Por Nuno Costa, diretor geral Timeless
Recebemos há vários dias discursos motivacionais para que nos saibamos reinventar, para que não se desista e que sejamos resilientes e para continuarmos a acreditar que todos juntos iremos ultrapassar a situação catastrófica em que nos encontramos.
O que não recebemos foram as ferramentas necessárias para que possamos chegar a essa fase, financeiramente saudáveis e com a capacidade de abrir as nossas portas como se de um dia de sol se tratasse.
Não tenho dúvidas que qualquer empresa de transportes de turismo o que mais quer é que chegue esse dia, e se efetivamente existisse a capacidade de hibernar todos nós o estaríamos a fazer para que quando acordássemos o pudéssemos fazer da melhor forma possível. Mas não! Não temos essa capacidade, e se querem considerar o que estamos a viver como se de uma batalha se tratasse, temos que ser francos e assumir que a máxima sempre utilizada na guerra que “não se deixam soldados no campo de batalha” não vai acontecer.
Não vai acontecer, porque as medidas que nos tem proposto não são compatíveis com a realidade empresarial que hoje em dia vivemos.
Os últimos anos, foram efetivamente de crescimento na nossa área com a abertura de novas empresas, investimento em novas viaturas e contratação de mais motoristas. Estivemos estes últimos anos a projetar o futuro próximo, a dotar as nossas empresas com melhores áreas de atendimento, com mais tecnologia e com frotas capazes de dar resposta a todas as solicitações que temos tido. Investimentos que carecem de capital, de bons resultados nos anos transatos e maioria das vezes de avais prestados pelos sócios, bem como, de liquidez todos os meses, para fazer frente a todas as obrigações, sejam elas bancárias, fiscais, recursos humanos ou outras.
O nosso mercado sempre foi muito competitivo e mesmo tendo como base todo o investimento feito em recursos e viaturas, sempre tivemos que manter preços reduzidos para que fossemos competitivos e conseguir garantir projetos para a empresa de cada um de nós. Margens de negócio baixas, custos elevados, tais como, combustíveis, portagens e seguros, sempre a subir, e nós a ter que manter preços num mercado agressivo e a ter de continuar a oferecer um serviço de extrema qualidade.
Nunca baixamos os braços e sempre fomos empreendedores, desde o empresário em nome individual que achou por bem ter o seu negócio com uma ou duas viaturas até ao empresário que detêm frotas e recursos com muito mais capacidade na oferta.
Nesta fase e com a avalanche de notícias de todos os quadrantes que vamos recebendo continuamos à espera de um medicamento robusto ou de uma vacina que nos possa também curar ou proteger.
Temos obrigações mensais e não conseguimos de forma alguma perceber até quando poderemos continuar a cumprir de forma escrupulosa e séria com todas elas.
Precisamos de medidas sérias e robustas, que nos ajudem a hibernar e a perceber que quando acordarmos deste pesadelo humano e económico tenhamos a capacidade de podermos continuar o que suspendemos lá atrás.
Não queremos acordar e no dia seguinte estarmos com dívidas acumuladas dos meses de carência que nos propuseram. Queremos sim acordar, e no tempo em que estivemos em pausa, ter tido a capacidade motivacional e com o devido apoio, de nos reinventar e partir para a nova etapa de uma forma positiva e com capacidade de resposta.
Pedimos medidas eficazes que permitam então que a tal máxima descrita atrás seja viável. Não queremos deixar ninguém no campo de batalha, sabemos que temos de lutar com todas as forças que temos, hoje mais que ontem e sabemos que as nossas equipas têm que estar unidas em prol de um bem comum.
Precisamos de melhores benefícios fiscais, de uma aposta forte e coesa com fundos nacionais e europeus com melhores taxas de juro para suster a situação que vivemos e assim chegarmos a um “porto seguro”.
Se queremos salvar vidas, manter empregos e retomar a economia, com o menor número de baixas possível, temos que ter por parte de quem nos governa medidas capazes de travar também o surto que vamos ter na economia.
Temos que ter solidariedade da banca e temos que ter celeridade nos processos que se andam a discutir diariamente. Precisamos que as instituições que negociam com as empresas não congelem processos por semanas, pois as micro, as pequenas e médias empresas não tem esse tempo.
Se a eficácia e a rapidez das instituições financeiras e estatais funcionam quando o processo é inverso, que se pense, e que se aplique a mesma fórmula para o lado das empresas nesta altura.
Vai ser muito profunda esta crise, mas acabando como comecei, se querem que hibernemos que apareçam as ferramentas necessárias para o sucesso de todos.






















































