Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Desta vez a conversa é com Andreia Zorrinho, diretora geral do Hotel GatRossio, que embora admita sentir já alguma evolução na mentalidade de algumas empresas, considera que os cargos superiores ainda são muito ocupados maioritariamente por homens.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
O mundo hoteleiro tem estado em constante evolução no entanto ainda se sente algumas diferenças ao ser mulher na Hotelaria. Pela minha experiência e percurso profissional sinto que depende muito da mentalidade das empresas e com quem se encontra em posições superiores.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Iniciei funções no setor hoteleiro no ano de 2004 com a abertura do Hotel VIP Arts. No entanto, o primeiro contacto com o mundo hoteleiro foi na sequência do estágio desenvolvido no Hotel Ria Park no Algarve.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Por mera casualidade vim parar ao mundo hoteleiro uma vez que quando terminei a Universidade a intenção era trabalhar numa área de desenvolvimento e planeamento turístico. No entanto, candidatei-me à abertura do Hotel Vip Arts e ao realizar esta abertura conheci e obtive formação através de pessoas excecionais que me motivaram a dar continuidade neste setor. Além deste facto, é motivador o trabalho que se desenvolve com as equipas/clientes e o crescimento que se consegue obter pela grande diversidade de oferta hoteleira existente em Portugal.
Qual a sua função/cargo no hotel/grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Iniciei funções de Diretora de Hotel em 2019 no Hotel GatRossio em lisboa, pertencente à cadeia Gatrooms que dispõe atualmente de uma unidade hoteleira em Berlim e outra em fase de abertura para 2026 no Porto. Como diretores de hotéis apesar da nossa rotina diária de funções financeiras, recursos humanos e trabalho em equipa com os comerciais, o nosso dia a dia acaba por ser sempre diferente mediante a operação que temos. Na realidade estamos a falar de pessoas diferentes cada uma com as suas expectativas e objetivos e gerir pessoas tem sempre as suas particularidades. O dia a dia acaba por ser sempre muito dinâmico e sendo uma posição extremamente exigente é muito gratificante o trabalho que conseguimos desenvolver em equipa.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Ao longo da minha carreira sim já senti dificuldade em aceder a cargos superiores como mulher/ mãe. Noto que sem dúvida cargos superiores ainda são muito ocupados maioritariamente por homens e quando se trata de uma mulher com filhos ou que pensa em ter filhos passamos para segundo plano. Infelizmente ainda existe esta mentalidade de questionar as mulheres nas entrevistas para cargos superiores se têm intenção de ter filhos e não verifico isto a acontecer no caso dos homens que também não deixam de ser pais e terem as suas responsabilidades como as mulheres/mães. Contudo já conseguimos verificar uma evolução na mentalidade de algumas empresas.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Ainda existe sim um desequilíbrio no número de mulheres a exercer cargos superiores mas já conseguimos verificar ao longo dos tempos alguma mudança no sector. No que respeita a salários não creio que exista um salário diferenciado entre mulheres e homens no setor ou pelo menos não o senti pelas cadeias hoteleiras pelas quais passei.
No seu hotel/grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
O grupo hoteleiro Gatrooms dá uma especial atenção a este detalhe, posso afirmar por experiência própria que não existe diferenciação absolutamente nenhuma entre homens e mulheres/mães. A equipa do Hotel GatRossio é na sua maioria mulheres e damos uma especial atenção às mães que muitas vezes nos chegam às entrevistas com receio de o mencionarem. Temos na nossa unidade hoteleira pessoas incríveis que são mulheres/ mães e dão todos os dias o seu máximo para mostrarem que também são validas e conseguem desempenhar as funções como qualquer outro elemento.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
A título particular prefiro trabalhar com equipas mistas mantendo o equilíbrio no seio da equipa.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Neste momento considero sim fácil conjugar a vida familiar com a vida profissional porque me insiro numa empresa com uma mentalidade diferente. Felizmente existe uma preocupação muito natural dentro do grupo Gatrooms em que as suas equipas mantenham sempre um equilíbrio entre estes dois mundos : pessoal e profissional. Este conceito já segue da própria sede em Espanha o que faz com que todos os elementos quer seja Direção ou Chefias sigam esta visão e se preocupem com estes detalhes que fazem toda a diferença nas equipas.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
A visão feminina no setor hoteleiro traz perspetivas únicas e enriquecedoras isto porque a diversidade de pensamento leva a abordagens mais inclusivas sendo fulcrais para o desenvolvimento e inovação do nosso setor. Assim, falamos de equipas mais diversificadas que acabam por promover um ambiente mais rico em ideias e soluções e acabam por impulsionar melhores resultados e mais positivos para as empresas. Existem valores fulcrais como a inclusão e a igualdade que têm de deixar de estar somente no papel … nas empresas devemos passar a ter uma representatividade de género mais equilibrada e positiva que são essenciais para a sustentabilidade do setor hoteleiro. Assim construirmos um ambiente empresarial mais justo e igual para todos.
A realidade é que temos avanços notórios, mas a desigualdade de género continua a ser uma realidade não só no setor hoteleiro mas também nos mais diversos setores. A meu ver devem existir mais empresas com o compromisso com a igualdade de género para construirmos um futuro mais equilibrado e justo para todos!
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