Numa altura em que o país começa a abrir gradualmente algumas atividades, Ambitur.pt quis saber junto de alguns dos Conselheiros Ambitur se já veem a “luz ao fundo do túnel” para a retoma turística. Manuel Proença, presidente do Grupo Hoti Hotéis, partilha connosco a sua visão.
Já se vê uma “luz ao fundo do túnel” para a retoma turística (nacional e mundial)?
Gostaria muito de ver já essa luz no fundo do túnel, e também a forma como sair dele. Mas enquanto não for descoberta uma vacina – ou um tratamento antiviral eficaz – a crise desencadeada pela Covid-19 continuará a condicionar a nossa vida pessoal e a recuperação da economia.
O fim do estado de emergência e o desconfinamento faseado, são uma esperança na sua retoma gradual que só será possível quando terminarem as atuais restrições e o medo instalado na sociedade.
É expectável que a partir de junho, com a chegada do verão, alguma procura comece a surgir, particularmente com o turismo interno e de proximidade, assim como algum turismo internacional, viagens de negócios e motivos profissionais, o que acontecerá após a abertura das fronteiras e o levantamento das restrições ao transporte aéreo. A retoma turística só é possível com o regresso dos aviões.
Mas a operação hoteleira estará abaixo do break-even e assim continuará deficitária, até ao regresso do segmento MICE e dos segmentos tradicionais de lazer.
Entretanto, há que debater e preparar medidas, faseadas e prudentes, para que a recuperação da nossa economia se possa efetuar de forma sustentada, ao mesmo tempo que se garante a solidez financeira das famílias, do emprego e da economia do país.
É neste ambiente muito difícil, com o indicador de confiança a registar a maior queda desde 2012 e a população a “apertar o cinto”, que teremos de reabrir a nossa atividade – sabendo que o vírus vai continuar a estar por aí – até a população portuguesa e europeia criar imunidade e ganhar confiança, o que não acontecerá antes do final do corrente ano.
Quais os elementos/ fatores chave para uma aceleração?
A crise que hoje é sanitária, com o tempo derivará numa crise económica e terminará a prazo numa crise de dívida pública. As previsões e projeções apontam para enormes quedas de riqueza, recessão profunda, o ressurgimento do flagelo do desemprego e uma destruição de valor nunca vista na história mundial do turismo. Por isso, é importante não perder o objetivo final na gestão deste processo complexo, que deverá ser a manutenção do espírito solidário Europeu, esperando-se que os Estados Membros não imponham restrições e permitam aos turistas viajar para os seus destinos de férias, privilegiando os países de uma Europa Única. Para tal, é importante minimizar a perda da capacidade instalada das empresas e do emprego com apoios, subsídios a fundo perdido e empréstimos.
Por outro lado, para existir procura turística, terá que existir confiança, segurança e serviços de saúde, que serão agora uma prioridade e o principal critério dos viajantes. Também manter acessibilidades, que deverão ser asseguradas com o resgate das companhias aéreas, suportadas com políticas de emprego e de gasto público.
A recuperação do setor será tanto mais rápida, quanto mais rápidas forem resolvidas as referidas medidas e a crise sanitária, e menor a capacidade produtiva destruída.
Que novos fatores já impactam/ ou vão impactar a gestão?
A disponibilização de instrumentos de apoio à tesouraria das empresas é critica nesta fase. A generalidade das empresas hoteleiras têm estruturas patrimoniais equilibradas, mas não estão preparadas para aguentar o seu negócio sem receitas por muito tempo, ou a funcionar abaixo do break-even, até à resolução da crise, que não se prevê aconteça antes do final do corrente ano.
Assim, os instrumentos de Lay-off criados pelo Governo, as moratórias, as linhas de apoio à tesouraria COVID-19 e também a suspensão do Pagamento por Conta (medida ainda não implementada mas já reclamada) são cruciais para a gestão das empresas no atual contexto.
Na fase pós vacina, e da retoma do setor turístico, será então fundamental a criação de programas de mobilidade para a população do tipo “Férias cá dentro” e um outro de âmbito europeu, para pessoas com mais de 55 anos, à semelhança do que acontece com o turismo do Inatel em Portugal, ou do programa Imserso em Espanha.
Só se conseguirão aguentar as economias do Sul da Europa – muito dependentes do turismo responsável por mais de 27 milhões de empregos diretos e indiretos – e recuperar as contas públicas de Portugal, Espanha, Itália e Grécia, se for implementado um grande programa de estímulos ao gasto e consumo no setor do turismo.
Uma coisa é certa. Depois desta “travessia no deserto” a retoma virá – como sucedeu noutras crises ultrapassadas – e o nosso turismo continuará a ter um grande futuro.