#32anos: “O nosso futuro passa por termos engenho e arte para crescer”

No ano em que a Ambitur comemora o seu 32º aniversário, e quando as empresas do setor do turismo conseguiram finalmente “respirar” depois das ondas negras que a pandemia trouxe a nível global, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur, assim como a secretária de Estado do Turismo e o presidente do Turismo de Portugal, sobre o que nos pode esperar nos próximos tempos. Que desafios se levantam na próxima década e que resultados deve o turismo ambicionar, quais os grandes objetivos e estratégias a ter em mente e que temas estruturais importa resolver? Foi a estas questões que procuraram responder. O horizonte não se assemelha tão risonho como as empresas turísticas ou os organismos que tutelam o setor gostariam e muitos são os fatores que provocam incerteza e dúvidas sobre o futuro. Como perspetivam então este novo turismo que temos pela frente? Ouvimos hoje o que nos diz Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé e Conselheiro Ambitur.

O Turismo em Portugal registou ao longo dos anos um crescimento significativo fruto, no essencial, das empresas do setor que se profissionalizaram, criando uma oferta sustentável. Temos hoje um setor forte e que, uma vez mais, foi um dos motores do crescimento e do desenvolvimento económico para a saída da crise pandémica.

A visão do futuro continua a ser otimista, apesar das nuvens sombrias que se perfilam no horizonte e apontam para uma queda da procura no curto prazo. Mas continua a existir muito espaço para crescer mais no interior do que no litoral.

O nosso futuro passa por termos engenho e arte para crescer, mais em qualidade do que em quantidade, mais em receita do que em ocupação e por esta via melhorar o REVPAR.

Evitar concentrações excessivas nos pontos turísticos das cidades com medidas organizativas da gestão destes espaços, diversificando a oferta, criando novas centralidades e novas atrações, como por exemplo, o Museu dos Descobrimentos ou o Museu da Língua Portuguesa ou ainda Parques de Diversões (Feira Popular).

Reforçar a autenticidade dos nossos centros históricos, criando habitação a preços controlados para jovens, espaços de escritórios para start ups e em suma, dando-lhe vida própria.

Recuperar património histórico com ocupações turísticas ou outras que sustentem a sua recuperação e assegurem a sua viabilidade.

Reforçar a mobilidade elétrica nas nossas cidades que poderia ser uma das nossas grandes bandeiras de promoção internacional.

Criar uma marca de restaurantes portugueses a implementar em várias capitais europeias, divulgando a nossa gastronomia (veja-se o exemplo dos italianos, chineses, japoneses, mexicanos, etc.)

Criar e fomentar os comboios históricos que atraiam os turistas que visitam Lisboa e Porto a viajarem pelo interior.

Criar uma rede de caminhos-de-ferro de bom nível com concessão destes serviços a privados, evitando a pobreza franciscana do que temos hoje para oferecer. A nossa prioridade em matéria de ferrovia, para além do que se acaba de expor, deveria ser uma ligação à rede europeia de TGV através de Badajoz e não a ligação Lisboa – Porto, que pode ser bem assegurada por uma melhoria dos Alfas, a qual além do mais reduziria a poluição aérea. A ligação Porto-Lisboa só fará sentido para garantir ligações internacionais.

Criar projetos de excelência e emblemáticos em localizações privilegiadas para atrair marcas internacionais relevantes no segmento mais elevado.

Por fim, garantir:

  • Simplificação dos licenciamentos que continua penosa;
  • Construção de habitação a preços controlados e solução de renda limitada para as famílias portuguesas e para os emigrantes a atrair para trabalharem em Portugal;
  • Uma solução para o novo Aeroporto de Lisboa em prazo mais curto. Continuo a acreditar que a Portela melhorada (que bem podia ter sido melhorada na pandemia) é de tentar manter à exaustão por ser excelente pela proximidade e acessibilidade, compensada com uma solução complementar faseada e expansiva, mas que possa constituir, em caso de necessidade imperiosa uma real alternativa à Portela.

E já agora não se esqueçam da seca feroz que nos assola hoje e no futuro e apostem com urgência na dessalinização e poupem água com medidas ambientais eficientes.

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