A Ambitur, em parceria com a AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, organizou a sua primeira Ambitur Talks na Decorhotel na passada quinta-feira, na FIL, em Lisboa. Marta Sotto Mayor, formadora e consultora internacional, que também trabalhou no setor hoteleiro, foi uma das oradoras desta conferência, que se debruçou sobre a temática da “Liderança na Hotelaria”.
Um dos desafios abordados pelo painel de oradores está relacionado com a dificuldade em incorporar nacionalidades distintas numa organização hoteleira e turística. Mas, para esta oradora, nada há de novo no facto de o setor do turismo, e da hotelaria, ter trabalhadores de várias origens distintas. Aliás, adianta, há 10 anos atrás, quando trabalhou como sales & marketing manager do Hard Rock Cafe Lisboa, já se deparou com uma realidade de mais de 20 nacionalidades diferentes. E assume que, na altura, isso foi muito inspirador: “Todos beneficiaríamos, pequenas ou grandes empresas, de perceber como é que essas marcas internacionais lidavam com a situação”, garante. E acrescenta: “Havia metodologias de formação interna, de processos e de desenvolvimento de talento que circulavam nas várias regiões e que iam espalhando este saber da marca mas integrando as diferentes realidades”.
“Havia metodologias de formação interna, de processos e de desenvolvimento de talento que circulavam nas várias regiões e que iam espalhando este saber da marca mas integrando as diferentes realidades”
Para Marta Sotto Mayor, a novidade reside hoje, dando o seu exemplo, no facto de mais de 50% dos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, onde é docente, serem estrangeiros, de mais de 20 nacionalidades. Até porque, confirma, “há muito interesse por aquilo que nós temos em termos de conhecimento”.
“há uma menor tolerância por quem já está no setor em compreender quem são estas pessoas, o que querem e quais as suas motivações”
Mas, prossegue a formadora, se é este o contexto, para onde vão eles posteriormente? Será que continuam em Portugal e, se não o fazem, por que razão? Marta Sotto Mayor explica: “O que oiço de volta, quando regressam deste primeiro contacto com o setor, nem sempre são as coisas mais maravilhosas, e fico muito triste porque eu sou do setor e formo para o setor”. A oradora prossegue referindo que sente que existe hoje, mais do que nunca, uma mudança geracional. É verdade que esta sempre houve mas atualmente é mais rápida, acredita, e “há uma menor tolerância por quem já está no setor em compreender quem são estas pessoas, o que querem e quais as suas motivações”. Até porque, confirma, “há muito menos o preto e o branco, hoje as coisas têm mais cores e são muito mais abertas”.
Por essa razão, Marta Sotto Mayor defende que “cada vez mais, as organizações, não importa a sua dimensão e forma, têm de perceber que, da mesma maneira que endeusam o cliente, têm de pegar em 50% do seu tempo e fazer exatamente o mesmo pelos colaboradores”. Ou seja, “o meu cliente interno e o meu cliente externo não podem, de maneira nenhuma, ter menos tempo” das suas empresas. A formadora e consultora internacional relembra que, muitas vezes, este processo está “achatado em chefias intermédias, que nem sempre são inspiradas pelas lideranças de topo”, o que significa que ou não compreendem o que se está a passar pois estão a precisar de uma “reformação” para melhor se capacitarem, ou então são encabeçadas pelos “jovens líderes que foram promovidos e ainda não têm as capacidades, competências e habilidades para o pleno exercício da sua função, muito menos para liderarem, pois não têm ninguém com quem tirar dúvidas e aprender”, esclarece. A oradora adianta ainda que se, noutros tempos, a promoção chegava quando o trabalhador já estava, na verdade, a exercer aquela função, para a qual já tinha dado provas, hoje em dia “há muita gente que tem o título no cartão, é-lhes esperado e cobrado mas, na verdade, não tiveram essa preparação”.
E é esse trabalho que Marta Sotto Mayor procura fazer, dedicando-se, por um lado, na vertente dos profissionais, a ajudar as organizações de uma forma vertical a colmatar essas necessidades. E, por outro lado, junto daqueles que serão os profissionais do futuro e das universidades internacionais. “Tento ser um acelerador de talento”, confirma.
Por Inês Gromicho. Fotos @Raquel Wise/Ambitur
Leia também…
AmbiturTalks na Decorhotel: Os três desafios da liderança: servir, onde e quem?