Luís Correia da Silva: “Em 2019, ouvimos críticas de overtourism; em 2020, olhamos com preocupação para destinos sem turistas”

“A pandemia Covid-19 está ainda longe de estar controlada no mundo”. Esta foi uma das reflexões transmitida no webinar “Covid-19 e Turismo: e daqui em diante?”, promovido esta terça-feira pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), que juntou a atual e antigos secretários de Estado do Turismo. Luís Correia da Silva, responsável por esta pasta entre 2003 e 2004, refere que, em Portugal e na Europa, têm vindo a ser “localizados” novos surtos da doença cuja “dimensão ou impacto” são ainda imprevisíveis. 

O impacto da pandemia na economia e inclusive no turismo é um facto: “Veio interromper de forma súbita e inesperada um ciclo de grande crescimento da economia turística, afetando todas as entidades e empresas da cadeia de valor”, diz o responsável, acrescentando que a paralisação da atividade afetou também “milhares de trabalhadores”. No entanto, e pela primeira vez, a pandemia “conferiu uma visibilidade mais generalizada a todos os portugueses da importância e da dimensão do turismo na criação de riqueza e de emprego no país”, vinca. 

Outra realidade é que a retoma do turismo vai ser mais lenta, relativamente a outras entidades produtivas, até porque está “dependente de condições e fatores que Portugal enquanto destino e os seus operadores turísticos não têm capacidade de controlar só por si”. 

Embora a “vontade de viajar tenha sido adiada”, Luís Correia da Silva considera que a mesma não vai diminuir: “A decisão de viajar para outros destinos será tão mais rápida e consequente quanto a perceção de confiança das condições de segurança for conhecida e assumida pelos potenciais turistas”. 

Neste curto-prazo, o trabalho de todos deve assim centrar-se em “tudo fazer” para que ,“internamente”, se minimize as “condições e riscos de alastramento da pandemia”, diz o antigo secretário de Estado do Turismo, reiterando para a importância de uma “informação transparente” e disponibilizada a “todos os operadores turísticos e potenciais turistas” sobre os aspetos relativos às condições de “segurança e higiene” no país e nos seus principais destinos. A “criação de condições” para tornar a “experiência da viagem e chegada ao destino” tão segura o quanto possível é uma premissa que não pode ser esquecida, assim como “garantir que as preocupações e expectativas dos clientes sejam atendidas”. A “flexibilidade nas reservas” é um outro aspeto que pode igualmente determinar a “decisão de viajar” para um destino, atenta o responsável, que não tem dúvidas que “equacionar os riscos e os custos a curto, médio e longo prazo” é fundamental. “Em 2019, ouvimos críticas do que se considerava o overtourism. Em 2020, olhamos com nostalgia e preocupação para as cidades e destinos sem presença de turistas estrangeiros e com a economia local paralisada”, remata.

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