Por Paulo Brehm, Consultor
Fala-se cada vez mais de sustentabilidade; que bom! Apesar disso, infelizmente, em muitas organizações a sustentabilidade continua a ser tratada como um apêndice – uma nota de rodapé nos relatórios, um selo visualmente apelativo, mas vazio de conteúdo (btw, atenção à nova diretiva sobre greenwashing) e sem qualquer reconhecimento por parte dos clientes. Continua a ser, frequentemente, uma responsabilidade acrescentada a um departamento ou, mais grave, a uma só pessoa já sobrecarregada com muitas outras tarefas. No setor do turismo, como noutros, a sustentabilidade é ainda vista por muitos dos responsáveis como uma moda passageira – «vamos esperar que passe depressa» –, uma exigência incómoda de alguns clientes internacionais ou corporativos – «que chatice» –, ou então, no extremo oposto, como uma iniciativa de marketing para acrescer à lista de clientes o crescente mercado de viajantes mais conscientes – «vamos conquistar os verdes». O que ela ainda não é, infelizmente, é o que precisa de ser: uma cultura enraizada.
Entretanto, as condições de vida no planeta continuam a degradar-se. O clima está – mesmo – a mudar, e para pior. Ainda assim, muitos seguem tranquilamente com a sua rotina, confiando que «alguém há de fazer alguma coisa» para que os seus filhos ou netos não venham a pagar a fatura. Outros, preferem lavar as mãos, escudando-se na ilusão de uma autodesignada irrelevância: «de que vale o meu esforço, se mais ninguém o faz?!». Agora, com os ventos que nos chegam do governo do outro lado do Atlântico, ainda mais uma… «Com o Trump, de que vale?!». Tudo «desculpas» que constituem um grande erro de avaliação, mas com consequências bem reais.
Para algumas empresas – ainda poucas, é certo – o momento da epifania já chegou. O dia em que a liderança acordou e, ao pequeno-almoço, percebeu – ou finalmente assumiu – que a sustentabilidade não é uma escolha: é uma condição para continuar a existir. Como costumo dizer, «um imperativo de consciência!». Mais do que isso: é um caminho para criar valor, reduzir riscos, motivar equipas, aceder a melhores condições de financiamento, atrair talento e conquistar mercados. Não é um adereço. É estrutura.
Esse despertar, que tantas vezes se inicia – e bem – com a adesão a um processo de certificação, desencadeia um movimento mais profundo: o reconhecimento de que a sustentabilidade é transversal. Não pertence apenas ao departamento de qualidade ou ao marketing. Pertence a toda a organização – à direção financeira e à logística, aos recursos humanos e às vendas, às operações e à liderança. Todos, sem exceção, têm de o interiorizar.
Há pequenas ações que, no início, podem parecer banais: medir o consumo energético, reduzir desperdícios, promover a mobilidade sustentável dos colaboradores. Outras exigem visão e coragem: reavaliar cadeias de fornecimento, rever o portefólio de produtos, repensar o modelo de negócio. Mas todas fazem parte da mesma construção: a de uma empresa que se quer resiliente, relevante e responsável.
Claro que há desafios. A gestão do tempo, o investimento necessário, a resistência à mudança, a complexidade técnica, o receio de não fazer bem. Mas há também apoios, metodologias, formação, bons exemplos. Ninguém tem de começar do zero – e ninguém precisa de estar sozinho neste caminho. Interna ou externamente, há sempre soluções.
A verdadeira mudança acontece quando a sustentabilidade deixa de ser um projeto e passa a ser um princípio. Quando se incorpora nas decisões quotidianas, nos critérios de sucesso, nos sistemas de incentivos, nas conversas de corredor. Quando deixa de ser «a sustentabilidade» e passa a ser «a forma como trabalhamos aqui».
O despertar da empresa para a sustentabilidade pode acontecer hoje. E tudo o que fizer a partir desse momento fará toda a diferença.
Vai continuar a ignorar? Vai agir? Vai dar o primeiro passo? Ou vai deixar ultrapassar-se e deixar que o negócio perca valor, relevância e futuro?
Pense Sustentabilidade!






















































