O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.
O município de Vidigueira tem sido um dos impulsionadores da crescente notoriedade do vinho de talha no concelho e na região do Alentejo e assim promete continuar. Esta é mais uma das tradições que o Alentejo tem para oferecer a quem o visita. O processo de fabrico do vinho – possivelmente herdado dos romanos, como parecem indicar as ruínas de São Cucufate – resulta na fermentação da uva em talhas de barro, algumas com centenas de anos. Um processo de produção que não chega aos três meses, pois a 11 de Novembro, dia de São Martinho, é hora de bebê-lo. No Centro Interpretativo do Vinho de Talha, em Vila de Frades, falámos com o presidente da autarquia, Rui Raposo, que nos deu a conhecer o ponto da situação da candidatura do vinho de talha a Património Imaterial pela Unesco e onde reagiu à recente nomeação da região para Capital Europeia do Vinho, em 2026.
Vila de Frades é um dos principais locais de produção de vinho de talha no concelho de Vidigueira, paredes meias com São Cucufate, ruínas de uma antiga “villa” romana, datada do século I d.C., que funcionou como um centro agrícola e residência, foi esta a freguesia escolhida para sede do Centro Interpretativo do Vinho de Talha e para entrevistarmos o presidente da Câmara Municipal sobre qual mais acrescentaria valor ao outro, se o vinho de talha para a Vidigueira ou a Vidigueira para o vinho de talha? Rui Raposo não se atrapalhou mas, antes de sustentar a ligação entre estes dois elementos, respondeu de imediato, de forma politicamente correta: são os dois importantes. De seguida acrescentou: “aliás, é mais importante a Vidigueira para o vinho de talha, pois o vinho de talha é importante para todo o território e para todo o Alentejo”. Assim se deu rumo à conversa, tendo como pano de fundo as afamadas vinhas da região, e suas castas, e um processo de fabrico herdado pelos romanos, mas utilizado ao longo dos últimos séculos pelos habitantes desta região. Algo que a autarquia fez questão há uns anos de valorizar criando as condições para uma notoriedade crescente: “todo este projeto começa com a intenção do município, numa candidatura ao Património Cultural e Imaterial da Unesco, desta técnica ancestral de produção de vinho de talha. Na altura, quando nós pegamos no processo, tínhamos, creio que, seis municípios e duas entidades envolvidas e rapidamente alargámos isto a todo o território do Alentejo e constituímos um protocolo com 22 municípios e sete entidades”. Conseguida a abrangência e coesão territorial, a partir desse momento toda a sua estratégia foi muito vocacionada naquilo que era dar a conhecer este produto de excelência e sua produção. Outro caminho tomado foi a criação do próprio Centro Interpretativo do Vinho de Talha, em Vila de Frades, inaugurado em 2020, dia 11 de Novembro, o dia consagrado à abertura das talhas em todo o Alentejo. “Adoptámos até este espaço onde estamos. Inicialmente foi projetado para ser um espaço de convívio, de eventos, mas quisemos dar um bocadinho mais. Quisemos que o espaço tivesse conteúdo. Quisemos que fosse o primeiro contacto com este produto, com o território, dos nossos visitantes e, a partir daí, terem a oportunidade de levar um bocadinho já do conhecimento do que é este produto e depois terem, então, a sua própria experiência em todas as adegas que nós temos em Vila de Frades, em Vidigueira e no território do Alentejo. Então foi isso que fizemos”. Poderá dizer-se que Vila de Frades passou assim a ter motivos para se considerar a capital do vinho detalha, mais humildemente o ponto de partida para se conhecer a tradição deste embaixador do Alentejo, que em breve se poderá envaidecer de ter um reconhecimento ao nível da Unesco.
Mas tão ou mais importante, refere Rui Raposo, foi que este Centro para além de ter ajudado a potenciar e a dar a conhecer este produto do vinho de talha, tem incentivado cada vez mais projetos com jovens a abraçar esta tradição, esta identidade muito característica deste território, com os seus projetos perfeitamente adaptados, com a inovação possível, porque estamos a falar de uma tradição muito ancestral. “Temos um dos produtores que neste momento está a apostar em vinhos de longa guarda, ou seja, o vinho de talha era um vinho sazonal, de consumo rápido, e hoje mostramos que, efetivamente, pode haver uma conservação deste vinho. Ou seja, ele evolui na própria garrafa e estes vinhos de longa guarda estão a mostrar isso mesmo. Ou seja, aquilo que não se conhecia, a capacidade que o vinho tem de ficar cada vez melhor, de evoluir em garrafa, isso não se conhecia”, exemplifica. Retornando ao ponto de partida “adaptando tudo isso, acrescentando cada vez mais valor, cada vez mais notoriedade, vamos, naturalmente, mostrando que a Vidigueira é importante para o vinho de talha, mas o vinho de talha é importante para o território.”
O reconhecimento pela Unesco
E o ponto de situação da candidatura à Unesco? O responsável recorda que o processo de candidatura já está inscrito em Inventário Nacional, esse era o primeiro ponto para que depois pudessem fazer a apresentação à UNESCO, e já têm, neste momento, o dossiê entregue na Unesco. Sendo assim, aguardam informação a qualquer momento. No entanto, este processo está a ser evolutivo. “Como temos desenvolvido muito todo este processo e com muita proximidade também, ouvindo a própria Comissão Nacional na construção desta candidatura e
tem-nos sido dito que é importante, que ela tem até dimensão para não ser só uma candidatura nacional, mas uma candidatura transnacional. E a partir daí desenvolvemos uma série de contatos com outros países, principalmente a Geórgia, porque a Geórgia já tem a classificação do vinho de talha, portanto, Património Cultural e Imaterial, mas aí o próprio vinho, nós temos a técnica ancestral, são diferentes, mas complementam-se, claramente”. Para além da Geórgia, existem ainda contatos com a Itália, onde já existe um memorando de entendimento, e inclusive com toda esta notoriedade chegaram a um município do Japão. “Tem sido giro, também, este interesse de outros países, principalmente, o do outro lado do mundo, a querer ter um memorando de entendimento e a querer conhecer um bocadinho desta nossa tradição”, salienta o autarca. Nesta lógica serão proximamente desenvolvidos contactos entre Espanha e França, são os países que, entretanto, a Comissão Nacional indicou que seriam importantes para começar a desenvolver uma outra candidatura, mas transnacional. “Então, desta forma, nós temos a nossa candidatura na Comissão Nacional e estamos no ponto de uma candidatura transnacional”, indica o responsável. Ao nível da candidatura específica à Unesco, acrescenta que “aguardamos que a Comissão Nacional nos dê alguma indicação, sabemos que os timings serão sempre mais para o final do ano, que nos dirão se há alguma classificação, quais são as candidaturas que vão a consideração da Unesco para decidir no ano a seguir e, pronto, aguardamos todos estes timings”.
Três dias antes desta conversa, foi formalizado que o Baixo Alentejo venceu a organização da Cidade Portuguesa do Vinho 2026, uma candidatura que envolveu 13 municípios, pedimos ao autarca de Vidigueira que nos explicasse a importância desta iniciativa que teve lugar em colaboração com a Entidade Regional do Turismo e que está integrada na própria CIMBAL – Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo. “Vidigueira já tinha experiência, já tinha sido Cidade Europeia de Vinho em 2013, enquanto só um município, e aquilo que fomos vendo é estas se foram alargando às regiões, aliás, a última foi o Douro. Desta forma temos aqui mais um trabalho a exercer, para o próximo ano de 2026, de termos todas essas iniciativas de promoção, enquanto uma cidade europeia de vinho”. O foco de Vidigueira não se deixa esbater, indica ainda Rui Raposo “inclusive, este ano temos, enquanto embaixador dos Vinhos de Vidigueira, o António Zambujo, que também foi estrategicamente pensado para a notoriedade dos vinhos. Aqui, tomamos esta decisão, pois começámos a sentir alguma dificuldade nas exportações, na venda dos vinhos. Também tem sido muito interessante todas as iniciativas em que o António tem participado connosco, inclusive esteve agora na Feira Mundial de Turismo, em Osaka, o embaixador dos vinhos de Vidigueira, ou seja, vamos ganhando algum terreno em outros mercados, mantendo naturalmente esta notoriedade e esta qualidade dos vinhos de Vidigueira”.
Centro experimental do pão do Alentejo
Mas, para além dos vinhos, a Vidigueira oferece aos visitantes e turistas mais para além das suas castas, seja na gastronomia ou no cante alentejano, no entanto o concelho tem sido também conhecido através do produto do pão. “O pão de Vidigueira tem muita fama, a laranja de Vidigueira tem muita fama, neste momento o setor do azeite também começa a ter alguma notoriedade, alguma fama, e também já se fala num determinado turismo olivícola, que as pessoas têm interesse em poder explorar”, indica o entrevistado. O pão será a próxima aposta do município, revela-nos Rui Raposo “para o pão temos um projeto neste momento no Turismo Portugal, aguardamos a sua aprovação, da criação de um centro experimental do pão do Alentejo. Isto porque também fomos nos associar a uma ADL, uma associação de desenvolvimento local, que é um dos expert do nosso território, que já tem muito conhecimento e muito know how feito nesta qualificação e certificação do pão do Alentejo”. Acrescenta o entrevistado que “então puxamos todo esse saber associado a um edifício que nós adquirimos, que é um dos fornos mais tradicionais e mais antigos de Vidigueira, e criámos esse centro experimental do pão do Alentejo para termos aqui também e trazer-nos este produto associado à dieta mediterrânea e tudo aquilo que o pão e a qualidade do pão têm associado. Então estamos neste momento a desenvolver e a criar já um outro produto, uma outra notoriedade, um dos produtos que também sempre deu muita fama à Vidigueira”. Ambição não falta, pois seguir-se-á trabalho idêntico em torno da laranja.
Para o autarca o importante é que todos os projetos que têm surgido e que têm acontecido ao qual se junta a hotelaria e restauração vão crescendo de uma forma muito sustentável, aos quais vão sendo associados mais-valias e a criação de produto turístico, de forma que os visitantes acabam por permanecer mais tempo no território. Para desta forma “termos então esta economia quase que circular aqui a funcionar em pleno com toda a sustentabilidade em todos os projetos”.
A terminar, interessa destacar os dois maiores eventos da região dedicados ao vinho, o primeiro Vidigueira Vinho que marca a Páscoa no concelho, numa tentativa também de conseguir ter mais visitantes nacionais e de Espanha. O segundo evento, que ainda está a ganhar embalagem, baseia-se na abertura do vinho de talha, a 11 de novembro. Pretende-se aqui criar uma dinâmica entre o vinho de talha e os visitantes, no dia de São Martinho, com uma abertura simultânea das talhas na região. “Para que houvesse oportunidade, para que criássemos um momento, onde o nosso visitante soubesse que naquele dia, naquela hora, há uma abertura de uma talha, para ver o que é que é a abertura das talhas. Porque o ponto mais importante da produção deste vinho é o da sua abertura e prova. Então criámos uma abertura simultânea das talhas em todas as adegas do concelho e o ano passado já alargámos ao concelho vizinho, Cuba”, conclui o responsável. Temos, também, a Vitifrades, no início de Dezembro, uma iniciativa organizada por uma ADL com o mesmo nome, onde a Câmara também acaba, de alguma forma, por ser co-organizadora. Por isso, já sabe, pode agendar o próximo dia 11 de Novembro, às 15h, para vir conhecer mais de perto esta região e o tradicional vinho de talha, no Vitifrades.






















































