“Resiliência” é a palavra que melhor define o turismo e a hotelaria em Portugal. Num momento em que o setor atravessa uma crise incomparável, é “muito difícil” fazer uma previsão sobre os próximos meses. Porém, há uma certeza: “O futuro será ainda melhor!”, até porque “nós, portugueses, conseguimos as coisas mais incríveis nos momentos mais difíceis”.
Este foi o positivismo que dois hoteleiros portugueses quiseram deixar no decorrer de mais uma “Quasetudo Talks”, onde se debateu o “Impacto da Covid-19 na Hotelaria”. O encontro virtual, que aconteceu esta quinta-feira na página de Facebook da Quasetudo, juntou Francisco Moser, Managing Director da Discovery Hotel Management (DHM), e Jorge de Almeida, cluster General Manager Vidago Palace Hotel / Pedras Salgadas SPA Nature Park.
Em março, a Covid-19 já era conhecida mas “não havia noção” do seu impacto e da “rapidez” com que se manifestou em Portugal. Esta foi a experiência da DHM que, a meio de março, começou por aconselhar o head office a trabalhar a partir de casa e, na semana seguinte, já estava a encerrar as 18 unidades. Durante este “stress diabólico”, Francisco Moser realça que a preocupação foi exclusivamente “arranjar soluções para proteger os hóspedes colaboradores e parceiros”.
A “incerteza permanente” impede o grupo de fazer uma previsão da abertura das unidades: “Estamos a receber informação à medida que o tempo evolui, diz Francisco Moser, destacando que, no momento em que “sentirmos que há procura e confiança, vamos seguramente começar a abrir”.
Já as unidades Vidago Palace Hotel e Pedras Salgadas SPA Nature Park encerram esta quarta-feira. “A 14 de março, a ideia era não fechar o hotéis”, até porque “tínhamos os fins-de-semana cheios até ao final do mês”, afirma Jorge de Almeida. Na altura, “nunca pensamos que a situação escalasse tão rapidamente” e com os cancelamentos a surgir, em duas semanas, foi o “descalabro total”: “Começamos com os cancelamentos de grupo. Eram seis por dia. Depois foram os individuais”, indica.
Embora o plano seja abrir no dia 1 de julho, o empresário não está muito confiante: “Não creio que consigamos abrir: o cidadão comum tem de voltar a ter confiança para estar num hotel”. Além disso, as “companhias aéreas precisam de voar”, acrescenta.
Há uma preparação para este tipo de crise?
“Estamos a navegar num mar nunca antes navegado”, afirma Francisco Moser que acredita que o “bom senso” deve sempre prevalecer nestas situações. No caso dos “cancelamentos”, é a “política flexível” que deve ser tida em conta e, neste caso, estão a recorrer ao “adiamento da estadia com prazos”, a possibilidade de “trocar de unidades”, a garantia de “benefícios extra” e, ainda, o “reembolso”, indica o responsável. No entanto, é unânime: “Ninguém estava preparado. Esta é uma situação inesperada”, afirma Francisco Moser que acredita que “só podemos atuar à medida que a situação vai evoluindo”.
Relativamente à reação dos hóspedes, Francisco Moser, afirma que foram algo díspares: “Tivemos antecipações nas saídas e negações da realidade”. No espaço de uma semana, foram vários os “episódios soltos” em cada hotel. No entanto, realça que as medidas de contingência que já estavam em marcha em todas as unidades foi algo que confortou os hóspedes.
Jorge de Almeida partilha da mesma visão: “Esta é uma situação nova no mundo. Cada dia é de aprendizagem”. O momento remete para “salvar o homem” e, depois, a “economia”, diz o responsável. Já sobre as medidas de contingência aplicadas, os hóspedes foram reagindo consoante a evolução da situação: “Tivemos clientes a antecipar a saída e outros que não queriam sair”.
Urgência em ajudar a hotelaria
Face à atual crise que Portugal atravessa, Francisco Moser acredita que o “Governo deu a resposta possível para aquilo que é realidade do país”. Já no caso da hotelaria, o empresário não tem dúvidas de que esta atividade precisa de uma “injeção de liquidez urgente”. No entanto, será uma “injeção que virá dos bancos” e os bancos “continuam a cobrar taxas altíssimas”, atenta o responsável, considerando que esta é uma altura em que a “banca deveria ajudar as empresas”. Cabe ao Governo “fazer pressão para que isso aconteça”. Caso contrário, haverá um “desequilíbrio tremendo e a relação dos contribuintes com banca não será mais da mesma”.
Jorge de Almeida é da mesma opinião: “Nós, contribuinte, salvamos a banca. É exatamente o momento da banca ajudar os empresários”. A hotelaria portuguesa “precisa de uma ajuda fundamental” e o responsável atenta que, “nos últimos cinco anos, o motor da economia portuguesa foi o turismo e a hotelaria”. Para o empresário, é “inacreditável” a moratória dos empréstimos ter “juros acrescidos”, lamentando que “muitos empresários não vão conseguir aguentar”. Já sobre a atuação do governo: “Foram as medidas possíveis”, afirma.
Com 90% da equipa em “lay off”, a preocupação do grupo DHM sempre foi “proteger os postos de trabalho” e, nestas matérias, o diretor aplaude o comportamento de todos os trabalhadores: “Temos uma equipa fantástica”. No entanto, Francisco Moser afirma que tem equipas a “trabalhar a 100% no dia de amanhã. Estamos a trabalhar naquilo que será a reabertura dos hotéis”. Os cenários são vários e o empresário acredita que será fundamental “repensar” os processos normais da hotelaria, acreditando na necessidade de maiores cuidados na operação como a “higiene, segurança e o distanciamento”. Do lado comercial, a dedicação é a mesma: “Vai ter que haver uma abordagem diferente”. Uma vez que não haverá mercados distantes a viajar, Francisco Moser acredita que “endereçar o esforço comercial para um mercado de proximidade” será uma das soluções, acreditando que o “mercado nacional será o número um no verão”. Além disso, o poder de compra será outro: “Vamos ter que repensar na estrutura tarifária”, acrescenta.
Também em “lay off”, Jorge de Almeida manifesta grande satisfação por toda a equipa: “Tivemos uma reação positiva” por parte dos trabalhadores. A 100%, está, no entanto, o departamento comercial: “Temos que pensar e repensar no futuro. Será tudo diferente”. O grande desejo deste empresário era “abrir com a equipa a 100%”. No entanto, a realidade diz o contrário: “Não vamos ter estrangeiros”.
2020 e o impacto financeiro
São dois os cenários em cima da mesa: um mais otimista e outro mais pessimista.
“O mais pessimista é ficar encerrados até dezembro e perder dinheiro”, diz Jorge de Almeida. O início do ano demonstrava que 2020 iria ser “fantástico” na generalidade: “Era o resultado de um trabalho de três anos”, garante o responsável, mas em duas semanas tudo mudou: “Foi tudo por água abaixo”.
Para Francisco Moser, 2020 “será um ano difícil”. Mas atenta que “não podemos traumatizar com o curto prazo”, ou seja, “temos de olhar agora para o médio e longo prazo”. Neste aspeto, as soluções começam por “montar a operação”, de forma a “suster custos” e “otimizar vendas” dentro das limitações. Basicamente é: “Sobreviver durante este ano”, acreditando que a “recuperação atingirá uma fase normal daqui a um ano”.
Em relação ao preçário, Francisco Moser acredita que “haverá uma maior flexibilidade” nesse sentido, até porque, “quem lidera isso é a oferta e a procura”. O responsável teme um impacto nos preços com “menos diversificação de mercado. Além disso, a oferta hoteleira cresceu de forma significativa”.
Quem partilha desta opinião é Jorge de Almeida: “Fui sempre contra baixar preços mas temos que ser mais flexíveis”. Esta decisão vai depender da época da retoma: “Ainda não tenho uma decisão porque baixar os preços vai significar que, para aumentar, vai demorar muito mais tempo”.
O futuro…
Francisco Moser olha para o futuro como uma “oportunidade enorme” em melhorar aspetos da hotelaria: “Devemos pensar naquilo que são parcerias locais, fornecedores locais e economia local”. Nas questões ambientais, fala-se muito em “green hotel” mas, na verdade, essas medidas “ainda são muito pobres”, diz o responsável, acreditando que “podemos recuperar de uma forma mais saudável”. O positivismo deste empresário vai mais longe: “O turismo demonstra sempre resiliência e, é apaixonante na forma como inova. Vamos sair daqui positivos”. Além disso, viajar é, “para muitos, um bem de primeira necessidade”, precisa.
Para Jorge de Almeida, este período será de reflexão: “Os hoteleiros vão ter tempo para pensar, repensar e reinventar a hotelaria”. Assim, o futuro é algo positivo: “Vai demorar algum tempo mas voltaremos em grande”. A retoma será completa: “Vamos ter uma hotelaria reinventada e uma qualidade ainda melhor”. O empresário não tem dúvidas de que “nós, portugueses, conseguimos as coisas mais incríveis nos momentos mais difíceis”.




















































