A Ambitur está a falar com várias associações do setor do turismo para perceber como sentem o atual momento que se vive em Portugal, o que esperam do próximo Governo e que desafios terão de enfrentar as empresas que representam nos próximos tempos.
Paulo Geisler, presidente da RENA – Associação das Companhias Aéreas em Portugal, começa por lembrar que Portugal é um destino de excelência já há muitos anos e essa verdade não foi posta em causa pela pandemia. Mas também é verdade que há desafios pela frente: “Temos de transmitir segurança aos viajantes, adaptando-nos à nova normalidade. Incertezas, cancelamentos, irregularidades, limitações em termos de recursos humanos – tudo isto fará de 2022 um ano desafiante”. Mas o dirigente associativo está confiante de que “o setor saberá dar resposta”.
Da parte da associação, há um apelo aos políticos para que “implementem regulamentos harmonizados e praticáveis façam desaparecer os obstáculos, permitindo às pessoas planearem as suas viagens, irem de férias ou retomarem as reuniões internacionais”.
Paulo Geisler aponta assim como prioridades, a curto prazo, que o próximo Governo que sair das eleições legislativas de 30 de janeiro deve ter em conta para o turismo, desde logo garantir condições para que as companhias aéreas operem “sem burocracias e punições desproporcionadas”. E dá o exemplo do aumento das contraordenações atuais no caso de passageiros sem teste negativo, que considera “totalmente desproporcionado e excessivo, tendo em conta, sobretudo, que se trata de uma obrigação ou dever acessório da companhia, que age em substituição do Estado”.
Por outro lado, recorda que é indispensável criar plataformas para os passageiros carregarem certificados e formulários, desonerando assim as companhias de tarefas para as quais não estão vocacionadas.
No que diz respeito à utilização da infraestrutura, o interlocutor diz à Ambitur.pt que “seria desejável uma revisão do contrato de concessão no sentido de promover um maior equilíbrio e adequação na fórmula de cálculo do valor das taxas aeroportuárias”.
Concentrando-se ainda nas prioridades de curto prazo, Paulo Geisler recorda que, em termos europeus, a revisão do regulamento dos slots também terá de ser prioritária. “A atual regra força a realização de «ghost flights» e promove o uso ineficiente de aeronaves”, esclarece, acrescentando que deve ser dada “maior flexibilidade às companhias”. E conclui afirmando que “as companhias devem ser vistas como parceiras, na medida em que são impulsionadoras da economia e promotoras do país”.
Já debruçando-se sobre as prioridades do próximo Executivo a médio e longo prazo, o presidente da RENA não tem dúvidas em apontar o restabelecimento da confiança dos visitantes, a promoção do destino Portugal e a criação de condições para os receber, nomeadamente a nível da infraestrutura. “É decisivo avançar com o novo aeroporto, qualquer que venha a ser a decisão política”, frisa.
Paulo Geisler admite que a incerteza do atual momento torna difícil fazer previsões quando à evolução do negócio para este ano. Mas também reconhece que se a evolução for a esperada, com a confiança restabelecida, a recuperação poderá ser mais rápida, não querendo porém afirmar que tal vá acontecer ainda este ano.
O dirigente associativo explica à Ambitur.pt que, nos últimos tempos, Portugal tem adotado medidas que colocam o país numa posição de maior fragilidade, proibindo voos em vez de sinalizar passageiros, e penalizando as companhias com multas. “A instabilidade é ainda muito grande”, diz. Para o responsável, “atingir em 2022, 70% dos valores pré-pandemia poderá ser realista, mas uma recuperação total antes de 2024/25 será, na nossa opinião, muito difícil”. É que para que tal aconteça é necessário que a procura a nível das viagens de lazer seja mais forte e que o segmento de negócios regresse, isto além da abertura de destinos intercontinentais. “Igualmente vital para a retoma é a uniformização de requisitos e a abolição dos obstáculos às viagens. A incerteza sobre se irá ou não haver novas restrições, quarentena, encerramento de fronteiras, deixa os viajantes muito inseguros”, acusa Paulo Geisler.