A progressiva transformação digital da atividade turística, nomeadamente da hoteleira, é verdadeiramente fundamental, mas os empresários não podem nunca esquecer-se de que as pessoas estão em primeiro lugar. Esta foi uma das conclusões retiradas da 2.ª edição da Conferência Hotel 4.0 Talks, iniciativa promovida ontem, dia 19 de outubro, em Coimbra pela AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, e que teve como tema a transição digital como fator de sustentabilidade no turismo.
Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal, numa mensagem de boas-vindas aos presentes, destacou a necessidade de a discussão sobre a transição digital na atividade turística não esquecer a nova agenda da sustentabilidade. “Esta sustentabilidade tem para nós várias premissas. A primeira está relacionada, naturalmente, com o negócio da atividade do turismo e passa pela sua sustentabilidade económica. Mas a sustentabilidade tem também de ser cultural e social. Quando projetamos o mundo para 2050, percebemos que há alterações profundas que vão naturalmente surgir desta agenda da sustentabilidade”, sublinhou.
Em conversa com o moderador da conferência, o jornalista Miguel Midões, Tiago Quaresma, vice-presidente da AHRESP e administrador do grupo O Valor do Tempo, considerou que o turismo é um protagonista da transformação digital. “O turismo, e a hotelaria em particular, são setores que, há muito, lideram esta transformação. Mas não podemos ver a tecnologia como um fim em si mesmo. A digitalização ajuda a simplificar as soluções, mas a digitalização não é desumanização: as pessoas serão sempre essenciais no processo. Com esta transformação, estamos a caminhar para um futuro em que as pessoas irão ocupar funções onde realmente acrescentam valor”, explicou o empresário.
A mesma mensagem esteve presente num painel de discussão e debate, que teve como tema “A Transição Digital Como Fator de Sustentabilidade no Turismo”. O painel foi constituído por Luís Ferreira, CEO da Birds & Trees, Dina Ramos, Professora na Universidade de Aveiro, Alberto Gradim, Diretor Geral do Hotel Quinta das Lágrimas, Ana Paula Pais, Diretora Coordenadora da Rede Nacional de Escolas de Hotelaria e Roberto Antunes, Diretor Executivo do Centro de Inovação do Turismo.
Luís Ferreira começou por dizer que a transformação digital em curso e a recente pandemia alteraram o panorama geral. “O mercado do turismo mudou. O mercado de 2021 não é o mesmo de 2019. Os turistas estão cada vez mais seletivos e autónomos. Hoje, três quartos do tempo da compra de uma viagem são usados sem contacto com empresas, pelo utilizador, sozinho. O turista está, muitas vezes, mais digitalizado que o hotel”, frisou.
Já Dina Ramos destacou que a transformação digital cria oportunidades nos territórios de baixa densidade. “A tecnologia está hoje em todo o lado. Incluindo nas zonas de baixa densidade. Não é por acaso que estes territórios estão a ser escolhidos pelos novos nómadas digitais”, lembrou.
Mas a digitalização não pode ser um fim em si mesmo, voltou a recordar Roberto Antunes. “Nem tudo precisa de ser digitalizado. É preciso conhecer o cliente e perceber o que ele quer que esteja digitalizado. A digitalização não deve estar à frente das necessidades, mas sim o contrário”, sublinhou.
Coube a Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, o encerramento da conferência. Em jeito de resumo, o dirigente frisou que Portugal está bem colocado a nível de digitalização do setor turístico. “Estamos bem posicionados, mas podemos melhorar e proporcionar melhores experiências aos turistas. O digital ajuda-nos a ter experiências fluidas, mas o digital não é o que nós queremos, mas sim o que os clientes querem. Por isso, a transição digital só faz sentido se as pessoas forem as suas beneficiárias”, concluiu.