Por Joaquim Robalo de Almeida, secretário geral da ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos
O Turismo é uma das mais dinâmicas atividades económicas do mundo contemporâneo. Representando cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global, é também responsável por centenas de milhões de empregos diretos e indiretos, em setores que vão da hotelaria ao comércio, da cultura aos transportes. Em Portugal, este impacto é ainda mais significativo: o turismo representa mais de 15% do PIB nacional e é uma das principais fontes de entrada de divisas, promovendo o crescimento económico, o investimento estrangeiro e o desenvolvimento regional.
Contudo, o sucesso económico do Turismo tem um custo ambiental crescente. A sua pegada ecológica expressa em emissões de gases com efeito de estufa, consumo intensivo de água e energia, geração de resíduos e degradação de ecossistemas está hoje sob escrutínio. As alterações climáticas, a pressão sobre os recursos naturais e os fenómenos de sobrecarga urbana (“overtourism”) colocam em causa a sustentabilidade do próprio setor, que depende da preservação dos destinos que promove.
Portugal entre a atratividade turística e os limites ambientais
Portugal tem-se afirmado como um dos destinos turísticos mais desejados da Europa. Lisboa, Porto, Algarve, Madeira e Açores recebem anualmente milhões de visitantes, atraídos pela diversidade paisagística, património histórico, clima ameno e hospitalidade. Mas este sucesso não está isento de riscos: a pressão sobre os centros históricos, a escassez de habitação acessível nas zonas turísticas, o aumento da poluição e de pessoas criam tensões que exigem respostas estratégicas.
o rent-a-car é hoje um dos principais suportes logísticos do turismo em Portugal. Esta dimensão confere-lhe também uma responsabilidade acrescida na transição ecológica
As autoridades portuguesas têm procurado alinhar a promoção do turismo com os princípios da sustentabilidade. A Estratégia Turismo 2027, o Plano de Ação para o Turismo Responsável e os projetos de certificação ambiental dos destinos são passos relevantes. No entanto, o verdadeiro teste está na capacidade de converter boas intenções em ações concretas, duradouras e com impacto mensurável.
Rent-a-car: um elo vital e estratégico na mobilidade turística
É neste contexto que o setor do rent-a-car assume uma importância crescente. Com presença estruturante em todos os grandes pontos de entrada no país como aeroportos, estações ferroviárias e zonas turísticas, o rent-a-car assegura a mobilidade de milhões de turistas nacionais e estrangeiros, permitindo o acesso a regiões menos servidas por transportes públicos e promovendo a coesão territorial.
Durante a última década, o setor conheceu um crescimento notável, acompanhando a expansão do turismo. Com mais de 125 mil veículos em circulação nos meses de Verão e um papel determinante no escoamento da procura, o rent-a-car é hoje um dos principais suportes logísticos do turismo em Portugal. Esta dimensão confere-lhe também uma responsabilidade acrescida na transição ecológica.
Descarbonização da mobilidade turística: o papel de liderança do setor
A eletrificação da frota de rent-a-car é uma das mais promissoras vias para reduzir as emissões associadas ao Turismo. Ao disponibilizar veículos elétricos e híbridos a milhões de turistas, o setor não só reduz a sua pegada carbónica, como funciona como instrumento de educação ambiental e de familiarização com tecnologias limpas.
O rent-a-car, neste sentido, torna-se um agente multiplicador da mobilidade sustentável, capaz de acelerar a adoção de práticas amigas do ambiente a uma escala global
Esta capacidade de influência é única. O turista que aluga um carro elétrico ou hibrido em Portugal e tem uma experiência positiva com boa autonomia, facilidade de carregamento e condução confortável estará mais predisposto a adquirir um veículo semelhante no seu país de origem. O rent-a-car, neste sentido, torna-se um agente multiplicador da mobilidade sustentável, capaz de acelerar a adoção de práticas amigas do ambiente a uma escala global.
Tal como o automóvel transformou a mobilidade urbana e rural no século XX, abrindo caminhos de liberdade, progresso e desenvolvimento económico, o setor do rent-a-car pode ser, no século XXI, o porta-estandarte da mobilidade verde. A transição energética que hoje se impõe, baseada na eletrificação, na digitalização e na economia circular encontra neste setor um aliado natural e altamente operacional.
Desafios persistentes e soluções emergentes
Apesar dos avanços significativos registados na transição energética do setor do rent-a-car, persistem obstáculos estruturais que dificultam uma descarbonização plena e célere da mobilidade turística:
- Rede de carregamento ainda claramente insuficiente, particularmente em destinos turísticos de baixa densidade, zonas interiores e percursos de elevada sazonalidade, onde a escassez de postos rápidos e ultrarrápidos compromete a experiência do utilizador e restringe a operacionalidade das frotas.
- Custos de aquisição, manutenção e substituição mais elevados, agravados pela volatilidade dos preços e pela necessidade de atualização tecnológica constante, o que pressiona as margens das empresas num setor caracterizado por forte concorrência, grande sensibilidade ao preço e acentuada sazonalidade da procura.
- Défice de políticas públicas específicas e de incentivos fiscais dirigidos à mobilidade turística sustentável, que integrem o rent-a-car nos programas nacionais de transição ecológica, ao invés de o relegar para uma posição periférica no desenho das estratégias de descarbonização.
Enfrentar estes desafios requer uma resposta sistémica, articulada e transversal, assente numa parceria estratégica entre o Estado, os municípios, os fabricantes automóveis, os operadores de energia, os agentes turísticos e as empresas de rent-a-car. Esta aliança deve traduzir-se em medidas concretas e eficazes, entre as quais se destacam:
- A atribuição de incentivos fiscais robustos e estáveis à renovação da frota com veículos de baixas ou zero emissões, incluindo benefícios ao nível do IVA, ISV e IUC, bem como regimes de depreciação acelerada ajustados à realidade operacional do setor;
- O reforço da infraestrutura de carregamento público e semipúblico, com prioridade para áreas turísticas e corredores de alto tráfego, através de programas de financiamento dedicados, simplificação de licenciamento e estímulo à interoperabilidade entre operadores;
- A integração efetiva do rent-a-car nas políticas nacionais e regionais de mobilidade sustentável, reconhecendo o seu papel como elo central entre turistas e território, com impacto direto na escolha de soluções de transporte limpas;
- A criação de instrumentos de apoio à digitalização e otimização da gestão de frotas, potenciando a eficiência energética, a redução de emissões e a melhoria da experiência do cliente;
- E, finalmente, a valorização institucional do setor enquanto agente estratégico da descarbonização do turismo, através da sua inclusão nos fóruns de planeamento e nas plataformas colaborativas do setor da mobilidade e energia.
Com uma visão partilhada e compromissos claros, é possível transformar estes constrangimentos em vetores de inovação e diferenciação competitiva, tornando o rent-a-car não apenas num serviço de conveniência, mas num catalisador de mobilidade inteligente, sustentável e alinhada com os desafios do século XXI.
Conclusão: para um novo paradigma turístico
O turismo do futuro terá de ser ambientalmente regenerador, economicamente equilibrado e socialmente inclusivo. A transição não será espontânea: exige investimento, inovação, visão estratégica e coragem política. O setor do rent-a-car, com a sua capilaridade territorial, agilidade operacional e vocação para servir o cliente internacional, está em posição privilegiada para liderar esta transformação.
Portugal, pela sua dimensão, localização e experiência acumulada, pode e deve ser um laboratório de referência da mobilidade sustentável no turismo, projetando internacionalmente o exemplo de um país que soube crescer respeitando o ambiente.
Este artigo foi publicado na edição 353 da Ambitur.






















































