#REVIVE: O património como âncora de desenvolvimento das regiões

Convento de S. Paulo, em Elvas, deu lugar ao Vila Galé Collection Elvas, que abriu em junho de 2019.

Portugal apresenta um património imobiliário público que diz muito acerca da identidade histórica, cultural e social do país. Foi com o objetivo de valorizar e dar a conhecer este ativo presente em todo o território nacional que o Governo criou o Programa REVIVE, abrindo o património ao investimento privado para o desenvolvimento de projetos turísticos. Imóveis abandonados e, muitas vezes, em ruínas ganham assim um novo propósito, funcionando como âncoras de atração às regiões, gerando riqueza e postos de trabalho. Ambitur falou com a secretaria de Estado do Turismo para ficar a par dos objetivos deste programa, que tem já novos concursos previstos. E são vários os empresários que estão hoje a desenvolver alguns desses projetos e que nos explicaram o que os motivou a concorrer às concessões já lançadas e em que fase estão hotéis. A pandemia acabou por atrasar outros projetos e alguns empresários optaram por não falar já do que está previsto para os imóveis concessionados, preferindo remeter para uma fase posterior todos os detalhes.

Coudelaria de Alter, em Alter do Chão, antes de ser transformada no Vila Galé Collection Alter Real, que abriu portas em junho de 2020.

O Programa REVIVE já está em curso desde 2016 e procurou desde o início recuperar edifícios que se encontravam degradados para fins turísticos. Reconhecendo que este património público é “um elemento rico e diferenciador para a atratividade das regiões e para o desenvolvimento do turismo”, o gabinete da secretária de Estado do Turismo esclarece que o objetivo desta iniciativa conjunta dos Ministérios da Economia, da Cultura, da Defesa e das Finanças é promover e agilizar processos de reabilitação e valorização de património público que se encontra devoluto. Com isto se promove o reforço da atratividade dos destinos regionais, a desconcentração da procura e o desenvolvimento do turismo nas várias regiões do país, gerando não só riqueza e postos de trabalho como também contribuindo para a coesão económica e social do território. Os imóveis ganham assim uma nova vida e são devolvidos aos cidadãos, passando a ser verdadeiras âncoras de desenvolvimento local e criando novas dinâmicas económicas.

[blockquote style=”1″]Reconhecendo que este património público é “um elemento rico e diferenciador para a atratividade das regiões e para o desenvolvimento do turismo”, o gabinete da secretária de Estado do Turismo esclarece que o objetivo desta iniciativa conjunta dos Ministérios da Economia, da Cultura, da Defesa e das Finanças é promover e agilizar processos de reabilitação e valorização de património público que se encontra devoluto.[/blockquote]

Neste momento, foram já colocados a concurso 26 imóveis integrados no Programa REVIVE, e assinados 20 contratos de concessão. Até à data, as concessões adjudicadas representam um investimento privado em património público estimado em cerca de 142,5 milhões de euros, e rendas anuais na ordem dos 2,5 milhões de euros.

Rita Marques, secretária de Estado do Turismo

Do gabinete da secretaria de Estado do Turismo confirmam-se que estão já em exploração duas unidades hoteleiras: no Convento de S. Paulo, em Elvas, e na Coudelaria de Alter, em Alter do Chão, ambos concessionados ao Grupo Vila Galé. Por sua vez, diz a mesma fonte, o Mosteiro de Arouca e o Mosteiro de Santa Clara em Vila do Conde encontram-se em “fase avançada de obra”, devendo iniciar exploração em 2022. Outros projetos deverão entrar em exploração em 2023. Mas a verdade é que a pandemia, e as subsequentes medidas de contenção da propagação do vírus na atividade turística e na capacidade financeira das empresas turísticas vieram prejudicar o desenvolvimento de vários projetos e investimentos, e em algumas concessões justificou-se a autorização para prorrogação de prazos contratuais, explica o gabinete.

[blockquote style=”1″]a pandemia, e as subsequentes medidas de contenção da propagação do vírus na atividade turística e na capacidade financeira das empresas turísticas vieram prejudicar o desenvolvimento de vários projetos e investimentos, e em algumas concessões justificou-se a autorização para prorrogação de prazos contratuais[/blockquote]

Atualmente, encontram-se abertos dois concursos, nomeadamente, o Forte de S. Pedro e o Forte de S. João, em Cascais, a decorre o prazo para apresentação de propostas. Seguem-se os concursos da Casa Grande em Pinhel, da Bateria do Outão em Setúbal, do Quartel das Esquadras em Almeida e um novo concurso do Colégio de S. Fiel em Castelo Branco, já que o anterior ficou deserto, explica a secretaria de Estado do Turismo, havendo agora “condições mais adequadas a suscitar o interesse dos investidores. Mas o Governo estará já a avaliar várias outras sugestões de Entidades Regionais de Turismo de novos imóveis que poderão vir a integrar uma terceira fase do REVIVE, cujo lote de imóveis será oportunamente divulgado.

[blockquote style=”1”]Mas o Governo estará já a avaliar várias outras sugestões de Entidades Regionais de Turismo de novos imóveis que poderão vir a integrar uma terceira fase do REVIVE, cujo lote de imóveis será oportunamente divulgado.[/blockquote]

O interesse dos privados

Gonçalo Rebelo de Almeida, Vila Galé

Tudo explicado da parte pública, falta agora perceber o que tem motivado os investidores privados a concorrer aos concursos lançados no âmbito do Programa REVIVE. E começamos pela Vila Galé, cujos projetos são os únicos que, neste momento, se encontram já operacionais. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo hoteleiro, explica que a decisão de entrar no concurso dos dois projetos – o antigo Convento de S. Paulo que deu origem ao Vila Galé Collection Elvas, e a Coudelaria de Alter do Chão onde funciona hoje o Vila Galé Collection Alter Real – se justifica pelo facto de materializarem dois dos grandes desígnios da Vila Galé: apostar no interior do país, contribuindo para o seu desenvolvimento e redução das assimetrias, e recuperar património histórico. “Acreditamos que, enquanto empresa portuguesa, com boa solidez financeira, também temos um papel a cumprir na criação de novos polos turísticos em Portugal – muitas vezes investindo em zonas onde os fluxos ainda não estão consolidados –, no contributo para o desenvolvimento regional, revitalização das cidades e dos centros históricos, e na geração de emprego”, sublinha o empresário. E acrescenta que a cadeia hoteleira vê também muito potencial “na reabilitação e valorização do património histórico que estava degradado, dando-lhe uma nova utilização e uma nova vida”, conseguindo assim manter viva a história do local e proporcionar “uma experiência diferenciadora a quem se aloja nestes hotéis”.

Miguel Caldeira Proença. Hoti Hotéis

Outro grupo hoteleiro que também já avançou para o REVIVE, concretamente para o Palacete do Conde Dias Garcia, é a Hoti Hotéis, e Miguel Caldeira Proença, CEO da cadeia, acredita que se trata de um programa “no qual revemos grande valor, pelo que representa de esforço de organização entre o Estado, autarquias e instituições públicas, no sentido de colocarem nas mãos do setor privado património com algum valor histórico para os quais não têm meios para cuidar, fazendo-o de forma temporária e de forma responsável”. E sublinha que esta cedência temporária não só garante a preservação de estruturas históricas como também é uma forma de capitalizar efetivo valor que, só pelo uso turístico, é percebido. A Hoti Hotéis admite que, estando asseguradas as condições de localização, bem como a dimensão mínima para operar seguindo os seus standards, terá interesse em reforçar a participação no REVIVE.

Hercílio Costa, Grupo Diver

Também o Grupo Diver afirma estar sempre sempre disponível para analisar situações que possam proporcionar novas experiências aos clientes e está, por isso, atento a outros imóveis que possam ser colocados a concurso pelo REVIVE. Hercílio Costa, diretor de Marketing do grupo que ganhou a concessão do Forte da Ínsua, garante que o que levou a empresa até ao programa “foi a nossa busca constante por desafios que nos permitam criar experiências diferenciadoras para os nossos clientes”. E explica que em todos os projetos do grupo existe uma preocupação de envolver as comunidades locais, contribuindo para a empregabilidade local mas também para a dinamização de outros negócios com acordos de fornecimento oud e parceria. “A economia local está já a ganhar com a nossa capacidade de atrair turismo para visitas históricas ao forte ou para participar no Escape Room que já temos em funcionamento no local”, frisa ainda.

Bernardo Mesquita, The Lince Hotels & Resorts

Por sua vez, Bernardo Mesquita, diretor de Operações dos The Lince Hotels & Resorts, explica que o grupo iniciou o negócio hoteleiro no continente precisamente através do REVIVE, apostando assim na recuperação do património – arquitetura, cultura e história ao ganhar a concessão do Convento de Santa Clara. O objetivo foi “querer acrescentar mais valor ao destino norte e a Vila do Conde em particular”, algo que afirma que a cadeia já faz em São Miguel, Açores, com as duas unidades que opera. Quanto a voltar a participar neste programa, “vai sempre depender do custo-oportunidade”, refere, adiantando que na sua experiência, as diversas entidades públicas envolvidas no REVIVE “nem sempre se têm articulado a concretizar” o objetivo de promover e agilizar os processos de reabilitação e valorização do património público. “O REVIVE só continuará a funcionar se os privados forem realmente incluídos na equação e, existir uma «via verde» na execução do projeto de reabilitação. A burocracia e a inflexibilidade são inimigas do negócio”, critica Bernardo Mesquita.

Pedro Mesquita Sousa, MS Hotels

Pedro Mesquita Sousa, CEO da MS Hotels, grupo ao qual foi atribuída a concessão do Mosteiro de Arouca, reconhece que o que motivou a participação neste programa foi “a identificação da oportunidade de fazer turismo de excelência num edifício histórico”. E não tem dúvidas de que a empresa voltará a concorrer se houver algum projeto que se enquadre na sua visão.

 

 

Uma equipa técnica multidisciplinar a gerir o Programa

Mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde, dará lugar ao The Lince Santa Clara Historic Hotel & Spa, a abrir em dezembro de 2022.

O Programa REVIVE é conduzido por uma equipa técnica multidisciplinar, designada por Grupo REVIVE, que integra representantes das entidades com competências sobre o património público e sobre o turismo, designadamente, Direção Geral do Património Cultural, Direção Geral do Tesouro e Finanças, Direção Geral dos Recursos da Defesa Nacional e o Turismo de Portugal, I.P.. Além destas, outras entidades com competências e jurisdição sobre o património e recursos públicos são chamadas a colaborar, sempre que o contexto patrimonial ou geográfico ou o estatuto dominial dos imóveis o justifiquem. O Grupo REVIVE é responsável pela seleção dos imóveis e, em articulação com os municípios respetivos, pela preparação das peças dos concursos de concessão, pela realização dos trabalhos preparatórios necessários e pela condução dos procedimentos concursais. O Turismo de Portugal, por sua vez, coordena todos os trabalhos e funciona como um “balcão único” junto dos investidores interessados. O Programa é pois um exemplo de como a articulação entre entidades públicas pode funcionar, apresentando-se como um modelo de atuação inovador no seio da Administração Pública.

Os primeiros dois hotéis a abrir portas no âmbito do REVIVE…

Junho 2019: Vila Galé Collection Elvas

Este foi o primeiro projeto que resultou do Programa REVIVE, tendo aberto portas em junho de 2019. O Vila Galé Collection Elvas – Historic Hotel, Conference & Spa resulta da reabilitação do antigo Convento de S. Paulo, em Elvas, e dispõe de 79 quartos, dois restaurantes, bar, piscina exterior, Spa Satsanga com salas de massagens, jacuzzi, banho turco, sauna e piscina interior, bem como duas salas de reuniões, um salão de eventos e claustro. Localizado em pleno centro histórico da cidade alentejana, entre muralhas junto ao baluarte poente, este hotel de quatro estrelas tem como tema as fortificações militares portuguesas espalhadas pelo mundo.

Junho 2020: Vila Galé Collection Alter Real

O Vila Galé Collection Alter Real – Resort Equestre, Conference & Spa está integrado na Coudelaria de Alter do Chão, Alto Alentejo, e está aberto desde junho de 2020. A unidade de quatro estrelas conta com 77 quartos, duas piscinas exteriores de adultos e uma infantil, Spa Satsanga com piscina interior aquecida, restaurante ‘Inevitável’ de gastronomia regional, bar ‘Dressage’, biblioteca, enoteca, duas salas de reuniões e um salão de eventos com um Museu do Cavalo. Tem ainda um tradicional lagar de azeite totalmente recuperado, falcoaria também reabilitada e o respetivo museu.

 

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