A ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal celebra este ano os seus 50 anos de existência. Fernando Garrido, presidente da ADHP, em entrevista à Ambitur.pt, revela a evolução que esta associação tem feito ao longo do seu meio século de vida. E diz quais são as prioridades para o futuro próximo, que passam não só pelo estabelecimento de parcerias internacionais como também pela aposta na formação e no reconhecimento desta profissão.
O que significa para a ADHP celebrar 50 anos de existência?
É um marco muito importante na história da associação e, sobretudo, uma oportunidade de honrar a história de vida da ADHP, dos 11 diretores de hotel que a criaram e das pessoas que, nas anteriores nove direções e na atual, trabalharam e trabalham para construir uma associação de referência no setor.
De que forma tem a Associação evoluído ao longo destes 50 anos no relacionamento com os seus associados e com o setor?
Quando foi criada, em 1973, a ADHP tinha como grande objetivo ajudar os diretores de hotel em promover as unidades e as regiões onde estas se integravam. Mas já havia um objetivo de ajuda mútua, numa perspetiva de partilha de informações sobre a atividade turística a nível nacional, que se mantém viva até hoje.
Hoje, a ADHP oferece uma formação especializada desenvolvida por profissionais do setor, que confere certificação valorizada e válida para as empresas no âmbito das horas de formação legal.
Atualmente, a ação da ADHP evoluiu e passou a contemplar um leque mais abrangente de atividades. Hoje, a ADHP oferece uma formação especializada desenvolvida por profissionais do setor, que confere certificação valorizada e válida para as empresas no âmbito das horas de formação legal. Também organizamos eventos como o nosso Congresso anual e promovemos o reconhecimento da excelência profissional no setor. Participamos ativamente nas universidades, designadamente através da colaboração na definição dos currículos, procurando transmitir as necessidades concretas do mercado. Representamos os nossos associados junto da tutela e das instituições públicas, procurando alertar para os desafios sentidos pelos diretores de hotel, apresentando soluções concretas e trabalhando na defesa da evolução das carreiras profissionais.
Qual a estratégia da ADHP para estar perto dos seus associados e envolvê-los na vida associativa?
Temos assumido um papel preponderante no desenvolvimento da carreira dos nossos associados. Fazemos isso através da formação especializada, mas também da realização de eventos técnicos que servem, simultaneamente, para a transmissão de know how e para a promoção do networking.
Através da nossa bolsa de empregabilidade, ajudamos com a partilha de informação e de vagas disponíveis, procurando manter os nossos associados a par das oportunidades que o mercado oferece.
Dinamizamos também outras atividades, fora do circuito mais institucional, como o Be Our Guest – um projeto de conversas semanais que permite aos associados contactar com grandes profissionais da hotelaria, conhecer melhor a sua história e aprender com eles.
Que vantagens podem retirar os associados da ADHP do facto de integrarem a associação?
Entre as vantagens, os associados da ADHP beneficiam de parcerias exclusivas – como o nosso protocolo mais recente estabelecido com a sociedade BQ Advogadas, é garantida a participação nos eventos organizados pela associação e dispõem de um conjunto de ações de formação que permitem a atualização de conhecimentos práticos e teóricos, de acordo com as melhores práticas do mercado. Destaco também que todos os associados ativos têm direito a um seguro de responsabilidade civil, que os cobre ao nível de acidentes nas unidades que gerem.
Quais as grandes prioridades da ADHP para os próximos tempos?
O grande objetivo passa pelo estabelecimento de parcerias internacionais, sob uma lógica de partilha de conhecimento entre associações. Neste momento, temos ligação às nossas associações homólogas em Espanha e Itália, e temos contacto com a agência alemã. Numa realidade marcada pelos grupos hoteleiros internacionais, um diretor de hotel é um profissional do mundo inteiro, pelo que se torna fundamental estabelecer estas pontes.
Numa realidade marcada pelos grupos hoteleiros internacionais, um diretor de hotel é um profissional do mundo inteiro, pelo que se torna fundamental estabelecer estas pontes.
De facto, a partilha de conhecimentos é a base da associação, que começou com a partilha entre diretores de hotel. O que procuramos fazer hoje é replicar esse conceito de base numa perspetiva internacional. O nosso Congresso de 2023 acolheu o I Encontro Internacional dos Diretores de Hotéis e esperamos que a próxima edição seja ainda mais robusta a nível internacional.
queremos continuar a apostar em ações de elevado valor técnico para os profissionais da hotelaria, como o Curso de Especialização em Direção Hoteleira e outras formações modulares
Outra grande prioridade é a formação: queremos continuar a apostar em ações de elevado valor técnico para os profissionais da hotelaria, como o Curso de Especialização em Direção Hoteleira e outras formações modulares.
Por fim, destaco o reconhecimento da profissão. Procuramos fazer isso em várias frentes. Anualmente, organizamos os Prémios Xénios, que reconhecem e premeiam a excelência na hotelaria – uma iniciativa em que vamos continuar a apostar de forma convicta. Mas também procuramos fazê-lo junto da tutela, designadamente através da nossa proposta de revisão das categorias profissionais. Com esta proposta, queremos promover um maior reconhecimento de profissionais com formação superior e experiência profissional.
A formação é uma temática que a Associação tem encarado com seriedade. Considera que o setor e a profissão de diretor de hotel em Portugal tem vindo a apostar na formação? E, por outro lado, está a formação (universidades, escolas, institutos) a conseguir dar resposta às necessidades desta profissão? O que poderá faltar?
A formação é um dos pilares da ADHP. Acreditamos que podemos ter um papel preponderante na formação de ativos e que a nossa oferta formativa representa uma mais-valia para o setor – um facto que foi assumido pelo secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços durante a celebração do nosso 50.º aniversário.
Acreditamos que podemos ter um papel preponderante na formação de ativos e que a nossa oferta formativa representa uma mais-valia para o setor
Tem havido aposta na formação em Portugal, designadamente através das universidades e dos institutos, mas há falta de formação dada por profissionais do setor que absorvam os desafios e as aprendizagens da operação diária.
É nesta interseção que a formação da ADHP tem maior valor. A formação das instituições de ensino dá resposta às necessidades do mercado, mas, frequentemente, tem de ser complementada pela formação dada por entidades como a ADHP, que tem uma vertente mais prática e está mais enquadrada com os desafios e os procedimentos aplicados diariamente no setor.
Que grandes problemas identifica neste setor?
Entre os principais problemas, destaco dois.
A falta de infraestruturas. A questão do aeroporto é sintomática desta realidade, mas podemos falar também da falta de capacidade do SEF ou da necessidade de criar infraestruturas para receber eventos de grande dimensão (como a WebSummit e a Jornada Mundial da Juventude). A via-férrea é também um desafio, a nível de infraestruturas, que tem de ser encarado com seriedade, porque limita o desenvolvimento do país e das regiões, contribuindo para a concentração do turismo nas grandes cidades.
A habitação. Por um lado, faltam condições para acolher os profissionais dos hotéis em regiões marcadas por turismo sazonal. Por outro, nas grandes cidades como Lisboa e Porto, os profissionais de base veem-se obrigados a deslocar-se para zonas limítrofes, o que coloca em causa o funcionamento das unidades e condiciona a contratação de pessoas.
Neste último congresso, no discurso de abertura, disse que a ADHP está disponível para “trazer uma nova forma de olhar para a legislação laboral do setor”. Isso já aconteceu? De que forma poderiam contribuir e que medidas defendem?
Um dos pontos que defendemos e que partilhámos com a tutela é a valorização de recursos com formação. A nossa proposta passa por incluir pontuação específica na tabela de requalificação dos empreendimentos turísticos sob a qual é valorizada a existência de quadros com formação superior e média, assim como quadros com experiência.
A nível das categorias profissionais, como referi anteriormente, propusemos à tutela a revisão das categorias profissionais com base na formação e na experiência, tendo presente os vários níveis hierárquicos e funcionais existentes nas unidades hoteleiras. De resto, manifestámos a nossa inteira disponibilidade para integrar a comissão de trabalho para a revisão das categorias profissionais, e temos mantido um diálogo constante no sentido de fazer avançar esta proposta.
Por Inês Gromicho.