A SkyExpert, empresa de consultoria portuguesa especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo, faz um balanço sobre as sanções bilaterais ao transporte aéreo comercial de passageiros e de carga impostos entre a União Europeia, Canadá e Estados Unidos, de um lado, e Rússia e Bielorússia, do outro.
A interdição sancionatória atualmente em vigor baseia-se na nacionalidade da companhia e/ou no país em que a aeronave se encontra registada. Esta abrangência é importante porque, como explica Pedro Castro, diretor da SkyExpert, “é frequente as companhias terem uma nacionalidade e os aviões outra. Se pegarmos numa companhia de nacionalidade portuguesa como a HiFly, a frota dessa companhia está baseada em Malta. Portanto, esta dupla dimensão da sanção é relevante”.
Para uma eficácia a 100% falta ainda uma outra dimensão mais importante: o ponto de destino/origem. Para que qualquer avião cruze o espaço aéreo de outro país, tem de informar o ponto de origem e de destino. Esta dimensão não foi considerada pelas sanções, o que significa que uma companhia aérea Europeia – a Air Serbia – pode manter voos regulares entre a capital Belgrado e as cidades russas de Moscovo, São Petersburgo, Krasnodar e Rostov atravessando o espaço aéreo europeu. Neste momento, a Air Serbia aumentou já os seus voos Belgrade-Moscovo este fim-de-semana dos anteriores oito para 15 no Airbus A330. A única coisa que realmente mudou nos voos da Air Serbia foi a rota usada (dada a interdição para toda a aviação civil dos espaços aéreo da Ucrânia e Biolorússia), o tipo de avião (devido à enorme procura passou do A320 de 150 lugares para o A330 para 270) e os preços (mais de mil euros).
De acordo com Pedro Castro, “este tipo de exceções no espaço aéreo europeu poderia ser evitado aplicando a mesma regra que vigorava contra Israel pelos países do Médio Oriente até há bem pouco tempo: interditar o seu espaço aéreo contra todo e qualquer avião, independentemente da nacionalidade da companhia ou do país de registo, com destino ou com origem em Israel”. De acordo com as contas da SkyExpert, existirão mais de 30 mil turistas russos espalhados pelo mundo sem poderem voltar a casa (18 mil só no México, Cuba e República Dominicana) e existem mais de 10 mil turistas ucranianos na mesma situação – no Egito, em Zanzibar e na Madeira, por exemplo.
Para Pedro Castro, “deveriam ser feitos voos de repatriamento para os turistas russos pois esses podem e devem voltar para as suas casas – até porque com as sanções, provavelmente já não têm acesso ao seu dinheiro, os cartões de crédito poderão já não funcionar, etc”. O apoio e esforço humanitário deveria estar focado exclusivamente nos turistas ucranianos, pois muitos desses, de fato, poderão já não ter casa para onde voltar. Pedro Castro surpreende-se com o fato de em Portugal apenas se falar nestes turistas na Madeira, quando Portugal Continental tinha muito mais voos diretos do que o Funchal e muitas outras formas indiretas de se chegar…”onde estão esses turistas e como estão a ser cuidados?”, pergunta.