O novo aeroporto foi tema de debate na IV Convenção da Associação Nacional de Locadores de Veículos (ARAC). Apesar de ser unânime a urgência sentida sobre a escolha da nova localização, os oradores do I Painel de discussão reconheceram igualmente a necessidade de otimizar a infraestrutura já existente em Lisboa.
Filipe Silva, vogal do Conselho de Administração do Turismo de Portugal, começou por referir o trabalho feito pela comissão técnica independente, mas mostrou-se preocupado com a discussão que tem surgido em torno do novo aeroporto “por pessoas que não têm conhecimento próprio sobre a matéria”. De seguida, afirmou que ainda há margem de crescimento na atual infraestrutura.
O responsável do Turismo de Portugal destacou a taxa de ocupação média de 78% do Aeroporto Humberto Delgado. Por pouco que este valor possa crescer, “já teria um impacto bastante significativo ao nível do volume de passageiros que a atual infraestrutura pode processar”. Também em relação ao nível de movimento por hora, Filipe Silva propôs a hipótese de “haver uma revisão” “que permita a entrada de mais aviões nessa faixa horária”.
E mesmo a taxa de ocupação dos aviões “seguramente que nunca está a cem porcento”. “Se nós, enquanto entidade turística, e com os nossos parceiros, fizermos todo esse esforço que temos vindo a fazer, seguramente vamos ter ainda mais passageiros, supostamente mais turistas, com o mesmo número de voos que temos atualmente”, reforçou ainda Filipe Silva.
Nuno Costa, diretor comercial de Aviação da ANA – Aeroportos de Portugal, concordou com as declarações do representante da entidade de turismo. Disse que a ANA está a “colaborar ao máximo com a comissão de acompanhamento” e espera que “a decisão seja rápida”. Sobre o atual aeroporto, afirmou que é preciso “otimizar a estrutura”, mas queixou-se de um regulamento que considera “antiquado”, nomeadamente no que diz respeito à utilização de ‘slots’.
De acordo com o regulamento mencionado pelo responsável da ANA, as companhias aéreas que operarem 80% dos voos para uma rota adquirida, têm automaticamente direito a essa faixa horária da próxima vez que a solicitarem. “A medida serve para evitar cancelamentos de última hora, que inviabilizem a gestão do aeroporto e outros aviões de aproveitarem aquele ‘slot’”, esclareceu Nuno Costa.
“O problema é que, em cima da hora, começam a vir os cancelamentos, que vão até ao tal limite de 20%”, queixou-se o responsável. Ao mesmo tempo que a taxa de voos realizados garante que 80% dos voos são realizados, numa via de mão dupla, permite que as companhias possam cancelar até 20% dos voos sem que sejam prejudicadas numa nova atribuição de ‘slots’.
Apesar de assegurar que a ANA tem as condições necessárias para gerir a capacidade que disponibiliza, Nuno Costa considera que este aspeto dificulta a maximização da capacidade do aeroporto. “Uma das áreas que estamos a trabalhar com a IATA [International Air Transport Association] e com a Comissão Europeia é aumentar esse valor de 80% para 90%, ou 95%”, avançou. “Não é fácil mudar esses regulamentos”, reconheceu o diretor comercial da ANA, ponderando ainda a possibilidade de penalizar as companhias.
António Moura Portugal, diretor executivo da Associação das Companhias Aéreas em Portugal (RENA), partilhou a mesma opinião com os outros oradores. Para o responsável, “o novo aeroporto é uma preocupação”, mas o Humberto Delgado ainda pode ser maximizado. “O que pedimos são obras, e temos pedido recorrentemente obras, que têm sido feitas. Mas, se calhar, não à velocidade que as companhias entendem que deveria ter sido”, esclareceu.
“Em relação à questão global”, António Moura Portugal explicou que, “quando a companhia planeia uma operação, tudo tem de encaixar”. Justificou que a aeronave é um bem escasso e, por isso, a escolha dos destinos é uma preocupação, “em função daquilo que é a rentabilidade e o fator de maximização dos lucros da companhia aérea”.
Sobre o novo aeroporto, o diretor executivo da RENA apenas referiu que “as companhias querem uma estrutura eficiente, uma estrutura onde possam trabalhar, e que não crie entropias à operação”. No mais, pediu que a decisão seja rápida, para que não se perca a oportunidade de fazer crescer um destino “apetecível”, “com um grande capital de popularidade e respeito”.
Filipe Silva, Nuno Costa e António Moura Portugal participaram no painel “Que Turismo amanhã? Quantos milhões de turistas em 2027? O ‘low cost’ – um modelo de negócio incontornável?”. Dele fizeram parte também Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, e José Blanco, chief sales officer do Europcar Mobility Group. A moderação esteve a cargo de Rosália Amorim, diretora do Diário de Notícias.
Por: Redação da Ambitur, na IV Convenção da ARAC.