Se, por um lado, a Madeira está a terminar um ciclo de 10 anos na sua estratégia de turismo, como defende Eduardo Jesus, secretário Regional de Turismo e Cultura e presidente da Associação de Promoção da Madeira, à margem da Bolsa de Turismo de Lisboa, quais serão as direções futuras do seu desenvolvimento? O responsável, num pequeno almoço com jornalistas, abordou várias temáticas, desde o novo Plano de Ordenamento da Madeira (POT), à estratégia, predominância da gestão tática, acessibilidades e alojamento local.
Para o responsável “eu insisto, quando se faz um balanço podemos estar a caminhar para um novo ciclo, que até pode começar em 2027 com um novo POT”. Relativamente às decisões da Estratégia e do Plano de Ordenamento de Turismo, o responsável assegura que irão respeitar as datas assumidas, pois foram documentos foram celebrados com 10 anos de vigência, até 2027. Indica Eduardo Jesus que hoje “estamos, acima de tudo, a monitorizar a evolução da Madeira relativamente àquilo que nós tínhamos perspetivado, em termos de indicadores, superámos já os indicadores de 2027, o que poderia acelerar uma tendência para antecipar a nova Estratégia. Mas nós entendemos que a estratégia não deve ser alterada, porque foca na criação de valor no setor”. Indica o orador que estão a ser seguidos os mesmos princípios, o facto de se ter atingido as metas não traz a obrigação da alterar esses princípios, nem a visão da Madeira. Logo, entende que a preocupação que deve assistir ao setor é a tendência para a criação de valor: o valor é que determina.
Recorda o secretário Regional que a Madeira é um espaço pequeno, limitado pela sua condição insular de ilha, por esse motivo têm de ter uma gestão muito equilibrada sobre o território, por isso é que foi decidido, no atual POT, não permitir a construção de novos hotéis com mais de 80 quartos até 2027.
“Isto é tudo uma forma de conter, mas ao mesmo tempo permitir que o que existe possa gerar valor. E com esse valor, julgo que estamos a subir patamares de qualidade e excelência na oferta, que é o caminho que julgamos neste momento adequado”, refere.
Olhando para a frente, considera que a nova estratégia significa implementar a partir de 2027, logo este será um trabalho que tem que ser iniciado eventualmente no segundo semestre deste ano e durante o ano de 2026, “como nós fizemos em relação à atual estratégia, que começou a ser trabalhada um ano e meio antes de estar em vigor”.
Gestão tática
“Mas há aqui um aspecto que me deixa relativamente descansado em relação a esse risco, é que há uma monitorização permanente da evolução do sector. E esse conhecimento do dia-a-dia permite a tomada de decisões, muitas vezes que são táticas, porque este sector também tem muito disso”, defende Eduardo Jesus, acrescentando que “basta uma origem ter um determinado comportamento, para termos que reagir”. Reforça o interlocutor que essa não é uma gestão estratégica, é uma gestão tática: “é de momento, é de substituição, ou de aposta, ou de investimento nessa ordem, para reagir a qualquer tendência que possa estar a ser verificada. Por isso, a gestão muito diária, muito permanente,
muito em cima, permite minorar esse risco.
Por outro lado, refere o responsável, o turismo da madeira trabalha com uma grande abertura em relação a todas as possibilidades que os mercados lhes dão e o facto de terem um grande número de aeroportos e de ligações aéreas não significa que estejamos bem acomodados: “isso para nós não é suficiente, é a expressão de uma realidade”. Exemplifica então “temos agora, em 7 de junho, a nova operação da United, que vem de Nova Iorque, Newark, para a Madeira, voo direto, três vezes por semana. É uma operação que, do lado da América, vai permitir suprir uma deficiência que nós tínhamos. Tentamos essa operação pela SATA. Existiu, durante algum tempo, o voo direto. Agora, existe esse mesmo voo, mas com paragem imperial, em Ponta Delegada, o que não é a mesmíssima coisa, porque em termos de comercialização não tem o mesmo interesse”. Sendo assim, considera que a United surge num momento muito bom. Mas essa é só uma das novidades. A Madeira assiste ao retomar de Bruxelas, a 5 de abril, em voo direto. A EasyJet começa a voar de Luton e de Nantes. A Jet2, também de Luton e de Bournemouth. A Ryanair volta a reforçar a operação da Madeira, com Milão, Itália, Shannon, Irlanda, e Edinburgh, da Escócia.
Refere o secretário Regional que “isto não surge por acaso”, porque há sempre um trabalho, no que diz respeito às companhias aéreas, que é tripartido, Governo Regional da Madeira, através da Associação de Promoção, Turismo de Portugal e Ana Aeroportos. “Este trio é o trio de trabalho nesta área. E há aqui um trabalho permanente”, acentua.
Mais uma vez considera o interlocutor que estamos no campo da gestão tática: “temos a informação das companhias, se as operações estão boas, se não estão boas, se é preciso mais investimento promocional, se não é preciso. Se por razões diferentes destino, há opções em que aquela rota vai sofrer uma alteração, que precisam de um aparelho aéreo para um sítio qualquer, etc. Tudo isto é acompanhado. E vai, naturalmente, permitir que não se dependa apenas do mercado, que é o objetivo é esse. Hoje a Madeira tem uma diversidade de origens que é incrível”.
A Madeira trabalha hoje com 28 mercados diferentes, onde se salienta a Polónia no 5o lugar sempre a crescer. “E a crescer a dois dígitos nos últimos anos. Este foi um mercado que emergiu e de emergente passou a Top 5. Há uma explicação: por um lado a situação económica da Polónia e o interesse do ocidente europeu para a Polónia. Temos tido operações há muitos anos na Polónia, que eram operações, comedidas, mas de repente despertaram o interesse dos operadores”.
Acrescenta o orador que na gestão do destino tem que haver um cuidado de não dependência de poucas origens. Principalmente no cenário em que “nos encontramos de uma grande imprevisibilidade face ao que possa acontecer na Europa. Em termos de dependência planetária, dependemos da Europa. Nós só temos, fora da Europa, com voo direto, só os Estados Unidos. Os Estados Unidos representam 3% em hóspedes”. Indica ainda o interlocutor que a madeira terá uma operação este ano nova para a Islândia, com a Play, que começou a voar direto.
Alojamento local
O secretário Regional de Turismo e Cultura abordou seguidamente o alojamento local, considerando que o POT prevê algumas medidas, se o alojamento local crescer numa determinada tendência. Mas acrescenta que “o que se coloca aqui em confronto é que o alojamento local é uma competência municipal e isto é lei nacional. Os municípios é que têm essa responsabilidade, não só de licenciamento, mas também na área da fiscalização e o alojamento tradicional é uma competência do governo regional. Onde nós podemos limitar, de facto, o crescimento, é no alojamento tradicional. E aí limitamos a 40 mil camas”.
Recorda o responsável que ainda não foi atingido esse número, esse valor. Mas o alojamento local tem vindo a crescer e hoje já está par com o alojamento tradicional. A Madeira terá 60 mil camas, em regra 50% é alojamento local.
Acrescenta Eduardo Jesus que “o governo não consegue controlar o aparecimento de novas unidades de alojamento local. No entanto, existe trabalho feito com as autarquias, nomeadamente no sentido de aclarar algumas ideias. Uma delas tem a ver com isto. Existem dois indicadores que para nós são importantes e que são definidos pela Organização Mundial do Turismo que têm a ver com a intensidade turística e têm a ver com a densidade turística”. Significa isto que “um é a relação de quem nos visita com a população, outro é a relação de quem nos visita com a área/metros quadrados. E a partir de um determinado índice, há uma subcarga sobre o território. O que nós temos estado atentos até este momento é compararmos com os destinos que são comparáveis com a madeira e saber se estamos melhores ou piores”.
Considera o secretário Regional que nisso a Direção Regional de Estatística desenvolve um trabalho muitíssimo bom que compara o radar do turismo, que compara estas origens nesta perspetiva. “Estamos longe da questão da carga, o que por um lado alivia, mas por outro lado obriga-nos a pensar. E o que nós temos referido é o seguinte. Nunca se pode pôr em causa os residentes em função do turismo. Caso contrário, estamos a hipotecar o sector turístico. Então, começar a olhar para o conflito que pode existir do alojamento local com os residentes. E isso significa olhar para os prédios de habitação
primeiro”.
Salienta ainda, que depois, utilizando estes dois índices da intensidade e da densidade, significa trazê-los a uma malha mais fina, que significa a malha das freguesias, e dentro de cada freguesia calcular este índice. E então decidir se eu na freguesia A tenho excesso, na freguesia B não tenho, nesta não é possível mais, naquela é possível. Ir gerindo o território numa escala bastante pequena.
E as autarquias têm mostrado essa sensibilidade? Responde Eduardo Jesus que sim. “No entanto, há calendários eleitorais que estão em curso e que naturalmente também têm preponderância no momento da decisão. Eu julgo que se deve salvaguardar sempre um efeito que é incontornável do alojamento local e que nenhuma outra oportunidade fez tanto como o alojamento local, que é a reabilitação urbana. Reabilitar um prédio para explorar em alojamento local permite reabilitá-lo”. Reforça o responsável que “se for para reabilitar para outra função qualquer, os prédios ficam fechados e ficam aqui e não conseguem retorno. Portanto, quando está em causa numa freguesia, isto é a minha opinião, numa freguesia, um edifício que tem interesse histórico, pode ser uma reabilitação urbana com interesse histórico e que ainda assim já há alojamento local a mais dessa freguesia, este deve ser feito. Agora, se calhar, não se deve licenciar dentro de prédios onde habitam pessoas, porque aí é que há conflito”.
Chama a atenção o orador que é preciso ter a noção do seguinte: no caso da Madeira, imaginem o que era de 2012 para agora, quando surgiu o alojamento local, a duplicação dos hotéis da Madeira. Imaginem o que era a pressão sobre aquele território? “Para não falar em termos de infraestruturas, ainda estávamos em obras com certeza para o saneamento básico, para o abastecimento de água e para tudo mais alguma coisa. O alojamento tem esta vantagem, que é pegar no que existe, boa parte do que já existe e dar uma função diferente, mas não deixa apagada no retorno. Nos pontos onde massacra, é preciso atuar, sem dúvida alguma. Mas isto é como tudo. Há duas posturas na vida”. Considera então que “ou eu lidero o processo e sou eu que sou eu que tomo decisões ou eu abandono esta ideia e reajo. E quando se reage, já não somos nós a mandar”.
Concluindo, Eduardo Jesus enfatiza “é preciso gerir e e nos momentos que são conflitos, é preciso olhar para eles. Tudo tem vantagens e desvantagens”.
Por Pedro Chenrim
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