Um dos temas que poderá afetar o modelo de distribuição e remuneração das agências de viagens nacionais no próximo ano é a implementação, por parte da TAP, do seu NDC. Carlos Batista, administrador da GEA e da Newtour, em conferência com a imprensa turística, no âmbito da Convenção da GEA, que se realizou este fim-de-semana, em Marraquexe, refere que nesta questão “existe impacto para as agências de viagens, vamos perder receita junto da companhia”. Mas, por outro lado, considera que “vamos tentar colmatar com outros incentivos os rappéis (perdidos) para as agências de viagens”. Pedro Gordon, administrador da GEA, complementa, indicando que a receita diminuirá, mas haverá mais produto ancillaries fora da tarifa aérea para se comercializar. Sendo assim, “é no que está para além da tarifa, nos ancillaries, que se irá buscar uma mais-valia”. Para Calos Batista “não se sabe o impacto real ao dia de hoje” desta alteração de distribuição mas haverá uma percentagem considerável em causa, que será vendida através dos NDC. A TAP representará, em 2023, cerca de 50% das vendas da tarifas aéreas vendidas no grupo GEA.
Uma aceleração na alteração da distribuição de viagens e remuneração dos agentes de viagens no próximo ano pontua aliás a estratégia do grupo GEA para o próximo ano. “Vai-se assistir a uma dinâmica de preço muito grande, algo que se passava já no passado com a hotelaria”, indica Carlos Batista, que considera que “democratizou-se a distribuição aérea”. Resulta que “não podemos estar fora em nenhum momento, estar fora desta competitividade é perder posicionamento para o futuro”. E enfatiza que esta “dinâmica obriga-nos a estar muito atentos. Caso da implementação do NDC da TAP, que será lançado no próximo ano, que nos leva a integrá-lo desde o primeiro momento”.
Em conferência de imprensa foram poucos os números divulgados pela administração do agrupamento, que teve um crescimento residual ao nível de balcões e empresas em 2023, que totalizam os 502 balcões e 407 empresas, números já divulgados publicamente em julho deste ano. Pedro Gordon indica que o crescimento terá sido de 5% em balcões.
Entre as percentagens da atividade do agrupamento GEA divulgadas na conferência de imprensa, refira-se o registo de um crescimento da produção de lazer com organizações turísticas, que têm contrato, de 32%, com um aproximar do grupo W2M do primeiro lugar, ocupado pela Solférias.
Outras percentagens fornecidas pelo grupo dizem respeito ao crescimento das vendas por áreas como pacotes turísticos + 40%, cruzeiristas + 80% e centrais de reserva de hotéis + 40%.
Em jeito de balanço, após um ano da aquisição da maioria do capital social da GEA pela Newtour, Carlos Batista indica que “houve ganhos de escala com a entrada do grupo na GEA perante as companhias aéreas”, sendo que ao nível do produto houve acordos mais favoráveis para as agências de viagens do Grupo GEA”. Para o responsável, foi um ano de “consensos”, de “mudanças difíceis para todos” e de uma “aceitação muito boa da rede para os projetos colocados”, mas avisando que esta foi apenas a “primeira fase de implementação de projetos para a rede GEA”. Entre os projetos implementados em 2023 conta-se a atualização da intranet do grupo, da formação, de ferramentas de gestão (GEA com tecnologia SISAV) e ampliação das ferramentas da área comercial/marketing e de comunicação com o público (projetos GEA TV), que foram sendo comunicados ao longo do ano.
Relativamente à Travel GEA (sub-marca com RNAVT), que funciona na estrutura como um consolidador de emissão para as agências GEA, e que tem “um importante papel no ecossistema GEA, face às alterações na distribuição” de acordo com Carlos Batista, esta regista um crescimento de 78,5% da sua atividade, em 2023. Hoje, a Travel GEA disponibiliza aos agentes de viagens GEA 18 NDCs diretos, já implementados, dois GDS e um agregador CCC. Está a decorrer a implementação do Amadeus NDC. Indica Carlos Batista que “hoje poderemos ter a mesma tarifa em quatro canais diferentes, Amadeus, Travelport, Travel Fusion Low Cost e NDCs das companhias aéreas”.
Lançamento da Newair com responsabilidade solidária
A GEA irá proceder a duas alterações na relação que tem com os seus agentes ao nível da componente aérea em 2024. Sendo que a primeira é o incremento dos valores de bases (que são de 2,4/2,9 euros de acordo com a produção do grupo Newtour. Por outro lado, a GEA irá criar cinco níveis de patamares de incentivos, escalonados, pela compensação de segmentos. Adianta Pedro Gordon que este “novo modelo negociado com a Travelport é prudente”.
Por outro lado, a GEA tem um novo modelo empresarial para a gestão/emissão complementar às agências de viagens IATA: a Newair (ACE – agrupamento complementar de empresas). Este visa que, de uma forma jurídica, se possa ter um valor de “responsabilidade solidária entre os seus acionistas e um fundo constituído pelos seus membros” que valide como garantia acordos determinados com companhias áreas que o exigem, caso da TAP. Considera Carlos Batista que esta é uma forma de “corrigir uma questão que estava em falha por parte do Grupo GEA”. O valor do contributo para o fundo por agente de viagens será atribuído consoante o risco mínimo calculado dessa empresa.
Para o ano, a GEA continuará a sua vertente comercial/marketing e de comunicação ao público final com o lançamento da Travel Web GEA, site de “marca branca” para os seus associados. Ao nível da Travel GEA, será o ano do lançamento do agregador de hotelaria GEA Booking, dedicado a agências de viagens GEA.
Por Pedro Chenrim