Por Quim Martinez, vice-presidente Tourism Innovation Hub da Mastercard
O setor do turismo, um dos mais dinâmicos da economia global do nosso tempo, está a atravessar uma transformação acelerada pela digitalização. Após o impacto da pandemia, o turismo foi dos que melhor recuperou, superando todas as expetativas, relativamente aos níveis pré-2020. Neste contexto, a tecnologia – e em especial a inteligência artificial (IA) generativa – emerge como uma aliada crucial para o futuro do setor. Não só apoia os decisores locais na gestão de destinos, mas também capacita empresas e os próprios turistas, garantindo experiências mais personalizadas, sustentáveis e memoráveis.
Mas a transformação digital do turismo acontece, também, por causa das mudanças no comportamento dos viajantes. Hoje, os turistas procuram mais autonomia em todas as etapas da sua viagem, desde o planeamento até à experiência no destino, valorizam experiências autênticas, privilegiam a sustentabilidade e, cada vez mais, esperam interações digitais fluídas e personalizadas.
É aqui que a IA generativa desempenha um papel essencial, porque permite criar conteúdos adaptados às necessidades e interesses específicos de cada viajante, nomeadamente, através de aplicações e chatbots inteligentes que podem sugerir itinerários únicos, integrar informações em tempo real sobre eventos e até calcular o impacto ambiental de cada viagem, promovendo escolhas mais conscientes.
Segundo o relatório “Journey to Tomorrow”, elaborado pelo Laboratório de Inovação em Turismo que tenho o privilégio de liderar, a IA, além de beneficiar os turistas, está também, a transformar a gestão de destinos. A análise avançada de dados possibilita aos decisores locais entenderem padrões de comportamento, preverem fluxos de visitantes e mitigar problemas como o excesso de turismo em determinadas áreas. Cidades como Praga e Amesterdão já estão a utilizar sistemas baseados em dados agregados para gerir os movimentos dos turistas, redirecionando-os para locais menos explorados e promovendo uma distribuição mais equilibrada dos benefícios económicos. Estas iniciativas não só protegem os destinos, mas também promovem uma experiência mais enriquecedora para os visitantes.
Outro elemento-chave apontado no relatório é o conceito de “economia de experiências”. Os turistas do futuro não viajam apenas para ver monumentos ou desfrutar de praias, mas sim para criarem ligações emocionais com os locais que visitam. Experiências personalizadas, como, por exemplo, aulas de gastronomia local, imersões culturais ou rotas históricas interativas, estão a transformar-se num dos principais motores da transformação do turismo. Destinos como a Escócia e a Índia já adotaram estratégias para destacar as suas ofertas únicas como propósito de envolverem os turistas e, ao mesmo tempo, fortalecer as economias locais.
A sustentabilidade, por sua vez, é uma prioridade crescente. A procura por opções de viagem que respeitem o meio ambiente e as comunidades locais nunca foi tão elevada. Contudo, um dos maiores desafios identificados no relatório é a falta de informação clara e acessível sobre escolhas sustentáveis. Neste sentido, a IA generativa pode ser uma ferramenta transformadora, ao permitir que as empresas ofereçam recomendações baseadas em critérios de sustentabilidade, desde opções de estadia ecológicas até experiências culturais que apoiem pequenas empresas e artesãos locais. Projetos como o Tico Treasures, na Costa Rica, ilustram o potencial desta abordagem, na ligação dos turistas a produtos autênticos e na promoção da inclusão digital de pequenas e médias empresas locais.
No entanto, para que esta revolução digital no turismo seja verdadeiramente inclusiva e sustentável, é essencial que governos, empresas e comunidades trabalhem em conjunto. Iniciativas como a Plataforma de Destinos Inteligentes de Espanha ou o NEST, em Portugal, mostram o impacto positivo da colaboração público-privada, permitindo integrar dados e ferramentas digitais que beneficiam todos os intervenientes na cadeia de valor do turismo.
Em suma, a digitalização e a inteligência artificial não são apenas tendências passageiras, mas sim pilares do futuro do turismo. Estas tecnologias estão a capacitar decisores, empresas e turistas para enfrentarem os desafios de um mundo em constante evolução, promovendo escolhas mais informadas, experiências mais ricas e destinos mais resilientes. O desafio agora é garantir que esta transformação seja conduzida de forma ética e sustentável, para que o turismo continue a ser uma força de desenvolvimento económico e cultural, mas também de preservação ambiental e inclusão social.






















































