Numa mesa redonda dedicada ao tema “Talentos Versáteis: A Força Motriz do Amanhã” do 34º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que decorreu no Funchal, Susana Coerver, Partner and Strategic Ideator na Ideators.cc e cofundadora na Kindology, quis passar uma mensagem que considera essencial para o setor hoteleiro: “O futuro é «people centric», não «customer centric»”, defendendo que “os clientes vão estar nas empresas onde as pessoas gostam de trabalhar e isso sente-se”.
A oradora começou por explicar que, em Portugal, ainda há muitas empresas mais tradicionais, mais cinzentas, com culturas muito rígidas e hierarquias muito bem definidas, o que, na sua opinião, limita o espírito de autonomia e iniciativa dos ditos talentos versáteis, pessoas dotadas de competências como a adaptabilidade, a resiliência, autoconfiança, improviso, criatividade e capacidade de concretização, entre muitas outras. “A verdade é que estas pessoas, quando chegam às nossas empresas, têm problemas”, aponta, garantindo que “as empresas do futuro são aquelas que vão ver a pessoa antes do profissional”. E defende: “Para estarmos aptos a receber estes talentos versáteis, temos de repensar esta estrutura rígida e hierárquica”. Isto porque este trabalho mais versátil quer poder dar o seu potencial máxima, havendo por isso já algumas empresas que estão a repensar as suas culturas e a forma como trabalham a autonomia e a liberdade.
Susana Coerver explica que o marketing tem ainda muito para trazer a esta área da gestão de pessoas porque “no marketing trabalhamos personas”. E adianta que a lógica de tratarmos todos de igual forma acabou porque “temos vontades diferentes e as pessoas querem poder escolher”. A empresária prefere falar em “power skills” no sentido de que as empresas e empregadores têm de optar por uma escuta ativa e comunicação eficaz, saber entender a pessoa sem que ela diga uma palavra, pois isto fideliza as pessoas”. Defende assim uma aposta na monocracia, ou seja, a redução do número de camadas nas empresas pois estas criam dificuldades de comunicação. “Quanto mais reduzirmos estas layers e tivermos as pessoas numa cultura mais horizontal, mais elas poderão participar ativamente nos problemas da organização”, alerta.
Já no que diz respeito à ligação entre escolas/universidades e as empresas e trabalhadores, a oradora acredita que é necessário haver uma revolução. “Temos mesmo de fazer uma revolução na educação, aproximar o lado empresarial das escolas”, esclarecendo que é fundamental instituir que os estágios profissionais se realizem logo desde o primeiro ano dos cursos. Por outro lado, se é verdade que temos muito bons professores em áreas técnicas, também é verdade que “precisamos de professores nas áreas práticas, para que não haja “um desajuste em relação à realidade”.
Por Inês Gromicho, no Congresso da AHP, no Funchal.
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