A Ambitur falou com algumas das principais companhias aéreas a operar em Portugal para um trabalho especial publicado na edição 354 sobre a sustentabilidade no setor do turismo. Partilhamos desta vez a visão da easyJet e José Lopes, country manager da companhia em Portugal, garante que a missão é “liderar o caminho rumo a um futuro mais sustentável para a aviação”.

A estratégia de sustentabilidade ambiental da easyJet baseia-se em três pilares fundamentais: reduzir, substituir e remover. Isso mesmo começa por nos explicar o responsável da companhia aérea no nosso país, José Lopes, confirmando que se trata de uma “abordagem abrangente e de longo prazo para a descarbonização”. No que diz respeito a “reduzir”, a easyJet está focada em ações que possa implementar já para diminuir as emissões, entre as quais a renovação da frota com novas aeronaves Airbus NEO, melhoria da eficiência operacional em termos de lavagem de motores, circulação com um único motor e tecnologia como a Otimização do Perfil de Descida, “que nos ajuda a voar com mais eficiência e a economizar quantidades substanciais de CO₂ todos os anos”, detalha o country manager. Além disso, o representante da easyJet garante que esta foi a primeira companhia aérea a testar um novo sistema de pintura leve, que reduz o peso da aeronave e o consumo de combustível. Está entretanto a testar o APU-ZERO, um programa que permite desligar as unidades de energia auxiliar em terra — o que poupa combustível, reduz as emissões e diminui o ruído para os passageiros e funcionários do aeroporto. Acrescenta ainda que “somos fortes defensores da modernização do espaço aéreo europeu e fomos os primeiros a testar o IRIS, um sistema de comunicações por satélite que permite rotas mais diretas e eficientes”.
“somos fortes defensores da modernização do espaço aéreo europeu e fomos os primeiros a testar o IRIS, um sistema de comunicações por satélite que permite rotas mais diretas e eficientes”
No que toca à “substituição”, a easyJet encara o combustível de aviação sustentável como uma parte fundamental do seu caminho para o Net Zero, juntamente com outras tecnologias como o hidrogénio, e é por essa razão que está a investir em ambos. José Lopes dá conta da parceria com a Rolls-Royce para desenvolver motores movidos a hidrogénio, e com a JetZero para apoiar o projeto de uma aeronave com fuselagem monobloco ultra eficiente, que permitirá reduzir em até 50% o consumo de combustível e as emissões.
Finalmente, no âmbito da remoção, a companhia compromete-se com a tecnologia de remoção de carbono. O responsável explica que a easyJet foi a primeira companhia aérea a aderir à iniciativa da Airbus com a 1PointFive, que utiliza a captura e armazenamento direto de carbono atmosférico (DACCS): “É assim que pretendemos lidar com as emissões residuais inevitáveis a longo prazo”.
Uma estratégia com resultados “mensuráveis”
José Lopes admite que “não existe uma solução milagrosa e é por isso que a nossa estratégia combina ações imediatas com investimento em inovação e soluções de longo prazo, para que possamos liderar o caminho rumo a um futuro mais sustentável para a aviação”.
Nesta estratégia rumo à sustentabilidade, o country manager da easyJet considera os progressos são “significativos e mensuráveis”, assegurando que “estamos no bom caminho para atingir a nossa meta de reduzir a nossa intensidade carbónica em 35% até 2035”. E exemplifica, dizendo que, desde que estes objetivos foram lançados, em 2022, os resultados têm sido tangíveis. Assim, em 2024, a companhia atingiu o seu melhor desempenho de sempre em termos de intensidade carbónica por passageiro, com um a melhoria de 5,6% em relação à base de referência de 2019. O que corresponde a uma poupança de 880 mil toneladas de Co2 numa base “well-to-wake”. Além disso, desde 2020 que a empresa de aviação reduziu as emissões de carbono por passageiro-quilómetro em cerca de 33%, em grande parte graças à renovação da frota e aos ganhos contínuos em eficiência operacional.
em 2024, a companhia atingiu o seu melhor desempenho de sempre em termos de intensidade carbónica por passageiro, com um a melhoria de 5,6% em relação à base de referência de 2019
Por outro lado, fizeram-se avanços no campo da inovação, com a easyJet a tornar-se a primeira companhia aérea a aderir à solução de remoção de carbono da Airbus, apoiando o desenvolvimento de uma instalação que acabará por extrair meio milhão de toneladas de CO₂ da atmosfera todos os anos. José Lopes reconhece que esta é uma parte crítica da abordagem da empresa ao nível da descarbonização a longo prazo. Além dos resultados operacionais, a companhia está ver igualmente o reconhecimento das comunidades de investimento e ESG. No ano passado, recebeu a classificação AA da MSCI, “o que reflete a seriedade com que levamos os nossos compromissos climáticos”, adianta o responsável. Foi também incluída no Índice FTSE4Good pelo terceiro ano consecutivo.
José Lopes frisa que, mais importante do que tudo, é o facto de esta estratégia ser flexível por natureza: “Se um componente demorar mais tempo a amadurecer, temos a capacidade de antecipar outras iniciativas para garantir que o impulso nunca se perca”. E conclui que “os resultados até agora são encorajadores e mostram que a nossa abordagem é resiliente, adaptável e baseada em impacto real”.
Os desafios da indústria
Quisemos perceber quais serão, no entender da easyJet, os principais desafios com que se deparam no aprofundamento da melhoria ambiental. E O responsável não hesita em responder que um dos principais é a complexidade da transformação necessária, especialmente pelo facto de a aviação ser um setor altamente regulamentado e operacionalmente exigente. E explica: “Embora estejamos firmemente comprometidos com a adoção de Combustível de Aviação Sustentável (SAF), a sua disponibilidade e custo continuam a ser barreiras significativas”. E por isso a companhia está a trabalhar com parceiros para ajudar a estimular a oferta, um esforço que “exige tempo, investimento e apoio político”.
“Embora estejamos firmemente comprometidos com a adoção de Combustível de Aviação Sustentável (SAF), a sua disponibilidade e custo continuam a ser barreiras significativas”
A transição para novas tecnologias e soluções inovadoras também requer um esforço grande em termos de pesquisa, testes, certificação e desenvolvimento de infraestruturas, bem como regulamentações específicas que ainda estão em desenvolvimento. Apesar de acreditar que novas tecnologias, como o hidrogénio, oferecem um potencial “enorme”, alerta para que “precisamos de ter em mente que estas serão as mudanças mais significativas no design de aeronaves desde que os irmãos Wright construíram o primeiro avião”. O que implica, defende, “muita colaboração entre vários setores e instituições bem como tempo para amadurecer e atingir a escala necessária”.
Por Inês Gromicho




















































