O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.

O interior do Algarve ganha vida quando se percorre a Via Algarviana — uma grande rota pedestre que atravessa a região de leste a oeste, unindo o histórico concelho de Alcoutim (junto ao rio Guadiana) ao Cabo de São Vicente, no extremo sudoeste da Europa. Com cerca de 300 km, divididos em 14 setores, a Via Algarviana atravessa serras, vales, barrocal e aldeias tradicionais, oferecendo um retrato genuíno do que é o “Algarve interior”.
A Ambitur esteve em Barão de São João, uma pequena aldeia localizada no concelho de Lagos, onde nos encontrámos com Anabela Santos, coordenadora da Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve. Fundada em 1988, esta associação tem desenvolvido vários projetos ligados ao ambiente, ao ordenamento do território e ao turismo de natureza. Mas sem dúvida que um dos seus maiores legados é a Via Algarviana, um percurso pedestre de grande rota (GR13), com cerca de 300 quilómetros, que atravessa o Algarve desde Alcoutim, junto ao rio Guadiana, até ao Cabo de São Vicente, no extreme sudoeste da Europa.
Para a Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve, promotora da rota, este traçado é mais do que um simples caminho: é uma ponte entre património natural, cultural e desenvolvimento territorial. “A Via Algarviana não é só uma rota, é uma via de valorização de aldeias, naturezas e das pessoas que aqui vivem”, explica Anabela Santos.
A Via Algarviana abre portas a um outro Algarve — longe das praias e dos resorts costeiros. Ao percorrer montes e vales, quem caminha encontra pequenos aglomerados rurais, infraestruturas de alojamento local, restaurantes e comércio tradicional. Esse movimento de visitantes traz uma nova dinâmica económica e social às localidades menos povoadas. Em eventos promovidos pela rota — como jornadas, caminhadas comemorativas ou programas de interpretação cultural — participam turistas, apaixonados por natureza e cultura, bloggers e jornalistas, o que contribui para dar visibilidade a territórios que, de outra forma, seriam mais facilmente esquecidos.
Além disso, a diversificação da oferta — com pernoitas em casas rurais, descoberta de património, convívio com a natureza — torna o interior algarvio atraente durante todo o ano, e não apenas na época de verão. Essa contínua procura por turismo de natureza ajuda a promover um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
Caminhadas e Cultura: a era dos festivais itinerantes
Para além da rota contínua da Via Algarviana, o Algarve viu florescer uma rede de festivais de caminhadas — inseridos na iniciativa Algarve Walking Season — que combinam natureza, cultura e comunidade local. Estes eventos têm ajudado a consolidar o turismo no interior, convocando caminhantes de várias partes, estimulando economias locais e valorizando o património natural e cultural.
Cada festival aposta numa temática diferente — desde a cultura popular de Festival de Caminhadas de Santa Bárbara de Nexe, aos territórios fronteiriços do Caminheiros – Experiências na Fronteira, a água nas serras do Festival de Caminhadas de Monchique, até à arte e natureza no Barão de São João – Walk & Art Fest.
Segundo Anabela Santos, a existência destes festivais “reforça a ligação entre território, comunidade e visitantes — não é só caminhar, é viver o Algarve de outra forma.”
Estes eventos promovem não apenas caminhadas, mas atividades culturais, oficinas, educação ambiental e experiências artísticas, estimulando um turismo diversificado e sustentável que beneficia pequenas localidades e comunidades locais.
O Barão de São João — Walk & Art Fest personifica perfeitamente esta convergência entre natureza, cultura e comunidade. Realizado anualmente no início de novembro, o festival transforma a aldeia de Barão de São João e a sua Mata Nacional num ponto de encontro entre caminhantes, artistas, famílias e visitantes. A programação é vasta e inclusiva: caminhadas temáticas (geologia, biodiversidade, observação de aves, património, desenho de natureza), oficinas criativas, exposições, intervenções artísticas no espaço público, passeios de BTT, atividades para crianças, concertos, momentos de bem-estar.
Organizado pela Almargem, em parceria com a Câmara de Lagos e outras entidades locais, o festival conta com o apoio institucional e comunitário, mostrando que apostar numa estratégia de turismo descentralizado e baseado no território pode gerar impacto real.
Anabela Santos destaca que o Walk & Art Fest representa “uma aposta no turismo sustentável, no respeito pelo ambiente, nas raízes culturais e na vitalidade das aldeias — porque acreditamos que o interior do Algarve tem vida, história e futuro.”
Para muitos participantes, o festival é uma oportunidade de descobrir paisagens desconhecidas, conviver com artistas locais, conhecer as tradições do interior, e regressar a casa com uma experiência autêntica e transformadora.
Um balanço de futuro: identidade, turismo e valorização territorial
A Via Algarviana e os festivais de caminhadas como o Walk & Art Fest mostram um caminho alternativo para o turismo algarvio — longe das praias e do turismo de massa, aproximando-se do interior, da natureza, das comunidades, da cultura.
Um modelo que ajuda a distribuir o turismo por todo o território, reduzindo assimetrias entre costa e interior, bem como a valorizar património natural e cultural, promovendo a conservação e o conhecimento do território e a dinamizar economias locais (alojamento, restauração, comércio, serviços) e revitalizar aldeias e pequenas localidades. Contribui ainda para fomentar um tipo de turismo mais consciente, sustentável e de proximidade, com impacto positivo ambiental e social, e a preservar identidade e promover o sentido de pertença das populações locais.
Como sublinha Anabela Santos, a Via Algarviana e os festivais associados representam “uma aposta de longo prazo — que liga história, natureza, cultura e comunidade, e que mostra que o Algarve é muito mais do que sol e mar.”
Para visitantes e residentes, esta via de descobertas oferece uma experiência rica e diferenciadora: caminhar por trilhos centenários, descobrir aldeias, conversar com quem lá vive, ver paisagens surpreendentes e participar em festivais que celebram arte e natureza.
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