O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.

Hoje estamos em Tavira, local onde a Dieta Mediterrânica, reconhecida em 2013 pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, tem a sua comunidade representativa em Portugal. Ao longo de mais de uma década, o município assumiu-se como guardião deste legado identitário, promovendo ações que articulam agricultura, gastronomia, artesanato, ambiente e participação comunitária.
A presidente da Câmara Municipal, Ana Paula Martins, descreve um trabalho contínuo que visa preservar um património vivo e transmiti-lo às gerações futuras. E destaca que a salvaguarda da Dieta Mediterrânica assenta numa rede sólida de cooperação: “O Município de Tavira tem vindo a trabalhar em parceria desde que começou a tratar da candidatura que permitiu o reconhecimento de Tavira como comunidade representativa da Dieta Mediterrânica de Portugal.”
Segundo a autarca, esta colaboração foi essencial para a criação do primeiro Plano de Salvaguarda (2018-2021) e para o atual plano de atividades 2023-2027, que orienta ações regionais de preservação. “Os nossos parceiros reconhecem a importância deste Património e têm contribuído, dentro das suas competências, para a promoção e salvaguarda deste legado”, sublinha.
Entre as atividades mais marcantes, a autarca destaca a Feira da Dieta Mediterrânica: “É uma das atividades concretas que desenvolvemos em colaboração e que tem um enorme impacto a nível local, regional, nacional e até internacional.” A feira reúne agricultura, gastronomia, música, artesanato, saúde, ambiente e atividades infanto-juvenis, tornando-se um ponto central na divulgação do estilo de vida mediterrânico.
A exposição permanente “Dieta Mediterrânica – Património Cultural Milenar”, patente no Palácio da Galeria desde 2013, também tem desempenhado um papel estruturante e sido “fundamental na divulgação desta herança, recebendo, anualmente, milhares de visitantes nacionais e estrangeiros”, acrescenta Ana Paula Martins.
Mesmo durante a pandemia, o município procurou reinventar-se e a presidente da autarquia recorda que, quando tudo fazia prever que dificilmente se conseguiria promover a Dieta Mediterrânica, Tavira produziu um conjunto de vídeos sobre o medronho, os doces tradicionais do Natal e da Páscoa, as telhas de Santa Catarina, a empreita ou a conserva de azeitonas.
A investigação científica tem igualmente sido apoiada pela Câmara Municipal, gerando exposições e materiais didáticos, como os estudos sobre a pesca do polvo e do atum. Estes originaram uma exposição, na vila de Santa Luzia e na Praia do Barril, materiais didáticos, assim como uma exposição itinerante de cada uma destas pescas.
Por fim, Ana Paula Martins salienta igualmente o projeto “Alimentos do mês”, onde se dão a conhecer os produtos da época e a sua importância na saúde, que resulta de parcerias com entidades como a Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António, a ULS – ACES – Sotavento e a Associação Internacional de Paremiologia, colaborações que têm dado origem a muitos outros projetos.
Para promover o consumo de produtos sazonais e locais, Tavira apostou na renovação do mercado municipal. “A criação da nova imagem do mercado consubstanciou-se também na criação de um sítio de internet, um espaço de divulgação dos produtos da época e das histórias dos comerciantes”, explica a responsável.
Educação: transmitir o património às novas gerações
A formação tem sido outro pilar, dinamizada pela Associação Al-Bio, em parceria com a autarquia de Tavira, capacitando agricultores e população em geral para os diferentes modos de agricultura biológica.
Os restaurantes locais já reconhecem o valor turístico da Dieta Mediterrânica. “É uma mais-valia enquanto aspeto diferenciador, onde os produtos locais e da época são valorizados”, frisa Ana Paula Martins.
O município tem procurado dinamizar o mercado municipal através de demonstrações de culinária, dando a conhecer a gastronomia tradicional recorrendo a produtos da época e locais. Este ano, numa vertente mais sustentável, desenvolve, mensalmente, o projeto “Saúde no P – Do prato ao planeta”, onde as questões da pegada carbónica estão muito presentes.
A autarca explica que, por norma, se procura associar a estas demonstrações alguma capacitação em termos ambientais e nutricionais. E também o Museu Municipal realiza algumas demonstrações e provas de vinho no Palácio da Galeria.
Referindo-se ainda ao papel formativo, a responsável aponta a relação próxima com as escolas, com as quais se tem procurado desenvolver oficinas sobre artes tradicionais e produzir vídeos didáticos onde se ensina o que é a Dieta Mediterrânica nas suas diferentes abordagens. E destaca aqui, entre os vários materiais didáticos já publicados, o livro “Maria, o avô Silvestre e a Dieta Mediterrânica”, as Cartas da Memória e os livros da Rota do Polvo e do Atum. . Destaque, ainda, para as visitas ao Mercado Municipal, as exposições itinerantes que circularam pelas escolas ou as visitas dos alunos à exposição da Dieta Mediterrânica patente no Museu Municipal | Palácio da Galeria.
Também no plano alimentar escolar foram tomadas medidas estruturantes: “Distribuímos fruta fresca da região ou biológica uma vez por semana, refeições mensais com legumes de produção local ou regional, uma refeição mensal vegetariana e outra baseada na Dieta Mediterrânica”, esclarece.
Preservação dos modos de vida: hortas, jardins e artesanato
O estilo de vida mediterrânico implica convívio, agricultura familiar e saberes tradicionais, e aqui Ana Paula Martins refere o projeto das Hortas Urbanas (duas em Tavira) e dos Jardins Mediterrânicos. Se, nas hortas, os participantes podem produzir os seus próprios alimentos, com tamanho sucesso que o município já pondera aumentar o número de hortas disponíveis, nos jardins mediterrânicos o objetivo é criar uma rede de jardins cultivados pela comunidade e “e transformar o espaço público, gerando zonas interpretativas, com utilidade alimentar nos centros urbanos, enquanto disponibilizam aos munícipes a possibilidade de aprender a cultivar alimentos saudáveis e sazonais, embelezando a cidade e promovendo a segurança alimentar e o consumo adequado de alimentos”.
O artesanato mantém-se como peça essencial. E neste âmbito são várias as associações dinâmicas que, em conjunto com o município, participam nas mostras e feiras de artesanato, bem como na organização de oficinas de capacitação para alunos e público em geral, atividades fundamentais “para a transmissão dos conhecimentos e da preservação destas técnicas”.
O projeto Cabaz da Terra é outro destaque: “Contribui para a valorização e o incentivo ao consumo local e à criação de circuitos curtos”, indica a presidente da autarquia. Aqui se incluem visitas a produções locais permitindo aos participantes conhecerem de perto a realidade dos produtores e levarem para casa um cabaz de produtos locais.
Sustentabilidade: equilíbrio entre desenvolvimento e ambiente
A autarca reconhece o grande desafio contemporâneo: “Responder às necessidades atuais sem comprometer as gerações vindouras tem que ser feito não apenas por nós autarcas, mas por todos”, ou seja, “há que conseguir sensibilizar a população e os visitantes para questões como a redução do consumo e do desperdício, apoiar o uso de energias renováveis, implementar políticas públicas focadas em mobilidade sustentável, educação ambiental e proteção dos ecossistemas”.
O município dará continuidade ao Plano Municipal de Ação Climática, um dos primeiros da região a ser aprovado, que inclui 32 medidas e 179 ações. Falamos aqui de áreas desde a eficiência energética nos edifícios e serviços municipais, promoção da mobilidade sustentável, valorização dos recursos hídricos e naturais, reforço da prevenção e resposta a fenómenos meteorológicos extremos, sensibilização e educação ambiental junto da comunidade. A autarca realça que algumas destas ações estão diretamente relacionadas com a agricultura regenerativa, reflorestação, circuitos curtos e alimentação.
Por outro lado, O recém-criado Festival Ecológita – Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania Ativa tem reforçado este compromisso com oficinas, eco-mercados, debates e projetos inovadores. Neste âmbito, durante o primeiro semestre deste ano, a Câmara desenvolveu, em colaboração com os utentes das IPSSs locais e designers, o projeto de upcycling de têxteis, o qual culminou num desfile de moda com roupas que foram reutilizadas e que comumente são descartadas.
Internacionalização: o futuro do modelo mediterrânico
Tavira quer agora aprofundar os laços internacionais entre as comunidades mediterrânicas. Ana Paula Martins explica que, anualmente, Tavira reúne-se com as restantes comunidades da Dieta Mediterrânica, com partilha de conhecimentos e trabalhos. E também tem feito um trabalho de proximidade com parceiros internacionais. Mas a autarca acredita que “poderá ser uma oportunidade aprofundar ainda mais essa relação para que se estenda o intercâmbio aos produtores e empresários locais dos vários países de modo a permitir a troca de experiências e promover a inovação e competitividade dos produtos mantendo sempre a autenticidade.
Para a presidente da autarquia de Tavira, a chave está em manter a comunidade envolvida: “O desafio de presente e de futuro é continuar a trabalhar no envolvimento das comunidades locais, a transmissão da mensagem de preservação dos saberes da Dieta Mediterrânica, mas também a transmissão dos benefícios da adoção deste estilo de vida para a saúde e para o ambiente”.
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