A Confederação do Turismo de Portugal (CTP), enquanto um dos principais parceiros sociais do Governo no setor, participou ontem no webinar “O turismo em tempo de Covid-19”, promovido pelo Parlamento Europeu em Portugal.
Durante o evento, Nuno Bernardo, vogal da Comissão Executiva da CTP, admitiu que “a pandemia veio paralisar o setor” pelo que “as preocupações da CTP são muitas”. Tanto que “estamos bastante pessimistas” no sentido em que “cada vez a retoma é mais longínqua”, na perspetiva da Confederação. O turismo foi das primeiras atividades a “sentir o impacto” do Covid-19 e o resultado foram “perdas acima dos 80%”, segundo o INE. Num cenário de “perdas tão avultadas”, o responsável atenta que “ou temos mecanismos que apoiam a manutenção do emprego ou vamos ter uma crise económica e social”.
Segundo o mesmo, o que tem evitado até à data a “crise” foram algumas medidas tomadas pelo Governo com especial destaque para o lay off simplificado que “pode terminar já no mês de julho”. Assim, a CTP defende o prolongamento da medida “pelo menos até ao final do ano”. Nas palavras de Nuno Bernardo, o lay off simplificado é “o que tem permitido aos empresários suster este desemprego que está eminente” até porque “temos já empresas em pré-insolvência”. O responsável vai mais longe e alerta: “Não equaciono outra opção sem esta medida ir para a frente.”
Nuno Bernardo contempla ainda que “a expetativa era de que há medida que o ano fosse avançando iríamos ter uma retoma, logo o reforço da Segurança Social poderia ir diminuindo e a intensidade da medida”, mas tal não se veio a comprovar. Pelo contrário, “assistimos à situação do Reino Unido, da Bélgica, ao tráfego aéreo que está completamente bloqueado e ao verão perdido”. O responsável afirma que “não podemos entrar nesta guerra política de bloqueios de voos” e que “não basta Portugal fazer as coisas bem feitas, também temos de contar com aquilo que os outros países estão a fazer”.
“Queremos um envelope financeiro específico de acordo com a importância do turismo”
Para o vogal da CTP, este é o momento de “inspirar segurança e confiança” e de “comunicar de forma integrada”, visto que “não podemos construir uma marca Lisboa ou Algarve, que demoram décadas a construir, e por falta de comunicação deitar tudo a perder”. Na sua opinião, “comunicámos mal” no que respeita à capital portuguesa e “agora temos o Algarve e podemos ter outros destinos nacionais afetados por esta má perceção do turista”.
Além disso, “o ano de 2020 está perdido” e 2021 será “um ano muito envergonhado”, pelo menos até à Páscoa, pelo que “estamos a falar de dois anos de retoma. No entender de Nuno Bernardo, “precisamos de um plano de dois anos no turismo nacional e até lá temos de sobreviver”. Para este plano a longo prazo, muito pode contribuir um “envelope financeiro específico para o turismo” e que leve em consideração “a importância que o turismo tem”. Em suma, “queremos ter um orçamento próprio, concursos e avisos próprios, e domínios temáticos para os quais possamos concorrer mas que sejam proporcionais ao peso do turismo”, ao nível da UE.
Já a respeito da TAP, o vogal da CTP considera a transportadora nacional “determinante para a nossa economia e para o nosso Turismo”, de tal modo que “para nós foi positivo o acordo alcançado”. Nuno Bernardo reflete que “a TAP representa 1/3 dos passageiros nos nossos aeroportos” e que são “10 mil empregos diretos e 100 mil postos de trabalho indiretos”. Com o acordo, “vamos poder continuar com uma TAP estratégica que vai pensar Portugal, abrir rotas e ajudar na recuperação”.