O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.

A primeira paragem deste roteiro pelo Alentejo faz-se em Alcáçovas, no município de Viana do Alentejo. E aqui não podíamos deixar de conhecer um lugar de grande interesse histórico e estratégico a nível nacional, cuja visita foi conduzida por Joana Galvão, apaixonada pela história deste edifício.
O Paço dos Henriques terá sido mandado edificar por D. Dinis, numa época em que as cortes régias seriam itinerantes, o que significava que, ao circularem pelo país, teriam que ter locais onde podiam pernoitar ou mesmo passar alguns tempos. Acredita-se que assim tenha sido com este imóvel que, originalmente, pouco terá a ver com o atual edifício.
Entretanto, com a fixação das cortes em Lisboa, os paços reais ou casas grandes foram deixados um pouco ao abandono, conta-nos Joana e, neste caso em concreto, este imóvel, bem como a vila de Alcáçovas, foram entregues à família dos Henriques que, hoje, são ainda os Condes de Alcáçovas. Atualmente, vivem em Paço d’Arcos mas ainda detêm este título. Dom Henrique Henriques era um filho bastardo do Rei de Castela que, quando veio para Portugal, foi bem acolhido pela Coroa, tendo recebido a “honra” do senhorio de Alcáçovas por questões relacionadas com favores políticos, o que significava que, na altura, todos os impostos devidos na vila eram para os Henriques.
O Paço dos Henriques foi “palco” de vários acontecimentos históricos importantes, não só para Portugal mas para o mundo. E aqui o grande destaque vai, naturalmente para o Tratado de Alcáçovas que terá sido assinado neste espaço. D. Afonso V terá recebido a corte, ou a embaixada de Castela, para aqui negociarem, em 1479, a paz. O Tratado veio colocar um fim à guerra e, por isso, é também conhecido como Paz de Alcáçovas. Por outro lado, foi também fundamental para regular os Descobrimentos Marítimos e as áreas de influência, explica-nos Joana Galvão. Esta linha imaginária ficaria para Castela, a norte, e para Portugal, a sul, sendo que foi assim que o nosso país teve direito à Madeira, Açores, Cabo Verde e Costa da Guiné. No fundo, foi a primeira fase do já mais conhecido Tratado de Tordesilhas.
Foi também aqui que se realizaram dois casamentos reais. O primeiro, em 1447, entre a Infanta D. Isabel, filha do Infante D. João e de Isabel de Barcelos, neta do Rei D. João I e de D. Nuno Álvares Pereira, e prima do Rei D. Afonso V, que casou com o Rei D. João II de Castela, viúvo da Rainha D. Maria, num matrimónio do qual nasceu Isabel I, a Católica, Rainha de Castela, que viria a ter um papel importante no Tratado de Alcáçovas. O segundo casamento realizou-se em 1457, entre a Infanta D. Beatriz, irmã de D. Isabel, e o primo, Infante D. Fernando, filho do Rei D. Duarte e irmão do Rei D. Afonso V, do qual nasceu D. Manuel, que viria a ser Rei de Portugal. Lembra-nos Joana que D. João II escreveu neste lugar o seu último testamento, em 1485 e, como não tinha descendentes, indicou D. Manuel como seu sucessor na Coroa.
Estes foram, de facto, os grandes destaques históricos do Paço dos Henriques que, ao longo dos tempos, esteve habitado ainda até ao 25 de Abril, e que chegou também a funcionar como cooperativa. Uns anos depois, voltou para a posse da família e, na década de 90, o Estado, através do Ministério das Finanças, adquiriu este espaço, deixando-o ao abandono, conta-nos a nossa guia.
A Câmara Municipal de Viana do Alentejo decidiu depois fazer um auto de cedência ao Estado para se candidatar a uma obra com fundos comunitários de requalificação do imóvel. E foi assim que, entre 2014 e 2016, o edifício sofreu uma intervenção profunda, dando hoje lugar a um espaço cultural, onde ainda é visível um estilo manuelino, mudéjar e também renascentista.
Assim, no piso térreo é possível visitar duas exposições permanentes: o fabrico dos chocalhos, uma arte singular típica do Alentejo, hoje considerado Património Cultural Imaterial; e uma abordagem histórica do Paço dos Henriques. Já no primeiro andar, realizam-se exposições temporárias. Neste momento, podemos ver a exposição “Retratos Contados de Ruy de Carvalho”, por Nelson Mateus, que estará patente até final do mês de junho.
No imóvel funcionam ainda um auditório, o posto de turismo local e o polo de Alcáçovas da biblioteca.
Fica pois um convite a visitarem o Paço dos Henriques e o Jardim das Conchas, mesmo ao lado, sobre o qual falaremos numa outra reportagem.
Horários: aberto de 3ª feira a Domingo (exceto 1/1, 13/1, 25/4, 1/5 e Natal)
Verão (1/4 a 30/9): 10H00 – 13H00 e 14H00 às 18H00
Inverno (1/10 a 31/3): 9H30 – 13H00 e 14H00 às 17H30
Visitas de grupos: pacohenriques@cm-vianadoalentejo.pt
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