A Ambitur.pt continua a auscultar os empresários do setor do turismo, no âmbito da atual pandemia da Covid-19, procurando saber como as empresas estão agir neste momento e como pensam o futuro.
Alexandre Marto Pereira, CEO do Fatima Hotels Group, revela que quase todos os trabalhadores do grupo estão atualmente em lay-off, excetuando o pessoal da segurança e manutenção, bem como dos departamentos de vendas e back-office, estes últimos em teletrabalho.
O responsável admite que a situação em Fátima “é grave” com uma quebra nos mercados fundamentais para a cidade (Coreia do Sul e Itália) logo nos primeiros momentos, quando a maioria do trade ainda não se tinha apercebido da dimensão do risco. Mas explica que nesta região os hotéis estão habituados a operar de forma “muito eficiente – no nosso grupo também”. O que significa que os “custos são tradicionalmente muito controlados”, embora nos últimos anos, esses custos tenham vindo a aumentar a par da qualificação da oferta. “O dilema é como manter a qualidade reduzindo os custos enquanto a travessia do deserto se der”, reconhece o gestor, que adianta que o Fatima Hotels Group está neste momento “a gerir as reservas existentes para minimizar o impacto dos cancelamentos nos níveis de tesouraria e das vendas futuras”. Alexandre Marto Pereira não hesita pois afirmar que o momento de pensar o futuro é hoje.
Com um total de 10 unidades hoteleiras sob gestão, o CEO do grupo indica-nos que são vários os receios neste momento. Por um lado, no que diz respeito à solvabilidade das empresas de turismo. Alexandre Marto Pereira reconhece que o Governo criou mecanismos inteligentes de curto prazo para manter os postos de trabalho, e também disponibilizou linhas de tesouraria para salvar as empresas de insolvências precipitadas. “Mas dentro de um ano será um problema”, alerta o empresário, questionando: “Como poderão as empresas arrancar full-speed (um termo otimista) as suas operações com um serviço de dívida pesado”? Isto porque o que se passa atualmente é que as empresas estão a pedir dinheiro como um investimento na sua sobrevivência, explica, portanto, sem expectativa de aumento de cash flow para pagar esse empréstimo. “Acredito que a única solução é transformar esses créditos em dívidas de muito longo prazo (mais de 10 anos)”, defende.
Por outro lado, ao nível dos mercados Alexandre Marto Pereira aponta que o impacto no poder de compra dos consumidores será “brutal” e “as viagens são uma parte muito suscetível a cortes nesse contexto”, um impacto que se fará sentir a nível global. “Temos de começar a entender quais os mercados menos afetados economicamente e perceber se teremos espaço para crescer ali”, sugere.
Por fim, o gestor mostra-se particularmente assustado com a situação no mundo da aviação, sobretudo tendo em conta que vivemos num país periférico. “Que companhias sobreviverão? Com que dimensão? Que TAP teremos? Que rotas existirão para Lisboa” – todas questões que o empresário coloca, finalizando: “Há algumas semanas estávamos assustados com a dimensão do nosso aeroporto, o que parece risível neste momento dada a dimensão da tragédia”.