Por Ruben Obadia, CEO da Message in a Bottle*
Que mundo nos espera depois disto tudo acabar? Temo bem que seja um mundo com coisas melhores e outras piores; um mundo em que a Saúde passa a ser uma prioridade efetiva e a investigação na procura de curas para muitas das doenças que hoje nos afetam estará no lugar cimeiro das agendas políticas. Também será um mundo em que a sustentabilidade e a procura de um estilo de vida mais saudável não será mais uma tendência de moda, mas um caminho natural senão mesmo o único. Vamos também assistir não a uma fuga, mas a uma deslocalização de mais e mais pessoas para as regiões do interior do País.
Em sentido contrário, temo que haverá um maior controlo sobre as fronteiras e a globalização que pensávamos ser irreversível terá, senão os dias contados, um apertar do cinto ao nível da facilidade de viajar e de entrarmos noutros países.
Ao dia de hoje andamos todos a fazer contas nas nossas empresas depois de dias em estado de negação ou a tentar perceber que camião nos passou por cima. E na realidade qualquer futurologia que fizer sobre este tema irá acabar por estar afastado da realidade. Mas atrevo-me a dizer que, no que ao Turismo diz respeito, assistiremos a grandes mudanças em três grandes áreas: Transportes, Hotelaria e Distribuição.
Na primeira iremos verificar uma intervenção dos Estados em muitas companhias aéreas e, posteriormente, aquelas que sobreviverem irão acelerar o processo de concentração que já estava em curso a nível mundial. Pequenas companhias aéreas não têm lugar num céu de gigantes!
A Hotelaria, temo bem, levará anos para voltar a apresentar resultados como os de 2018 ou 2019. Demorará tempo para que as pessoas voltem a ganhar confiança para viajar. Por outro lado, a crise económica que se irá instalar decorrente do encerramento de muitas empresas e/ou a extinção de muitos postos de trabalho irá levar a uma quebra significativa do segmento corporate.
Finalmente, a Distribuição tradicional… o parente pobre do Turismo. E pobre não por ser o menos importante, mas porque é aquele que, dando a cara e o corpo às balas no contato com o cliente final, foi o mais afetado e terá mais a perder. Se pensarmos bem, no meio desta crise que envolveu o cancelamento de centenas de milhares de viagens em todo o mundo quem é que sempre disse presente? Quem é que não se escondeu atrás do online para evitar o contato ou desligou os seus call-centers para não ter de lidar com passageiros à beira de um ataque de nervos? Pois é… os agentes de viagens. Por outro lado, esta crise só vem mostrar a importância que os agentes de viagens têm na cadeia de valor do Turismo. Acredito que a sua imagem sairá reforçada junto do público final.
E quase a fechar, de uma forma transversal a todos os setores… esta crise terá um novo paradigma na forma como trabalhamos. Obviamente que um metalúrgico continuará a estar obrigado a um trabalho presencial, mas já repararam como nos adaptámos tão rapidamente a trabalhar a partir de casa? Claro que faz falta o café com o colega, mas na realidade nunca trabalhei tanto como agora. Já dei por mim a ter uma Skype-call da casa de banho! Por isso…vamos lá repensar esta história de ter grandes escritórios, sim?
Concluindo. Será que podemos todos voltar à normalidade? Tenho a certeza de que sim, só que a normalidade já não será normal.
*A opinião foi solicitada por Ambitur.pt no âmbito de um conjunto de artigos que estamos a elaborar com empresários e responsáveis do setor sobre a atual situação que o país/mundo vice no âmbito do Covid-19.