Ambitur.pt está a ouvir os Conselheiros Ambitur acerca do futuro da TAP, procurando perceber se ou Governo deve ou não intervir na situação da transportadora aérea, até onde pode ou deve ir essa intervenção e qual será o timing mais indicado para o fazer.
Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com, partilha connosco a sua visão.
Deve ou não o Governo intervir na TAP?
A pergunta seria simples de responder caso a TAP não tivesse um peso estratégico no ecossistema económico português. Em primeiro lugar, o governo português já começou, desde meados de março, a “intervir” em todas as empresas portuguesas, apoiando-as, assim como os seus trabalhadores. E tem vindo a fazê-lo através de apoios ao “layoff”, diferindo a cobrança de taxas e impostos, apoiando o financiamento das empresas entre outras medidas anunciadas. Neste sentido, a TAP não pode ser considerada uma empresa diferente das demais, tendo portanto direito aos mesmos mecanismos que estão à disposição de todas as empresas portuguesas – pese embora a TAP tenha uma particularidade – o seu sócio maioritário é o próprio estado, que detém 50% da empresa.
Por outro lado, a TAP é uma empresa “especial” na economia Portuguesa e em particular no setor do turismo. De todo o transporte aéreo regular nos aeroportos em Portugal em 2018, a TAP foi responsável por mais de 30% do mesmo. É obvio que a empresa tem portanto, um impacto enorme na economia Portuguesa, em especial no turismo, o qual representa perto de 13% do PIB nacional. Hotéis, restaurantes e cafés, agências de viagens, operadores turísticos e toda a demais economia colateral está dependente da chegada de turistas, viajantes de negócios, congressos e todas as demais atividades relacionadas. Sem o transporte de pessoas para o nosso País, aquelas atividades ressentem-se. No entanto, também não é menos verdade que a TAP sustenta a sua atividade empresarial na promoção turística internacional e na rede de negócios, que as empresas Portuguesas realizam para atrair turistas e viajantes de negócios ao nosso País. Sem este trabalho económico-comercial de todo o tecido empresarial Português, a TAP não teria passageiros. Portanto, a TAP é tão importante para a economia nacional, como a economia nacional é importante para a TAP. E esta racionalidade económica coloca a TAP num outro patamar quanto à necessidade do governo Português poder ir mais longe no que diz respeito à intervenção economico-financeira na TAP.
Até onde pode ou deve ir a intervenção na TAP?
Não possuo números, nem estou por dentro da gestão da empresa para poder identificar que tipo de intervenção o Governo português poderá fazer na TAP. A TAP é uma empresa semi-privada, da qual o Governo Português decidiu “ausentar-se” na sua gestão e como tal tem que ser respeitada nas decisões que toma ou vier a tomar.
Por outro lado, a “Atlantic Gateway”, que detém 45% da companhia e a nomeação da gestão da mesma, já tornou público que precisa urgentemente de uma injeção de capital. Não adiantou números exatos, mas serão seguramente na ordem das centenas de milhões de euros (valor não desmentido pelo presidente do Grupo Barraqueiro – Humberto Pedrosa – e sócio detentor de 50% da Atlantic Gateway). Mas mais. Humberto Pedrosa deixou bem claro que espera que esse apoio venha do Estado. Aceita-se. A haver apoio, então acredito que o estado venha (e deva!) pedir contrapartidas. A avaliar pelos montantes e pela importância (já atrás referida) da empresa para o País, pensar numa nacionalização não é de todo descabido. Tudo indica que poderá ser uma excelente opção para o desígnio nacional que a empresa tem. Cabe ao estado fazer essa avaliação.
Olhando para todo o contexto, qual será o timing mais indicado?
Se estivermos a avaliar uma intervenção financeira do estado na empresa, então o racional deverá ser sempre o de um investidor. O investidor deve comprar ao melhor preço e ter uma estratégia para o ativo que está a comprar. As razões da compra podem ser várias, desde garantir emprego, ao desígnio nacional, ao controlo do destino turístico pelas mãos de quem procura defender o destino turístico que é Portugal ou apenas uma perspectiva economicista de negócio, que tem sido a única estratégia da TAP. O que é fácil de adivinhar é que o estado Português tem neste momento um “leverage” enorme na sua posição de “re-compra”. Senão vejamos: A companhia encontra-se numa situação financeira complicadíssima. Grande parte dos postos de trabalho estão assegurados por um “layoff” difícil de manter financeiramente pelos muitos meses que irá durar a recuperação da atividade aérea e a saída da crise “COVID19”. Na retoma irá existir excesso de oferta de lugares pelo que a rentabilidade da companhia será largamente afetada durante meses ou anos. A companhia encontra-se em guerra com os seus “stakeholders” (agências de viagens, operadores turísticos, agencias de incoming, etc) iniciada pela própria empresa. Desconhece-se o ambiente entre acionistas, mas não é difícil de adivinhar que quando não há dinheiro, tipicamente a paz é difícil de manter. E finalmente, os resultados financeiros da equipa de gestão atual estão muitíssimo aquém do Plano Estratégico projetado para 2018 e 2019 (lucros de 84 e 75 milhões de euros, respetivamente) contra uma realidade de prejuízos brutais de 118 milhões de euros em 2018 e de 105,6 milhões em 2019, enquanto que a aviação mundial registava lucros recordes!
Todos estes sinais e realidades dão ao estado Português a possibilidade de executar uma compra a um preço baixo (ou a custo zero, mesmo) ou, simplesmente nacionalizar. Se for aquele um dos casos, quanto mais cedo melhor, quer para a credibilidade da empresa, quer para os “stakeholders” finalmente se unirem em torno da salvação da TAP e do que ela representa para Portugal.