Por Ana Jacinto, Secretária-Geral da AHRESP
Sem destinos saudáveis, não há turismo viável. Pode parecer uma afirmação taxativa, mas é essencial dizê-lo com toda a clareza. O turismo é uma das maiores forças económicas de Portugal — gera emprego, receita, valoriza os territórios e reforça a nossa projeção internacional. Preservar esta fonte preciosa de desenvolvimento é, por isso, uma responsabilidade coletiva e estratégica.
Contudo, não podemos continuar a olhar para a sustentabilidade apenas pela lente ambiental. O futuro do turismo — e da economia que o sustenta — exige uma abordagem integrada, assente no equilíbrio entre três dimensões indissociáveis: ambiental, económica e social. Só com este tripé bem consolidado será possível garantir competitividade, inclusão e capacidade de resposta aos desafios do presente e do futuro.
O futuro do turismo — e da economia que o sustenta — exige uma abordagem integrada, assente no equilíbrio entre três dimensões indissociáveis: ambiental, económica e social.
É fundamental evoluir de um modelo de crescimento baseado no volume para um modelo centrado no valor. Um modelo onde a atividade turística seja regenerativa, com impacto positivo nos territórios e no bem-estar de quem visita, mas também de quem lá vive e trabalha. Isso implica cuidar dos recursos naturais, sim — mas também assegurar a viabilidade dos negócios e garantir condições dignas, formação contínua e perspetivas de evolução para os trabalhadores.
Nos setores do alojamento e da restauração — pilares fundamentais da nossa oferta turística — os desafios são cada vez mais exigentes: reduzir o uso de plásticos descartáveis, combater o desperdício alimentar, melhorar a eficiência energética e hídrica, apostar na economia circular e, simultaneamente, qualificar as equipas e valorizar os produtos locais. Mas esta transição só será possível com apoio técnico, conhecimento e financiamento adaptado à realidade das micro, pequenas e médias empresas que compõem o tecido empresarial português.
Na AHRESP temos apostado numa intervenção estruturada. A nossa Academia promove formação especializada e ações de capacitação com foco nos critérios ESG e nas boas práticas de gestão ambiental. Em parceria com o Turismo de Portugal, elaborámos dois guias práticos para os setores do alojamento e da restauração e temos realizado várias sessões de esclarecimento com a APA, sempre com o objetivo de facilitar a vida dos empresários e apoiar o cumprimento da legislação.
A nossa Academia promove formação especializada e ações de capacitação com foco nos critérios ESG e nas boas práticas de gestão ambiental.
A vertente económica da sustentabilidade exige também um olhar atento sobre os instrumentos de apoio.
Muitas PME não têm estrutura nem maturidade técnica para responder aos requisitos das linhas de financiamento.
Precisam de incentivos ajustados à sua escala, processos simplificados e acompanhamento de proximidade. Sem este cuidado, a transição ecológica corre o risco de se tornar mais uma fonte de desigualdade.
A sustentabilidade social também não pode ser esquecida. Um turismo responsável é aquele que gera emprego com direitos, respeita a cultura e a identidade dos territórios e promove a coesão. Projetos que envolvem as comunidades na construção da experiência turística, que dinamizam os centros históricos e valorizam os saberes locais — são estes os alicerces de um turismo verdadeiramente sustentável.
Outro ponto essencial é a coesão territorial. A concentração do turismo em poucos destinos cria pressão sobre as infraestruturas e compromete o equilíbrio ambiental e social. É urgente descentralizar, valorizar os produtos regionais e envolver as comunidades. E isso exige uma abordagem integrada e colaborativa.
é essencial fomentar a cooperação entre setores: produtores locais, empresas de transporte, entidades de certificação, universidades e associações empresariais devem trabalhar em conjunto
Por isso, é essencial fomentar a cooperação entre setores: produtores locais, empresas de transporte, entidades de certificação, universidades e associações empresariais devem trabalhar em conjunto. Só assim se constroem cadeias de valor verdadeiramente sustentáveis, com impacto coletivo e duradouro.
A digitalização é outro pilar desta transformação. Ferramentas como os sistemas E2R (Eficiência, Redução, Rentabilidade) já permitem monitorizar consumos de energia, reduzir desperdícios e tomar decisões mais inteligentes — com ganhos diretos para o ambiente e para a tesouraria.
Hoje, mais do que nunca, o consumidor quer saber o que está a apoiar com o seu consumo. Exige autenticidade, responsabilidade e compromisso. A sustentabilidade deixou de ser uma opção — é um imperativo ético, ambiental e económico. E um fator decisivo de competitividade. Cabe-nos responder com clareza, com ação e com visão. Porque bons negócios pedem boas práticas. E o turismo que queremos para o futuro começa pelas decisões que tomamos hoje.
Este artigo foi publicado na edição 353 da Ambitur.























































