Começou hoje, em Fátima, o XVII Congresso da ADHP e Raúl Ribeiro Ferreira, presidente da associação dos diretores de hotéis de Portugal fez questão de salientar cinco eixos prioritários no seu discurso de abertura. Os Recursos Humanos são um destes cinco eixos, e o responsável frisou que “a grande dificuldade dos próximos tempos vai ser a ausência de recursos humanos disponíveis para trabalhar”, algo que quem já está neste momento a trabalhar, já começou a sentir, disse. Isso levará a um aumento do nível salarial, “o que pode não ser mau”, explicou, desde que “seja sustentável com o aumento de receitas”.
O presidente da ADHP lembra que voltamos ao problema que já existia antes da pandemia de Covid-19, a disponibilidade de recursos humanos devidamente formados e com qualidade. “Se temos maus recursos humanos, com pouca formação, vamos ter um mau serviço, e isso põe em causa a imagem do turismo e da hotelaria”, alertou. E explica que “a falta de reconhecimento público das profissões do setor está na base da fuga de muitas pessoas deste setor, porque não se sentem reconhecidas, nem financeiramente, nem socialmente, pelo trabalho desenvolvido. No fundo, diz, “a falta de reconhecimento público das nossas profissões é uma mancha negra no nosso setor”.
Aproveitando para dirigir-se à secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, também presente nesta sessão de abertura, Raul Ribeiro Ferreira reconheceu que “este é um ano atípico nas agendas de todos” mas critica o facto de se ter passado mais um ano sem que tenha sido revista a tabela de pontuação dos hotéis, algo que há muito a ADHP tem procurado atingir. “Apresentámos uma proposta para a revisão da tabela de classificação dos empreendimentos onde achávamos que era fundamental que os recursos humanos tenham também pontos”. O responsável lembrou que “o nosso objetivo era caminharmos para uma Ordem dos Diretores de Hotéis” e que é nisso que a ADHP está ainda a trabalhar.
Um setor mais sustentável
Outro eixo destacado pelo presidente da ADHP nesta sessão de abertura diz respeito à sustentabilidade, reconhecendo que tem sido feito muito trabalho para que o setor seja mais forte e mais sustentável, tanto a nível financeiro, como ambiental. “Nesta altura, essa união é mais importante do que nunca”, frisa.
Lembrando o Plano Reativar o Turismo, apresentado a semana passada pelo Governo, Raúl Ribeiro Ferreira chama a atenção para o apoio direto à tesouraria das empresas, apelando a que as soluções sejam rápidas pois mesmo que comece a haver algum movimento já, vai demorar algum tempo até que se comece a libertar tesouraria.
Por outro lado, chama a atenção para a importância de manter o apoio à retoma progressiva, mas adaptando-o às regiões, pois nem todas estão a arrancar à mesma velocidade.
Por fim, destaca que o dinheiro disponibilizado pelo plano para o setor privado deve ser bem aplicado “e que sejam exigidos às empresas planos claros de investimento”.
Por outro lado, a nível da formação, Raúl Ribeiro Ferreira considera que o Plano Reativar Turismo contempla um programa de formação “pouco ambicioso” porque o encerra no Turismo de Portugal. “É importante que esta formação valorize as pessoas e que quem está a fazê-la a sinta como uma mais-valia”, acrescentou.
Um quarto pilar registado pelo responsável da ADHP diz respeito ao tema da segurança sanitária e física, e aqui destaca o trabalho feito pelo Turismo de Portugal no selo Clean & Safe, que tem agora uma nova versão, mas lembra que a associação tem “algumas preocupações relativamente às inspeções e como vão ser feitas”. Por outro lado, a ADHP vê com bons olhos o novo Certificado Covid-19 pois “é um caminho que achamos importante fazer e vai facilitar a movimentação entre países”. Mas alerta que é preciso não esquecer o tema da segurança física, dando o exemplo dos ataques terroristas em países europeus, pois “enquanto vendermos o nosso país como país seguro isso fará a diferença na captação de turistas; se perdermos essa vantagem, perdemos uma posição importante.
Finalmente, Raúl Ribeiro Ferreira debruça-se sobre o eixo da evolução e reconhece que os mercados do interior do país despoletaram, mas chama a atenção que é importante que as câmaras municipais se envolvam. “Não podemos ter interior com os museus a fechar ao fim-de-semana, com as pessoas a não terem sítio para almoçar a partir das 15H00, sem condições para os hotéis poderem oferecer essa oferta turística”, reclama. E adianta que “é preciso criar produto para depois nós, enquanto hotéis, podermos vender esse produto”. E aqui realça que é necessário haver um trabalho de todos, para não se perder o que se ganhou de descoberta do interior. “Este é o princípio para que o interior ganhe a dinâmica que queremos”, refere.
Outro ponto mencionado pelo presidente da ADHP diz respeito à tecnologia, admitindo que aqui “ganhámos alguma força pois as pessoas ficaram mais abertas ao uso de ferramentas tecnológicas”. Por isso, lembra, “temos que aproveitar este momento para aumentar a tecnologia dentro dos hotéis”.