#SmartandGreenTourism: “Sustentabilidade está do lado da receita, do lado da sociedade”

A Ambitur, em colaboração com a Fundação AIP, realizou, no âmbito da BTL 2022, a Conferência Smart and Green Tourism. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé moderou o segundo painel desta iniciativa, que se debruçou sobre “Turismo: inovação e consumidor e o papel da sustentabilidade”. E António Brochado Correia, Territory Senior Partner da PwC Portugal, foi um dos oradores deste debate, enquadrando o tema da sustentabilidade e do impacto no setor do turismo.

Pedro Norton de Matos, mentor do Green Fest; Chitra Stern, CEO do Martinhal Hotels & Resorts; e António Brochado Correia, no segundo painel.

Para o consultor, é evidente “a incompreensão, a iliteracia” no que diz respeito ao significado da palavra sustentabilidade, agora mais recentemente o termo ESG (Environmental, Sustainability, Governance). Mas sobretudo nos últimos três anos, o interesse pela temática tem vindo a ganhar dimensão, não só a nível mundial, mas também em Portugal.

O que significa sustentabilidade? O orador explica que é um “equilíbrio entre três blocos – ambiental, social e económico, ou governance”. Se ao início a segurança é o tema dominante, isto na década de 60, só mais tarde temas como poluentes, Co2, social e clima passaram a estar na agenda. E temos, por exemplo, o Protocolo de Quioto e as várias COP’s (Cimeiras do Clima), com “mais princípios e discussões do que propriamente compromissos assumidos e metas para alcançar”, diz António Brochado Correia, que vê aqui um “grande falhanço”, mas “apesar de tudo com a vantagem de trazer todos os países a apresentar políticas e princípio de colaboração”. Isto porque, considera, “a cooperação é um dos grandes desafios que o mundo e as empresas têm”. Deste modo, o tema foi ganhando relevância e hoje, quando se fala de ESG ou de sustentabilidade o valor é para a sociedade, “já não é um valor atribuído apenas ao compliance, àquilo que é a gestão dos custos, mas sustentabilidade está de facto do lado da receita, do lado da sociedade”.

No que se refere ao contexto regulatório, o que se verifica é que as leis têm vindo a evoluir. Se em 2000 se estabeleceram os primeiros oito objetivos de desenvolvimento do milénio, cinco anos depois foi a vez dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), bem como da realização do Acordo de Paris à escala global, para combater as alterações climáticas, e de um Plano de Ação da UE para a Economia Circular 2020. Em 2018, criou-se o Plano de Ação para o Financiamento Sustentável da Comissão Europeia, um conjunto de 10 ações que visam integrar a sustentabilidade no setor financeiro, e ainda a Estratégia Europeia sobre Plásticos, bem como o European Green Deal. Já em 2020, fixaram-se estratégias europeias de integração do setor energético e para o hidrogénio com o objetivo de tornar a União Europeia neutra em carbono até 2050. Hoje, frisa o responsável da PwC Portugal, quem concorre a financiamentos significativos patrocinados pela Comissão Europeia tem que fazer uma prova de sustentabilidade – sustainability proof – que é obrigatória para concorrer a alguns tipos de financiamento, como por exemplo do Banco de Fomento. “Hoje já começa a haver não só uma vontade e e uma imposição pelos consumidores de boas práticas de ESG, mas também regras e leis para a aplicação destes temas nas empresas”, sublinha.

[blockquote style=”2″]Hoje, frisa o responsável da PwC Portugal, quem concorre a financiamentos significativos patrocinados pela Comissão Europeia tem que fazer uma prova de sustentabilidade – sustainability proof – que é obrigatória para concorrer a alguns tipos de financiamento, como por exemplo do Banco de Fomento.[/blockquote]

E o setor do turismo não foge à regra, tendo aqui o tema da sustentabilidade emergido como uma preocupação a ter em consideração em qualquer estratégia de desenvolvimento turístico. A verdade é que o turismo é um dos principais setores do comércio internacional, e uma das principais fontes de rendimento de muitos países. Representa cerca de 10% do PIB direto global e 30% do total mundial de exportações de serviços. Por outro lado, o setor pode representar uma fonte de danos ambientais e de poluição, diz a PwC, com 1,59 milhões de toneladas de emissões de CO2 por transportes ligados ao turismo, 4 milhões de quilómetros de terreno degradado anualmente e 235 milhões de postos de trabalho que dependem do setor.

Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé e moderador do debate; Pedro Norton de Matos, mentor do Green Fest; e António Brochado Correia.

Verifica-se que todos os setores consideram que a dimensão ambiental é a que apresenta maior relevância para os seus negócios. Mas para o turismo e restauração essa dimensão ganha ainda mais peso (71%), só sendo superado pelo setor do vestuário (75%).

A nível do impacto ambiental do turismo, pode constatar-se que quase metade da pegada de carbono deixada pelo turismo mundial tem a sua origem nos transportes (49%), com a alimentação e bebidas a pesarem 10% e o alojamento 6%. Por outro lado, os turistas valorizam cada vez mais viagens sustentáveis e a certificação pode permitir vantagens competitivas, diz a PwC.

Os CEO’s das empresas também se mostram preocupados com a temática, mas “infelizmente ainda pouco”, alerta António Brochado Correia. Isto porque são as ciberameaças e os riscos de saúde que continuam a estar no topo das suas preocupações globalmente (49% e 48%, respetivamente), enquanto questões como as alterações climáticas se situam apenas nos 33% (4ª posição). Em Portugal, para além do tema da crise sanitária, os CEO’s mostram-se especialmente preocupados com questões fiscais, e as alterações climáticas e danos ambientais apenas surgem em 8ª posição numa lista de 10 preocupações.

“Mas se olharmos para aquilo que os consumidores nos dizem, esses sim estão muito preocupados”, frisa o orador. E são os Millenials aqueles que mais assumem pretensões de mudança nos seus comportamentos, quer relativamente à redução do consumo de carne e/ou produtos animais, como à escolha de marcas com práticas/valores éticos. “Dois terços dos nossos colaboradores em Portugal são Millenials e é para eles que temos de dirigir as nossas preocupações”, sustenta António Brochado Correia, acrescentando que 86% dos colaboradores das empresas a nível mundial preferem apoiar ou trabalhar em empresas que se preocupem com as mesmas coisas que eles. Já do lado dos turistas, 69% têm a expectativa de que o setor ofereça opções de viagem mais sustentáveis.

[blockquote style=”2″]Mas, a verdade, diz o orador, é que “as métricas ambientais ainda não são uma prioridade”, e apesar do crescente interesse em ESG, a estratégia ainda é impulsionada principalmente por métricas de negócios.[/blockquote]

Mas, a verdade, diz o orador, é que “as métricas ambientais ainda não são uma prioridade”, e apesar do crescente interesse em ESG, a estratégia ainda é impulsionada principalmente por métricas de negócios. E acrescenta que “temos de conseguir interiorizar aquilo que significa ser sustentável”. Mas o facto é que as métricas que avaliam a sustentabilidade ainda são hoje difíceis de compreender, explica, bem como de poder pôr em prática, pelo que “nas
empresas ainda há alguma dificuldade em medir até que ponto a minha marca está a sair favorecida, até que ponto o meu talento está a preferir a minha empresa e não outra”.

Se olharmos para a competitividade de Portugal em matéria de sustentabilidade, no Sustainable Development Report 2021, entre 165 países, onde a Finlândia, Suécia e Dinamarca são os primeiros, Portugal está em 27ª posição, à frente por exemplo dos EUA, Grécia, Chipre ou Luxemburgo. Já no Environmental Performance Index 2020, entre 180 países, liderados por Dinamarca, Luxemburgo e Suíça, Portugal está na 27ª posição, à frente de Israel ou Estónia. Numa lista de principais países para o turismo sustentável (99 países), liderada pela Suécia, Finlândia e Estónia, Portugal surge na 20ª posição à frente de Polónia, Espanha, Grécia, Itália, EUA. “Portugal tem estado em lugares razoavelmente bons, porque competimos hoje mesmo no turismo com países como Espanha, Itália, França, que têm ainda de andar mais rápido em matérias de sustentabilidade. Portanto é preciso olhar para estes dados e perceber até onde podemos avançar”, afirma o responsável da PwC.

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