A Nortravel já tinha toda a operação contratada para 2020 e “à custa” da Covid-19 teve de parar a maioria da sua atividade sem novas reservas à vista. O diretor geral do operador, Nuno Aleixo, admite que “precisamos de tempo” porque “toda a cadeia de valor está afetada” mas também existem oportunidades para as agências de viagem. A transformação dos reembolsos em vouchers permitiu a “sobrevivência” e agora o essencial é devolver a “confiança”.
Nuno Aleixo não tem dúvida de que esta “é a maior crise das nossas vidas” e que o turismo, tal como foi um dos primeiros setores de atividade a parar, será dos últimos a retomar devido ao fator confiança. No caso das agências de viagem, especificamente da Nortravel, “tínhamos toda a operação de 2020 contratada desde 2019” e “a partir de junho já vamos tentar projetar 2021” atendendo à reabertura de destinos e ao retomar dos fornecedores, partilhou ontem, durante as Jornadas de Hotelaria e Turismo do ISCET.
No final de março, a equipa da Nortravel entra em lay-off mantendo “1/5 da empresa a trabalhar a 50%” para gerir cancelamentos e as “poucas reservas para o verão” pois “novas reservas não existem”, assegura o diretor geral. Nuno Aleixo realça que “estas ajudas do Estado foram bastante importantes para ‘atacar’ o fator custo” e os problemas de liquidez.
Para o responsável, “precisamos de tempo” na medida em que “toda a cadeia de valor está afetada” — clientes, agências, operadores, companhias aéreas, hotéis e atividades turísticas — e “nós vivemos interligados e não conseguimos abandonar a cadeia ou quebrar um elo” da mesma. Em suma, Nuno Aleixo defende que “é importante conseguirmos equilibrar as contas, de forma a que consigamos dar garantia aos clientes de que as empresas vão sobreviver”.
Transformação de reembolsos em vouchers assegura a “sobrevivência”
O diretor geral da Nortravel dá conta de que existe uma nova legislação, desde final de abril, sobre os reembolsos das agências de viagem aos clientes e explica a situação: “Todos os operadores e agências vinham com um sinal muito positivo de aumento de reservas e, cada vez mais, os clientes estão a antecipar as suas viagens. Isso fez com que houvesse um adiantamento de dinheiro”. Entretanto, as empresas pararam toda a sua atividade e “não há liquidez para devolver de imediato todo esse dinheiro”.
O setor do turismo conseguiu então “sensibilizar o Governo de que se formos obrigados a devolver todo o dinheiro aos clientes, a maior parte das empresas não sobrevivem”, argumenta o responsável, pelo que se optou por transformar os depósitos em vouchers com validade até 31 de dezembro de 2021. Os vouchers têm ainda a “grande vantagem de estar assegurados pelo fundo de reserva do Turismo de Portugal” pelo que, caso algo aconteça, “as agências devolvem o dinheiro até 14 de janeiro de 2022”. Além de uma questão de “sobrevivência” das agências, os interesses dos passageiros encontram-se assegurados. Eis o novo lema da Nortravel: “Não cancele e adie”.
Oportunidades para as agências de viagens
Segundo Nuno Aleixo, a democratização das viagens foi “importantíssima” visto ter obrigado a “repensar todo o negócio” e permitido o surgimento das low-cost e de “operadores que colocaram produto no mercado a preços muito competitivos”. Hoje em dia, viajar é “quase um bem de primeira necessidade”. No entanto, “o próprio consumidor vai mudar e já está a mudar” com novos interesses e preocupações de viagem.
O responsável acrescenta que, durante o período de confinamento, registou-se um aumento das compras online e que as agências de viagem têm aqui uma “oportunidade de se reposicionar e aumentar a sua comunicação digital”. Nuno Aleixo acredita que os primeiros passos já foram dados e que “toda a gente vai evoluir”.
Além disso, em período de dúvidas e incertezas, “as agências tradicionais ganharam muita vantagem” com o contacto dos seus clientes para esclarecimentos, pelo que “há aqui uma data de oportunidades que podemos nós ganhar neste posicionamento do mercado”. As empresas “vão ter de emagrecer” mas o diretor geral da Nortravel tem uma certeza: “Desaparecer muito poucas desaparecerão. Nos últimos anos conseguimos consolidar o negócio e dar confiança ao consumidor.”
Retoma turística e as apostas da Nortravel
Para a retoma turística é essencial que “o consumidor volte a ter confiança em viajar, que neste momento não tem” e “a mobilidade internacional também vai ser importantíssima”, defende Nuno Aleixo, o que significa que “as normas sanitárias vão ter de ser globais, não podem ser exclusivas de um país”, pelo menos na Europa. Há que ter sempre presente que “as regras sanitárias são muito dinâmicas” e que “o desconfinamento pode ser revertido”, o que implica que as agências de viagem tenham “um conhecimento profundo dos sistemas de saúde”.
O diretor geral da Nortravel confia que “Portugal vai ser o primeiro destino a ser procurado pelos portugueses” e acredita que ” o grande boom vai ser no interior do país”. A grande aposta da Nortravel em Portugal são os arquipélagos da Madeira (Porto Santo) e sobretudo dos Açores, para onde transporta cerca de 12.000 continentais por ano. Já no continente, o operador prepara uma “nova experiência” de circuito para a Estrada Nacional 2.
Além fronteiras, a Nortravel mantém produtos para a Europa Central (República Chega, Eslováquia, Áustria, Polónia, Hungria), Países Bálticos, Escandinávia, Islândia, Grécia, Cabo Verde e Tunísia. “Neste momento estas são as ofertas pelas quais estamos a lutar para conseguir manter para o verão de 2020”, frisa Nuno Aleixo.