Durante os meses de abril e maio, 80% dos hoteleiros vão entrar em regime de lay-off. Esta é uma das conclusões da segunda fase de um inquérito sobre o efeito da Covid-19 na hotelaria, promovido pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) e apresentado esta quarta-feira, numa conferência online.
Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP, diz que “estamos na “fase de pico na hotelaria” em que os dados são mais impactantes”.
Lay-off afeta 85% dos trabalhadores
Num universo de 450 hotéis inquiridos, numa amostra de 60% da hotelaria nacional, entre 1 e 7 de abril, Cristina Siza Vieira revela que, “em abril e maio, mais de 80% dos hoteleiros vai encerrar” os estabelecimentos em abril e maio, com um “grande peso de inquiridos” a afirmar que estarão fechados “até ao fim do primeiro semestre”.
Deste universo de hoteleiros, 94% afirma que vai implementar o regime de layoff simplificado já em abril. E destes, 59% dos inquiridos dizem que 80 a 100% dos trabalhadores vão entrar no regime. Esta ação direta por parte dos hoteleiros vai afetar mais de 85% dos trabalhadores das unidades.
Para apoiar esta opção, 75% dos hoteleiros afirmaram que já recorreram ou pretendem recorrer às linhas de apoio criadas pelo Governo. Destes, metade ainda não identificaram a linha de apoio adequada à sua situação. Mas 25% dos inquiridos revelam dificuldades de acesso e ponderam mesmo não recorrer ao apoio.
Os canais de reserva, no entanto, mantêm-se abertos e “ativos” mas com condições: “Só aceitam reservas para maio e junho”, indica a vice-presidente. Aliás, as mudanças nas reservas foi um dos fatores referido por Cristina Siza Vieira, indicando que o setor tem equacionado “a nível europeu” esta questão. Atualmente, as opções dadas ao cliente passam pelo adiamento, reagendamento ou a emissão de vouchers mas “a maioria dos hoteleiros estão a privilegiar o reagendamento para outra data”, reconhece a responsável, sublinhando que a devolução do valor pago pela reserva “nunca ou raríssimas vezes acontece”.
No entanto, cerca de 60% dos inquiridos nota as dificuldades de cancelamento junto de agências ou plataformas online (OTA’s) como um dos principais problemas. “Há muito ruído”, diz a responsável, ressalvando que a AHP está à procura de “uma via de solução que evite este atrito”, através da preparação de uma proposta para a Secretaria de Estado de Turismo para “acautelar e haver a possibilidade de gerir estes cancelamentos”, algo similar ao que se passa no resto da Europa.
“71 % dos hoteleiros prevê uma quebra na receita de 70 a 100%”
Este inquérito da AHP foi realizado em duas fases distintas e terá, ainda outras duas fases (segunda quinzena de maio e segunda quinzena de junho). Na primeira fase, em março, 48% dos hoteleiros previam uma quebra da taxa de ocupação de até 10%. Por outro lado, cerca de 19% dos inquiridos acreditava numa quebra de até 19% e apenas 12% diziam que iria ultrapassar os 20%. Passado um mês, o cenário alterou-se por completo com 65% dos hoteleiros a estimar uma quebra na taxa de ocupação superior a 70% (31% dos hoteleiros inquiridos chega mesmo a apontar para uma quebra entre os 80 a 89%). Por seu turno, 10,5% estima uma “estabilização” da quebra entre os 50 e os 59%.
Sobre as receitas, Siza Vieira afirma que o “cenário” traçado pelos inquiridos foi ainda mais “violento”. Se, numa primeira fase, 39% dos inquiridos estimava uma quebra de até 10%, na segunda fase 71% dos inquiridos prevêem quebras entre os 70 e os 100%. A vice-presidente executiva da AHP explica que as perdas nesta área são mais significativas porque não se trata apenas de vender camas: “Há perdas de outros utilizadores”, como o corporate, casamentos e outros eventos.
Perdas nas receitas hoteleiras podem ir até aos 1.44 mil milhões de euros até junho
Os dados de 2019 do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Turismo de Portugal indicam que, entre 1 de março e 30 de junho, registaram-se 14,6 milhões de dormidas na hotelaria. Na primeira fase do inquérito em março, a AHP estimou que, num cenário “menos pessimista”, uma perda de 30% nas dormidas neste período, o que significaria 4,4 room nights perdidas. No dia 7 de abril, num cenário mais otimista, a AHP fala em “80% de noites perdidas, o que corresponde a 11,8 room nights”. Voltando a março, o cenário pessimista indicava uma perda “menos de 50% das dormidas”, o que significaria uma perda na hotelaria direta de 7.3 milhões de dormidas. “Hoje, estimamos 13,1 milhões de dormidas na hotelaria”, afirma Siza Vieira.
Relativamente às receitas, em março, as perdas estavam na ordem 50% nas receita turísticas internacionais, o que seria uma perda direta na hotelaria de 800 milhões de euros. Hoje, a AHP prevê que, “num cenário de perda de 90%, significa 1.44 milhões de euros de receita perdida” até ao final de junho de 2020.