Numa altura em que muito se fala da escassez de recursos humanos na hotelaria, é fundamental analisar a oferta formativa do país e perceber que opções tem a nova geração se quiser ingressar nesta indústria. É isso que Ambitur procura fazer neste trabalho, falando com responsáveis de várias instituições académicas, bem como a tutela das Escolas do Turismo de Portugal. O objetivo é saber como anda a formação dos profissionais da hotelaria, que desafios enfrenta o universo educativo, quais as propostas que apresentam e que tendências anteveem. Ficamos hoje com Carlos Díez de la Lastra, CEO da Les Roches, que nos explica em pormenor de que forma trabalha esta instituição.
Ambitur quis ouvir a opinião de uma instituição internacional com reputado prestígio em Portugal. E Carlos Díez de la Lastra, CEO da Les Roches, começa por identificar uma “clara lacuna entre as qualificações dos profissionais que trabalham no segmento premium e em outras áreas”. O responsável confirma que na Les Roches se tem testemunhado, ao longo das décadas, como a carreira de um gestor turístico e da sua empresa muda, de acordo com o nível de formação que recebeu. E garante que “a profissionalização deixa menos espaço para a improvisação e a autossuficiência em favor da especialização e do trabalho colaborativo”, não tendo dúvidas de que “é aí que reside o crescimento”. Para o responsável, a formação continua a ser “a grande tarefa pendente de toda a indústria hoteleira e turística, não só em Portugal”. E embora os profissionais portugueses tenham “uma atitude e competências razoavelmente boas para competir com os mercados emergentes”, o gestor defende que “é essencial reforçar o investimento na educação em toda a estrutura, incluindo na base”.
[blockquote style=”1″]”a profissionalização deixa menos espaço para a improvisação e a autossuficiência em favor da especialização e do trabalho colaborativo”[/blockquote]
Para Carlos Díez de la Lastra, os profissionais formados na maioria das escolas não têm prática e experiência suficientes da realidade que, numa fase posterior, vão encontrar no dia-a-dia de um hotel, algo “notório na sua dificuldade em ter um desempenho de alto nível desde o primeiro dia”. Aponta como problema também a sua falta de experiência internacional, tendo dificuldades em compreender e adaptar-se às exigências das diferentes nacionalidades e culturas. Assim, a Les Roches procura que os seus alunos vivam 24 horas por dia em ambientes multiculturais, com mais de 100 nacionalidades, obrigando-os a “saber fazer” todas as funções dos cargos que mais tarde terão de liderar enquanto gestores.
[blockquote style=”1″]”O objetivo da Les Roches é formar líderes para o setor de uma forma excecional”[/blockquote]
“O objetivo da Les Roches é formar líderes para o setor de uma forma excecional”, diz-nos o responsável. E, para tal, conta com um corpo docente e um Comité Diretivo composto por uma equipa de profissionais especializados na sua área. Entre os seus membros, perfis como Natalia Bayona, diretora de Investimentos, Inovação e Educação UNWTO, ou empresários e gestores ,como Frédéric Biousse ou Roberto Eggs, são alguns exemplos.
A instituição está empenhada em transformar o seu campus num centro de investigação e desenvolvimento para a indústria da experiência. E cada estudante está preparado, desde o primeiro dia, para posições de gestão, fazendo-o através da imersão direta num hotel resort, pois ” acreditamos que, para poder gerir um hotel e, portanto, uma equipa, é necessário começar do zero”. Em Marbella, a Les Roches conta com um campus inteligente, estágios virtuais ou um think tank onde os estudantes são expostos a novas tendências e absorvem tecnologia. Além disso, com o fim de ligar os estudantes ao mercado de trabalho e compreender as necessidades do setor, “realizamos reuniões regulares com hoteleiros, gestores de marcas de luxo e outros intervenientes da indústria”, algo essencial pois “também nos permite ser um centro de talentos e coloca-nos no mapa internacional”, diz Carlos Díez de la Lastra.
“A formação está no centro do debate e é, provavelmente, o caminho para uma indústria muito mais forte, com um capital humano muito mais empenhado, reconhecido e motivado”
O CEO da Les Roches não duvida que a falta de talento se tornou uma das maiores desvantagens no setor do turismo, devido à fuga de talentos durante este período de recessão para outras indústrias. “Este é um problema estrutural, que não está apenas relacionado com os salários, mas também com a qualidade da vida profissional, o baixo prestígio social e a falta de formação”, indica o responsável. A profissionalização de toda a rede, não apenas dos cargos de gestão, levará, segundo Carlos Díez de la Lastre, a uma melhoria em todos estes aspetos. “A formação está no centro do debate e é, provavelmente, o caminho para uma indústria muito mais forte, com um capital humano muito mais empenhado, reconhecido e motivado”, frisa.
[blockquote style=”1″]”O modelo de emprego precisa de ser reinventado, melhorando a base e a pirâmide salarial, garantindo a compatibilidade entre trabalho e vida pessoal, e assegurando um plano de vida e promoção que inclua formação contínua”[/blockquote]
Por outro lado, o responsável não tem dúvidas de que tanto os hotéis como as empresas turísticas precisam de trabalhar para ser atraentes. “O modelo de emprego precisa de ser reinventado, melhorando a base e a pirâmide salarial, garantindo a compatibilidade entre trabalho e vida pessoal, e assegurando um plano de vida e promoção que inclua formação contínua”, remata.
Reconhecendo que a indústria hoteleira e turística está em constante evolução, Carlos Díez de la Lastra aponta porém que, nos últimos anos, a tendência tem sido rumo às novas tecnologias. E admite a possibilidade de, até 2024, haver mais assistentes virtuais do que pessoas no mundo. A verdade é que grandes grupos hoteleiros já implementaram sistemas de inteligência artificial que conseguem abordar o serviço ao cliente de uma forma abrangente e por um período de tempo mais longo, mesmo antes da chegada do hóspede. E os robôs estão a ajudar as equipas a otimizar tempos, processos e recolha de dados. “Um universo de possibilidades, envolvendo chatbots, robots, realidade virtual, reconhecimento facial, controlo de voz, big data, tecnologia sem contacto e ferramentas de domótica”, resume o responsável, para quem “esta é uma das fases mais surpreendentes da indústria”. Admitindo que ainda estamos no início, diz porém que “os hotéis estão a corresponder às expectativas”. E adianta que há uma nova geração de talentos curiosos, nativos digitais, a explorar novos negócios, e que abrirão as portas para o futuro.
“É por isso que é vital para as escolas integrar a tecnologia na vida quotidiana dos estudantes, envolvendo-os nos desafios e trabalhando no gene empresarial desde o início”
“É por isso que é vital para as escolas integrar a tecnologia na vida quotidiana dos estudantes, envolvendo-os nos desafios e trabalhando no gene empresarial desde o início”, conclui o CEO da Les Roches. E explica que aqui, a chave não é transformar os gestores de hotéis em grandes cientistas ou engenheiros informáticos, mas sim ajudá-los a encontrar as melhores soluções. “Ser inovadores para outros inovadores”, sublinha. Carlos Díez de La Lastra não hesita em afirmar que “devemos transformar os profissionais em talentos curiosos, com motivação e intenção de melhoria constante, resolutos, intuitivos e com capacidade de identificar os avanços tecnológicos, e de saber como integrá-los na cadeia de valor”.
Oferta formativa na Les Roches
- Licenciatura BBA em Gestão Global de Hotelaria e Negócios Turísticos
- Diploma de Pós-Graduação em Gestão Hoteleira
- Mestrado em Gestão Hoteleira Internacional
- Mestrado em Gestão de Marketing para Turismo de Luxo
- Mestrado Executivo em Gestão Hoteleira Internacional
- MBA em Gestão Hoteleira Internacional
- Mestrado em Estratégia Hoteleira e Transformação Digital
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