Yasmin Bhudarally, CEO da NEYA Hotels, esteve à conversa com a Ambitur numa Grande Entrevista que pretende dar a conhecer melhor esta cadeia hoteleira 100% portuguesa e o seu contributo para uma sociedade mais sustentável, socialmente responsável e promotora de uma economia mais justa. Com uma lógica citadina, e unidades em Lisboa e no Porto, a NEYA Hotels está também atenta ao potencial que o interior do país apresenta. Leia aqui a 2ª parte desta entrevista.
Porquê uma ligação tão forte dos vossos projetos turísticos com o meio que vos rodeia? Talvez aqui seja importante entender quem é Yasmin Bhudarally para entendermos do que estamos a falar quando falamos do NEYA.
A NEYA Hotels começou a definir um papel ativo de responsabilidade para com a comunidade envolvente aquando da abertura da sua primeira unidade, o NEYA Lisboa Hotel, estabelecendo parcerias, apoiando causas e idealizando novas formas de contribuir no âmbito da sua atividade com projetos como o Quarto Solidário, lançado oficialmente no dia 28 de setembro num evento que contou com a intervenção de vários parceiros de longa data da NEYA Hotels e convidados especiais.

O Quarto Solidário é um projeto inspirado numa experiência pessoal, quando a minha filha recém-nascida foi internada do Hospital D. Estefânia, em Lisboa. A longa distância de casa e os horários de visita reduzidos, não me permitiram acompanhá-la a tempo inteiro. Anos mais tarde, transformámos um imóvel em frente a esse hospital na primeira unidade da NEYA Hotels e ficou definida a missão de fazer a diferença na comunidade através da acomodação e apoio emocional a famílias que estivessem a atravessar um momento como o que tinha vivido.
Além de oferecer acomodação e pequeno-almoço gratuitos a estes pais, a equipa do hotel oferece apoio afetivo durante esses momentos difíceis, disponibilizando uma rede de apoio humana que representa muito mais do que apenas um lugar para ficar.
É extremamente gratificante ver o resultado do empenho e resiliência em estabelecer estas parcerias e protocolos que nos permitem, atualmente, trazer um pouco do espírito de casa a estas famílias.
Se queremos ver alguma mudança no mundo, temos de colocá-la em prática e dar o exemplo, começando na nossa casa, na nossa empresa e na nossa comunidade. Eu comecei a praticar voluntariado com nove anos e dedico-me a esse compromisso até hoje. Faz parte da minha identidade e reflete-se tanto na minha vida pessoal como profissional. Acredito que todos os gestos de solidariedade, por mais pequenos que sejam, juntos, terão um impacto muito benéfico e recompensante tanto para quem é ajudado como para quem ajuda.
E a vossa preocupação com a pegada ambiental, de onde vem?
A consciência da nossa pegada ambiental começa a nascer logo quando começamos a idealizar o primeiro hotel. Sabíamos que a atividade turística é das mais impactantes no ambiente e nas comunidades e tínhamos a responsabilidade de fazer a diferença.

Em ambas as unidades começámos por reabilitar edifícios existentes, para uma construção sustentável. No caso no NEYA Porto Hotel, este foi o primeiro hotel em Portugal a conquistar a certificação LEED Gold pela excelência da sua construção, pensada de raiz para criar um edifício eficiente e com consumo reduzido de recursos. A certificação LEED é reconhecida globalmente pela excelência na construção verde.
Além disso, implementámos em ambos uma forte política de responsabilidade ambiental e modelo de gestão eficiente, que já lhes valeram diversas distinções. Entre elas, a certificação através das Normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 45001, o Green Key, o Certificação Carbono Zero e o galardão Energy Globe Award.
A Yasmin define-se como uma gestora? Na sua opinião, o que é que um gestor não pode esquecer nunca?
O grupo NEYA Hotels é liderado segundo os indicadores ESG (ambiente, social e governança empresarial), e temos a missão de contribuir para uma sociedade global mais sustentável, que respeita o próximo e o planeta, e que promove uma economia mais justa, focada num crescimento económico sustentável, responsável, inclusivo e equitativo.

É disto que nunca esquecemos na nossa gestão.
Essencialmente, a nossa atividade vive das pessoas, equipa, hóspedes, parceiros, fornecedores, vizinhos, amigos… São elas o nosso motor, a nossa inspiração e a nossa força. É nelas que a gestão está focada quando define estratégias para alcançar o equilíbrio entre os objetivos financeiros e um posicionamento responsável e consciente.
Um exemplo disso mesmo foi a subscrição da Carta Compromisso para a Integridade, este ano, numa iniciativa conjunta da UN Global Compact Network Portugal e da Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE), com o objetivo de promover uma economia global sustentável e inclusiva, sem corrupção, com transparência e boa governança. E a NEYA Hotels assinou-a consciente da necessidade de promover uma cultura organizacional mais íntegra, responsável e ética.
Passaram 12/13 anos desde a abertura do primeiro hotel. A hotelaria nacional era outra. Como avalia a prática ambiental e social na hotelaria portuguesa? Como se pode acelerar toda a hotelaria nesta transição?
A consciência ambiental e social da hotelaria começou com “baby steps” mas, neste momento, já vemos cada vez mais ações a esse nível, por exemplo, a gestão dos resíduos já é uma preocupação entre todos os hoteleiros, e a nível social, já há várias doações através do Selo de Responsabilidade Social da AHP.

A hotelaria nacional está a dar os passos necessários e levar adiante todas as métricas dos objetivos de desenvolvimento sustentável, políticas do Turismo de Portugal. É de valorizar tudo isto.
Estas entidades estão a colaborar. Mas, acima de tudo, se quisermos pensar que as coisas podem ser mais rápidas, todos nós temos um papel. Quer os promotores dos investimentos, como as próprias instituições bancárias podiam considerar a valorização da sustentabilidade. Se há investimentos que são sustentáveis esses não deviam ser tratados como investimentos convencionais. Quer a banca, quer as entidades licenciadoras, sabem que os licenciamentos são situações que preocupam qualquer promotor – um investimento para ser rentável não pode demorar dois ou três anos a ser aprovado. Para ser um projeto interessante a nível financeiro e gerar os resultados a que se propõe, as entidades licenciadoras deviam agilizar os processos. Devia ser criado um “passaporte” ou algo do género em que as entidades responsáveis identificassem os projetos que têm um conceito ambientalmente responsável. No nosso caso, por exemplo, o Turismo de Portugal refere-nos como um grupo com boas práticas, mas se formos à banca ou às entidades licenciadoras não somos reconhecidos.
Um passaporte verde podia fazer uma “fast track” pelas entidades, isso agilizaria e fomentaria novos investimentos.
Recentemente participou numa conferência sobre liderança feminina, que mensagem tentou passar? O turismo devia ser mais inclusivo na equidade dos quadros executivos relativamente ao género?
Sim, fui convidada para participar na 9.ª Grande Conferência de Liderança Feminina, promovida pela Executiva, na Porto Business School.

Creio que em Portugal, menos de um terço das empresas é liderado por mulheres, e penso que é fundamental partilhar as histórias inspiradoras de mulheres que ascenderam às posições de topo para influenciar e motivar de forma positiva as novas gerações de mulheres e promover uma mudança de mentalidades.
Conheço as dificuldades de um percurso que exige o equilíbrio entre os papéis de mulher, mãe e líder, e sei que a partilha dessa experiência é fundamental.
Devemos tentar perceber que o mundo mudou, a liderança acaba por ser um fator fundamental e a flexibilidade das pessoas também. Atualmente estamos a ver mulheres a conquistar lugares importantes e decisivos, e penso que o futuro vai continuar por aí. E fico feliz por saber que consigo apoiar os sonhos de muitas mulheres, é gratificante e inspirador.
No Grupo Largo Tempo SGPS, a que pertence a NEYA Hotels, aproximadamente 65% dos colaboradores são mulheres, trata-se de uma questão de mérito. E devo confessar que a prática de voluntariado é, para mim, fator acrescido de diferenciação.
Na NEYA Hotels promovemos a relevância do compromisso ambiental e social para criar um mundo onde a igualdade de género e a sustentabilidade caminhem lado a lado, promovendo uma sociedade mais saudável e equilibrada para as gerações presentes e futuras.
O que define hoje um bom produto hoteleiro, enquanto gestora e enquanto cliente?
Atualmente os hotéis devem ser mais do que infraestruturas de alojamento que disponibilizam quartos, refeições, spa e outros serviços. Para além de quererem proporcionar experiências memoráveis aos seus clientes, devem ter um propósito definido e consciência do impacto que a sua atividade tem na comunidade em se inserem, no desenvolvimento do país e no futuro do planeta. Esta é a minha visão enquanto gestora.
Como cliente, tenho a mesma perspetiva. Sempre que viajo, espero encontrar a comodidade de boas infraestruturas hoteleiras, mas, essencialmente, que estejam conscientes da sua responsabilidade para com o ambiente e a comunidade.
A sustentabilidade deve ser a prioridade na indústria hoteleira e no turismo responsável.
Por Pedro Chenrim. Fotos Raquel Wise/Ambitur.
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