#32anos: “Portugal deve posicionar-se como um destino ‘de affordable luxury'”

No ano em que a Ambitur comemora o seu 32º aniversário, e quando as empresas do setor do turismo conseguiram finalmente “respirar” depois das ondas negras que a pandemia trouxe a nível global, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur, assim como a secretária de Estado do Turismo (em funções na altura da realização deste trabalho) e o presidente do Turismo de Portugal, sobre o que nos pode esperar nos próximos tempos. Que desafios se levantam na próxima década e que resultados deve o turismo ambicionar, quais os grandes objetivos e estratégias a ter em mente e que temas estruturais importa resolver? Foi a estas questões que procuraram responder. O horizonte não se assemelha tão risonho como as empresas turísticas ou os organismos que tutelam o setor gostariam e muitos são os fatores que provocam incerteza e dúvidas sobre o futuro. Como perspetivam então este novo turismo que temos pela frente? Leia o que tem para nos dizer Frédéric Frère, CEO da Travelstore e Conselheiro Ambitur.

Um dos principais desafios vai ser conseguir encontrar um melhor equilíbrio entre a boa experiência do visitante e o bem-estar dos residentes locais. Como sabemos, um excesso de turismo pode ter efeitos perversos na sociedade e acabar por se virar contra a própria indústria. Uma das principais qualidades que os visitantes associam ao destino é a simpatia genuína dos habitantes locais, qualidade que poderá desaparecer caso esse equilíbrio não seja encontrado. A nível económico, será sempre difícil evitar o paradoxo do contributo, por um lado, à melhoria do poder de compra dos residentes locais mas, por outro lado, ao aumento do custo de vários bens e serviços, o que acaba por anular o contributo mais positivo. Mas a nível do impacto ambiental, devemos lutar ao máximo para que este seja positivo – e o turismo pode ter um papel muito relevante nesse aspeto – e evitar que seja negativo, algo que pode também facilmente acontecer se não tivermos os cuidados e a disciplina necessários.

Portugal deve claramente posicionar-se como um destino de “affordable luxury”, sendo um dos principais critérios para se alcançar esse posicionamento o da sustentabilidade…

Portugal deve claramente posicionar-se como um destino de “affordable luxury”, sendo um dos principais critérios para se alcançar esse posicionamento o da sustentabilidade: máxima limpeza das cidades, das praias, do locais mais visitados, máximo respeito das boas condições de circulação das pessoas, máxima segurança, proteger o caráter autêntico do destino, erradicar todos os elementos que sejam nocivos ao meio ambiente… O alcance desse objetivo permite também associar outro objetivo que me parece incontornável, que é o de se alcançar uma clara valorização dos salários e do poder de compra dos profissionais do setor. Essa valorização deve também incluir a componente variável que considero ser chave na indústria do turismo.

Costumo dizer que o verdadeiro fator de diferenciação do destino Portugal é a qualidade de vida pelo que os grandes objetivos do turismo português devem-se concentrar em torno dos dois grandes pilares da experiência do visitante e da qualidade de vida do residente local.

Nos dias de hoje, em que a informação é difundida à velocidade da luz, o melhor investimento para se gerar procura é a qualidade da experiência do cliente, do visitante. Costumo dizer que o verdadeiro fator de diferenciação do destino Portugal é a qualidade de vida pelo que os grandes objetivos do turismo português devem-se concentrar em torno dos dois grandes pilares da experiência do visitante e da qualidade de vida do residente local.

Portugal deveria reforçar a sua capacidade de acolhimento de grandes congressos, tanto a nível das infraestruturas de convenção, como de capacidade hoteleira

A nível de objetivo menos macro, Portugal deveria reforçar a sua capacidade de acolhimento de grandes congressos, tanto a nível das infraestruturas de convenção, como de capacidade hoteleira. Temos visto muito investimento em unidades de pequenas dimensões, mas faltam unidades de muito maior dimensão.

Resultados a ambicionar, identificar todos os fatores que possam atualmente contrariar o tal objetivo de sermos um destino de “affordable luxury” e resolvê-los, um a um, durante os próximos 10 anos. Devemos começar a deixar de dar demasiada importância à métrica do crescimento – admito que se faça isso durante uns tempos depois da pandemia que tanto afetou a nossa indústria durante dois anos – para olharmos para métricas mais qualitativas.

Os temas estruturais, a nível nacional, que importa resolver passam pela valorização dos salários dos profissionais da indústria, aliviar a carga fiscal para as empresas do setor, associar as câmaras municipais aos objetivos de um turismo sustentável que procura o melhor equilíbrio entre resultados do turismo e bem-estar da população local.

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