O saldo é positivo quando analisa os mais de dois anos que leva à frente do Turismo de Portugal. Luís Araújo assegura que na balança está “a grande comunhão” entre o que o Ministério da Economia e a secretaria de Estado do Turismo querem e o que deve ser feito pelo organismo. Com um papel muito transversal, o Turismo de Portugal não tem medido esforços para atuar na estruturação dos destinos nacionais e da sua oferta com um claro foco, a preocupação com um todo: “Queremos que Portugal seja visitado durante todo o ano e por todo o país”.
Como encarou o convite para dirigir o Turismo de Portugal (2016)?
Como uma honra por várias razões. Sempre reconheci ao Turismo de Portugal, desde a sua constituição, mais-valias. Ao Turismo de Portugal enquanto organização e às pessoas que cá estavam, que já conhecia do tempo em que tinha sido Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado do Turismo. Por outro lado por o convite ter vindo da pessoa que veio. Alguém com quem já tinha trabalhado, que sempre reconheci e disse que é das pessoas mais bem preparadas e informadas que conheço, para além de uma capacidade de trabalho impressionante e uma especialista em “construir pontes”. Para além de uma predisposição para uma dedicação pública. A dedicação pública é muito isto, estarmos preparados para vermos a nossa vida exposta e dedicarmo-nos a uma causa e a um princípio que muitas vezes não é percebido ou compreendido por todos. Vindo o convite de quem veio, da minha secretária de Estado, não podia dizer que não.
Quais as prioridades que o nortearam e que orientações recebeu da tutela?
A primeira grande prioridade foi a definição do que queríamos para o futuro do turismo e de que maneira isso pudesse ser uma tarefa partilhada por todos. Fruto do esforço e da consciência de aproximação, que a própria secretária de Estado do Turismo tem relativamente a tudo, foi decidido pelo Governo lançar a discussão pública da estratégia nacional do turismo para os próximos dez anos. Esse foi o grande desafio inicial.
Paralelamente procuramos perceber como pegar numa situação de potencial crescimento para efetivamente confirmar esse crescimento e torná-lo sustentável ao longo do tempo nas várias áreas. Seja na questão das acessibilidades, promoção, dos recursos humanos, inovação no sector, entre outros. Saber como tudo isto jogava em conjunto.
Ao mesmo tempo, fazer um trabalho dentro do próprio organismo do Turismo de Portugal no sentido de fazer com que todas estas valências se conjugassem e não tivessemos “mini Turismos de Portugal” internamente.
Dois anos depois que mudanças se podem verificar no organismo?
Hoje há uma maior ligação das pessoas relativamente aos projetos. Na última reunião pegámos na quantidade de projetos que foram lançados e desenvolvidos, em diferentes áreas – formação, Valorizar, Revive, Portuguese Trails, apoio ao investimento, comunicação e desenvolvimento interno de informação – e dizia que se conseguiu fazer muita coisa em dois anos, porque há uma comunhão muito grande entre o que o Ministério [da Economia] e a secretaria de Estado querem e o que achamos que deve ser feito pelo organismo. Não há, para nós, projetos de primeira e segunda. Ou seja, abrimos muitas portas, mas assim que isso acontece, avançamos, fechando também outras de projetos que ficam concluídos. Esta é a prova que se consegue muito quando trabalhamos em conjunto. Nestes dois anos esta tem sido a experiência mais positiva.
Como define hoje o papel do Turismo de Portugal, no contexto da economia turística portuguesa?
O Turismo de Portugal não é uma empresa, mas tem uma capacidade de recolha de conhecimento e de absorção do que é feito a nível nacional e internacional de melhores práticas, o que permite um acompanhamento e apoio nas várias áreas e sectores do turismo. Temos uma capacidade de inovação, de reação e de perceção de sabermos quais são as dificuldades e questões que ajudam os empresários também a crescer. Este é um papel muito transversal, muito positivo, que também é evidenciado por entidades internacionais. Por exemplo, a OMT irá mandar um responsável a Portugal para analisar projetos que temos no terreno há dois anos, no campo da inovação.
Em anos de crescimento turístico a promoção é relegada nos discursos dos privados para segundo plano. No entanto, quais as diretrizes que norteiam a promoção do país lá fora?
A promoção para nós não é só show off. A promoção começa muito antes. Em estruturar e organizar produto. Queremos que Portugal seja visitado durante todo o ano e por todo o país, temos que fazer com que grande parte das iniciativas toquem e alastrem todo o território. Estruturar produto ligado a segmentos, a determinadas categorias ou a mercados vai fazer com que as pessoas percorram todo o território e estejam cá mais tempo.
A promoção não são só as campanhas. A promoção tem a ver com uma visão mais holística, que vai dos apoios às empresas, no sentido do produto ser o correto para o segmento ou mercados específicos, até à formação específica. Para mim a promoção vai desde assegurar que somos suficientemente competitivos, desde a captação aérea, à ligação com os operadores, com os agentes de viagens, ao mostrarmos o país que temos de uma maneira diversificada, a nossa presença em feiras, workshops, road-shows, ao trabalho das nossas equipas lá fora. Promoção não é só por um ‘post’ no facebook. A promoção hoje é um todo, esta foi uma perspetiva que se ganhou nos últimos anos, a promoção tem que estar diretamente com a venda, não através de nós, mas dar as melhores condições a quem pode vender. Promoção sem foco na venda é como deitar água no mar.
Hoje o Turismo de Portugal está a atuar de uma forma mais intensa na estruturação dos destinos nacionais, o que significa este esforço?
Sem dúvida. Esta é uma intervenção a vários níveis. Caso do Valorizar, com mais de 900 candidaturas recebidas, muitas direcionadas para produto e irá potenciar nos próximos anos a nossa oferta. Caso do cycling, o que está a ser investido ao longo do território em pistas, é algo para o futuro. A questão do wifi nos centros históricos, hoje abrange 90 municípios, num investimento de 4,5 milhões de euros. Este é um projeto que demonstra a visão e irá melhorar a experiência do turista, o que leva a que ele nos promova mais. Numa segunda perspetiva esta experiência permite-nos uma recolha de dados para posterior tratamento, que é o ponto-chave desta casa. Depois, a partilha com os privados destas iniciativas é também importante, porque permite que estas cresçam e que se tornem mais competitivas. Na estruturação seguimos as orientações da tutela, que são as corretas, de haver uma preocupação com um todo, para chegar a outras regiões e destinos, mas permitir que esta onda de riqueza, que algumas regiões já têm, se multiplique. Com isto multiplicam-se também as condições para as pessoas se instalarem em outros lugares, criem os seus próprios negócios e uma onda de empreendedorismo. Foi criado um novo programa que é o ALA+T (Administração Local Autárquica + Turismo) que visa capacitação de recursos que estão nas autarquias, CCDR’s, Entidades de Promoção Turísticas, as SIM’s. Queremos alargar o conhecimento a entidades públicas que tocam no sector. Este programa será lançado em setembro.
Uma das apostas do Turismo de Portugal para este ano prende-se com a formação. O que está a ser feito o que pretende ser atingido?
Aqui temos duas componentes, uma que está relacionada com a nossa atividade formativa, as 12 escolas do Turismo de Portugal, técnico profissionais, espalhadas pelo país, com 90% de empregabilidade e depois a componente da formação a nível transversal.
Relativamente às escolas queremos dar um salto. Os desafios têm a ver claramente com projetos-piloto que estão a ser desenvolvidos dentro de algumas delas, como o Tourism Creative Factory, ao nível de programas de aceleração e empreendedorismo. Pretendemos que estes sejam multiplicados, focar e desenvolver toda a componente de e-learning b-learning. Estamos também com um projeto em desenvolvimento que visa criar uma rede de especialização relativamente a cada uma das escolas. O que queremos é envolver as escolas ainda mais com as próprias regiões numa perspetiva de desenvolvimento e valorização de produtos regionais, a sua sensibilização e aproveitamento.
Ao nível da formação transversal, temos tido reuniões com associações de empresários, com a Associação Nacional de Qualificações, Instituto de Emprego e Formação Profissional, com aqueles que também dão formação no sector do turismo. Consideramos que tem de haver um diálogo grande entre todos, numa perspetiva de avaliação dos recursos que temos e da formação que está a ser dada. Por outro lado, existindo esta coordenação conseguimos ter uma formação mais competitiva e que permita posicionar Portugal ainda mais.
*Esta é a 1ª Parte da Grande Entrevista a Luís Araújo, publicada na Edição 311 da Ambitur.