O que o levou a escolher o turismo para trabalhar?
O facto de ter nascido no estrangeiro e de sempre ter tido vontade de conhecer coisas novas. Nasci na Alemanha e todos os anos fazia o percurso entre os dois países (Portugal e Alemanha), tendo viajado diversas vezes também para os países próximos de onde vivia, como Bélgica e Holanda. Quando vim para Portugal, fui estudar para o ISLA, já com a ideia de ir para o turismo, também porque tinha facilidade com línguas e em comunicar com outros. São elementos que têm muito a ver comigo e, no fundo, para estarmos no turismo temos de ter alguma facilidade em comunicação. Este é um setor de serviços que vive muito do know how e da criativade das pessoas.
Quais os primeiros passos a nível profissional?
Acabei o curso e fui estagiar para a UGTUR, uma agência de viagens da UGT. Entrei na Soltrópico respondendo a um anúncio de jornal, a 1 de fevereiro de 1990. Fui o primeiro funcionário a entrar para a Soltrópico que, ao início, era praticamente uma agência de viagens. Na altura o meu diretor-geral, Armando Ferreira, que conhecia muito bem Cabo Verde, dá início à programação deste país e, desde aí, há mais de 25 anos que só trabalho em operação turística. A vida num operador turístico, apesar de algumas semelhanças com a atividade de uma agência de viagens, é completamente diferente. Para mim a vida de turismo tem a ver com a operação turística. Ninguém sabe o dia de amanhã mas sinceramente a minha vida está na operação turística e é aqui que me sinto realizado.
Como começou na Soltrópico?
Entro para as reservas. O operador foi crescendo, depois fui para diretor operacional e mais tarde para diretor comercial. No fundo, acabei por fazer de tudo, o que hoje é uma vantagem porque conheci a operação na sua totalidade, posso perceber os problemas que existem na equipa nos diversos momentos porque também já os vivi. Não devemos nem podemos ter memória curta em relação ao nosso passado.
A atual direção da Solférias veio toda da operação, como é o caso da Sónia Regateiro, o que nos dá uma sensibilidade muito grande relativamente ao dia-a-dia da equipa.
Na Soltrópico estive até dezembro de 2009 e começo aqui (Solférias) no dia 8 de fevereiro de 2010.
Na Solférias entra como diretor-geral…
Sim. É um projeto que começa a crescer bastante rápido. Entre 8 de fevereiro de 2010 e a Páscoa desse ano começámos a programar e vender para o mercado, e tivemos uma evolução bastante positiva, que depois acaba por ter mais expressão em maio de 2012, quando adquirimos o Mundo Vip. Esse é um momento importante, que envolve uma reestruturação. Ficámos a representar a Disneyland Paris, começámos com o Brasil, vários destinos na Ásia, e começámos a evoluir de uma forma ainda mais rápida.
Ao longo deste percurso que momentos destaca?
O grande desafio da minha carreira é a Solférias. Para já a responsabilidade é diferente, começar algo de novo, apesar do operador já ter alguma existência.
Quando se aborda a parte mais difícil lembro-me do Bruno Pereira, algo que foi muito forte para a estrutura, porque era uma pessoa com a qual trabalhávamos há muitos anos. Emocionalmente sentimo-nos completamente perdidos com este acontecimento. A união acabou mais uma vez por nos permitir superar esta barreira. O Bruno era um amigo pessoal, mas também era uma pessoa que esteve na base deste projeto.
O Bruno fazia parte de uma equipa que estava junta há anos… isso traz uma marca diferente na empresa?
Na Soltrópico éramos muito novos e realmente foi uma escola. A relação que mantemos há tantos anos tem a ver com empatia, com aquele clique que acontece em termos pessoais e profissionais, e somos muito unidos. A verdade é que me dou com algumas das pessoas que fazem parte da Solférias, em alguns casos há 19 anos. Às vezes, exagerando um pouco, nem precisamos de falar para nos entendermos. Quando temos uma reunião e definimos a disposição das tarefas, sei que tudo estará feito. A cumplicidade que temos é uma mais-valia. Não há segredos nesta casa, a informação é partilhada, os contratos também, para que todos possam dar o seu contributo. Essa é uma mais-valia reconhecida no mercado. Podemos não ser perfeitos mas somos super esforçados e dedicados.
Quais os segredos da operação turística?
Hoje em dia no mundo global tem-se a perceção de tudo. No caso de Cabo Verde, Armando Ferreira apostou num destino que não era explorado turisticamente e que aliás nem tinha grande estrutura para isso. O Sal tinha nessa altura dois hotéis, havia dois voos semanais para Cabo Verde, era tudo muito rudimentar. O Armando Ferreira fez uma aposta forte que o leva a uma conquista com todo o mérito.
Hoje em dia há que conhecer muito bem a realidade do nosso mercado. Para mim o primeiro grande desafio, em que já estou envolvido como diretor comercial, foi o lançamento de uma operação para o Egipto, em 2003, com a Sónia e o Bruno, um destino que não era programado em charter na altura, em que identificámos os hotéis que poderiam ser comercializados em Portugal e avançámos com uma operação em abril e, em junho, tínhamos já três voos semanais. Isso para mim foi o mais fantástico que já vivi: ou seja, ter dúvidas que a operação viesse a ser um sucesso e vê-la tornar-se uma mega operação. Em julho de 2005 problemas no destino deitaram por terra todo o nosso trabalho, mas faz parte da nossa vida.
Não é fácil hoje descobrir destinos novos. A maneira mais fácil de encarar um destino novo é tentarmos ir da forma mais imparcial possível e metermo-nos na pele do cliente final. Tem de se ter depois atenção ao que o mercado nacional dá importância, por exemplo, apesar de não viajar tanto como outros mercados há elementos que o cliente nacional valoriza. O mercado francês e holandês ficam alojados em quartos que eu nunca poderia vender em Portugal. Temos de conseguir saber os mercados para o qual estamos a construir o produto.
O facto de termos 10 pessoas com muita, muita experiência, alguns com mais de 20 anos, apesar da nossa idade, também é uma mais-valia no mercado. Já programámos quase tudo o que havia para programar, já todos passámos por situações que ficam para a vida.
Como é o seu dia-a-dia? Ainda viaja muito?
Hoje em dia estou mais afastado. Discuto com a equipa os aspetos fundamentais. Quando lançamos um destino novo na viagem de inspeção vai sempre um elemento da direção, um gestor de destino, um comercial, um responsável do departamento de reservas. Ou seja, cada profissional na Solférias faz um pouco de tudo. Somos convidados para muitas fam trips e tentamos ter uma política entre o departamento de reservas e orçamentação para que a equipa tenha um know how muito acima da média. Temos que fazer a diferença perante o agente de viagens, temos de ir mais ao detalhe e isso é viver aquela experiência naquele destino. Para fazermos a diferença temos de ser criativos e para isso temos de conhecer o destino e visitá-lo com muita frequência.
Qual o destino que mais o marcou até agora?
Primeiro Cabo Verde, que é quase a minha segunda casa, um país que está no meu ADN. Tenho três países maternos: Alemanha, Portugal e Cabo Verde. Países fora da área de conforto, tenho dois destinos que me marcaram muito, o Egipto e a Turquia. O Egipto porque não tinha a noção do que ia encontrar naquele país. Era um destino que dava para fazer tudo e, apesar de muçulmano, estava muito ocidentalizado já na altura. Foi dos destinos mais completos que conheci. Bastante semelhante à Turquia, um país muito grande, ainda pouco conhecido em Portugal. Há muita vontade de retomar estes destinos assim que haja condições.