todos os hotéis. Cada hotel mantém a sua identidade, isso é um ponto fundamental, porque dentro daquilo que é a filosofia da Unlock, de gerir hotéis boutique, em que cada um representa a região, a experiência única, aquilo que é exclusivo, efetivamente o manter o próprio nome dá-lhe exclusividade e autenticidade. Isso é importante para o cliente e para o proprietário do hotel.

Um segundo aspeto: somos muito criteriosos na seleção dos hotéis. Escolhemos hotéis boutique, somente quatro ou cinco estrelas, que proporcionem uma experiência única e diferenciadora ao cliente. Nesse sentido, não conheço nenhuma outra cadeia em Portugal que tenha uma soft brand e que dentro do critério se dirija unicamente aos boutique hotéis e que aqui procure a experiência única naquilo que representa na sua região.

Adicionalmente, os hotéis são de terceiros, a Unlock não tem hotéis, podemos ser sócios de alguns mas, na maior parte, isso não acontece, estes são praticamente detidos por empresas cujo core business não é hotelaria, mas querem estar presentes, problemas de sucessão, em que os filhos não querem continuar com os negócios que eram dos pais e como tal alguém tem de gerir a unidade de forma profissional ou investidores que querem estar presentes na área do turismo e que precisam de uma empresa especializada na gestão. São estes os nossos clientes. Também aqui não conheço outra entidade que tenha em exclusivo estes três eixos. Temos sido procurados por hoteleiros que nos reconhecem a capacidade de gestão e querem o seu investimento remunerado, é uma lógica diferente do que se passava há alguns tempos no mercado.

Se temos uma rede de soft-brand, hotéis de quatro e cinco estrelas todos debaixo de uma mesma filosofia, com acionistas que procuram quase todos o mesmo que é valorizar aquilo que é o seu investimento, seja através do rendimento imediato, seja do futuro, aquilo que depois conseguimos fazer pelos clientes é proporcionar uma rede de hotéis única e exclusiva dentro daquilo que são experiências.

Dentro do que é o universo do que a Unlock faz para com os seus clientes diretos, que são os proprietários dos hotéis, seja com os seus hóspedes, que são os clientes dos próprios hotéis, sendo naquilo que é a preocupação de manter uma linha constante de experiências, não conheço mais nenhuma cadeia que o faça.

O modelo de gestão contratualizado é sempre o mesmo. Gerimos hotéis de terceiros. Basicamente em gestão temos ativos de 60 milhões de euros, que não são detidos por nós, mas por outros. O nosso modelo tradicional é fazermos a gestão completa do hotel. Temos duas unidades que não seguem esta regra, onde fazemos a gestão completa ao nível de marketing, vendas e integração dentro de uma rede de hotéis, mas a gestão operacional é feita pelos próprios proprietários, porque fazia mais sentido, porque os proprietários estão presentes no negócio da atividade e conseguem tirar melhor rendimento do hotel. O que nos preocupa é o que é melhor na ótica da entidade investidora/proprietária e o que é melhor para a solução dos clientes.

 

 

Quais as expectativas/metas para este ano?

Estamos em maio e já abrimos dois hotéis, em Aveiro o 1877 Estrela Palace, o Pure Monchique Hotel, um hotel completamente renovado, nas Caldas de Monchique, e estamos a abrir a Lavand´eira, com um produto completamente diferente do que era anteriormente. Esta é uma reabertura.

No início do ano, as operações correram francamente bem, em alguns hotéis acima de 2019. Essa é a tendência, os resultados serem iguais ou superiores a 2019, com unidades acima dos 80% outras dos 90%, nos últimos 2/3 meses.

Ao nível do que são as nossas expectativas para o verão, sempre comparando com 2019, apesar de em algumas unidades compararmos com 2021 (onde obtivemos os melhores resultados, depende de casa para casa), globalmente falando estamos com reservas acima dos melhores anos de forma transversal.

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