Por Maria Mota Almeida, com a colaboração de Sílvia Quinteiro, autoras do livro do livro Turismo Literário – Construção e Exploração de Roteiros (PACTOR)

O Dia Mundial do Turismo constitui um momento privilegiado para refletir sobre a diversidade de práticas turísticas e sobre a sua relevância para o desenvolvimento sustentável das comunidades. Entre as modalidades emergentes, o turismo literário assume um papel cada vez mais expressivo, convocando a palavra escrita como chave de leitura do território e como catalisador de experiências culturais diferenciadas. Mais do que efetuar uma simples visita a lugares referidos em obras literárias, este tipo de turismo convida o viajante a (re)descobrir espaços através da imaginação, da memória e da narrativa.

Em Portugal, a consolidação de roteiros literários contribui para descentralizar fluxos turísticos, valorizar regiões de baixa densidade e dinamizar a economia cultural local. O itinerário de Teixeira de Pascoaes em Amarante, o Roteiro Vergílio Ferreira em Gouveia, o percurso inspirado em O Conspirador, de Branquinho da Fonseca, em Marvão, ou a Rota Literária do Algarve exemplificam o modo como o turismo literário pode reforçar a identidade cultural, mesmo em lugares periféricos e afirmar-se como dispositivo de pertença e reflexão. Estas experiências demonstram que um roteiro literário não é mero exercício de ilustração, mas sim uma proposta interpretativa e sensorial que aproxima leitores-viajantes das comunidades que habitam os espaços visitados.
A investigação académica recente tem aprofundado de forma significativa o estudo do turismo literário, produzindo instrumentos conceptuais e metodológicos que permitem compreender o fenómeno e orientar a sua implementação. Essa reflexão teórica encontra expressão em múltiplos trabalhos que analisam a relação entre literatura, território e turismo, sublinhando a necessidade de práticas responsáveis e sustentáveis. Em paralelo, a investigação aplicada tem vindo a demonstrar como esses princípios se podem concretizar em experiências inovadoras. Projetos como TheRoute, desenvolvidos em contexto académico português, exemplificam a forma como a combinação entre património literário, storytelling digital e tecnologia inteligente pode potenciar novas formas de fruição turística, ajustadas a diferentes perfis de viajantes. A partir desta articulação entre teoria e prática, emergem também propostas de sistematização e de transferência de conhecimento. A obra Turismo Literário: Construção e Exploração de Roteiros constitui, neste âmbito, um contributo decisivo: um manual que organiza metodologias, apresenta orientações operacionais e estabelece princípios que asseguram a preservação da profundidade literária quando integrada em produtos turísticos.
Hoje, mais do que nunca, o turismo literário emerge como resposta concreta aos desafios que se colocam ao setor: diversificação da oferta, sustentabilidade, inclusão de públicos heterogéneos e reforço das identidades culturais. Ao convocar autores, leitores e comunidades para um mesmo percurso, esta prática projeta a literatura como matriz de cidadania cultural e como motor de desenvolvimento territorial. No Dia Mundial do Turismo celebrar esta interseção entre palavra e viagem é também reconhecer que o futuro do turismo se constrói em diálogo com a memória, a imaginação e a capacidade de narrar lugares de forma inovadora e sensível.
Maria Mota Almeida
Professora Adjunta na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). Desenvolve investigação nas áreas de Museologia, Património Cultural e Turismo Cultural e Literário. Colabora com redes e projetos internacionais, nomeadamente com a Rede Entremeio da Universidade Federal do Rio de Janeiro; investigadora integrada no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade NOVA de Lisboa; investigadora colaboradora no CIAC da Universidade do Algarve, no Grupo de Investigação em Literatura e Turismo – Lit&Tour e no Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo (CiTUR – Polo Estoril); Coautora do livro Turismo Literário – Construção e Exploração de Roteiros (PACTOR).
Sílvia Quinteiro
Professora Coordenadora na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. Investigadora integrada do CIAC da Universidade do Algarve, onde coordena o grupo Lit&Tour. Colabora com redes e projetos internacionais, como a Rede Entremeio da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o projeto LITESCAPE.PT – Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental e o projeto RuTIC das Universidades de Valência e Barcelona. Co-coordenou a criação da Rota Literária no Algarve e foi membro das equipas que elaboraram a Rota Literária Saramago no Algarve e a RuTIC; Coautora do livro Turismo Literário – Construção e Exploração de Roteiros (PACTOR).






















































