A Cushman & Wakefield apresentou esta semana o seu Marketbeat Portugal Outono 2021. A consultora dá conta que o setor hoteleiro manteve, no primeiro semestre de 2021, quebras generalizadas na procura, nomeadamente de 25% nas dormidas e 19% no número de hóspedes. As alterações do perfil da procura verificadas em 2020 foram reforçadas este ano, com a procura interna responsável por 62% das dormidas , um aumento homólogo de 24%. Os indicadores da rentabilidade da operação hoteleira retratam a quebra acentuada na procura, com quebras de 17% nos proveitos totais e de 18% no RevPAR (Revenue per Available Room).
Desde o início do ano foram inauguradas 30 novas unidades com mais de 2.400 quartos, cerca de metade das quais com classificação 4 estrelas. Mantendo-se a tendência de adiamento da data de abertura de vários hotéis e revisão dos planos de investimento das unidades em fase de licenciamento ou projeto, a oferta futura (atualmente perto dos 190 novos projetos e 15.100 quartos até final de 2024) deverá continuar a ser revista em baixa, prevê a Cushman.
Neste contexto, mantiveram-se as alterações do perfil da procura, com destaque para o maior peso da procura interna, responsável por 62% das dormidas, refletindo um aumento de 24% face ao período homólogo de 2020. Em termos de evolução por região, observaram-se igualmente comportamentos díspares, em consequência da maior dispersão geográfica da procura, inclusive com aumentos das dormidas nos Açores (+22%), e Alentejo (+9%) por oposto às quebras mais acentuadas em Lisboa (-47%) e na Madeira (-45%).
Refletindo o comportamento da procura, a operação hoteleira contraiu igualmente no período em análise, na ordem dos 17% nos proveitos totais e 18% no RevPar. Apesar da gradual recuperação no segundo trimestre, a taxa de ocupação situou-se somente nos 17,2%, uma quebra de oito pontos percentuais face ao ano anterior.
Potencialmente influenciado por uma alteração parcial dos critérios de procura dos turistas (maior isolamento, estadias mais longas em teletrabalho e/ou refeições em casa), o Alojamento Local demonstrou novamente uma maior resiliência, apesar da menor oferta, resultante do direcionamento de vários imóveis para o arrendamento de longa duração. Desta forma, no primeiro semestre de 2021 o segmento foi responsável por 1,4 milhões de dormidas e 561 mil hóspedes, uma quebra homóloga de 5% e 11%, respetivamente, com os proveitos totais a registarem decréscimos de 3% e o RevPar de 14%.
Em termos de oferta hoteleira, desde o início do ano inauguraram 30 novas unidades com mais de 2.400 quartos, cerca de metade dos quais com classificação 4 estrelas. Entre estas, destacam-se as aberturas duplas por marcas de 3 estrelas – as duas primeiras unidades em Portugal da Moxy Hotels, ambas em Lisboa, e dois hotéis da B&B Hotels, em Matosinhos e Montijo.
Quanto à oferta futura, a expectativa de alguma regularização dos níveis de procura mantém a tendência de adiamento da data de abertura de vários hotéis, e revisão dos planos de investimento daqueles que ainda se encontram em fase de licenciamento ou projeto. Neste enquadramento, as estimativas para a nova oferta hoteleira em Portugal, atualmente perto dos 190 novos projetos e 15.100 quartos até final de 2024, deverão continuar a ser revistas em baixa, continuando a concentrar-se a maioria nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Lisboa
Apesar da quebra de 55% nos turistas chegados ao Aeroporto Humberto Delgado no primeiro semestre de 2021, para um total de 2,5 milhões, Lisboa manteve a primazia (46%) do tráfego aéreo em Portugal. Quanto ao turismo de cruzeiros, não registou atividade em consequência das interdições à sua operação, a qual só foi revertida em maio, com o primeiro navio de passageiros a ser recebido em julho.
Durante o período em análise, a capital registou somente 947 mil dormidas em alojamentos turísticos (incluíndo estabelecimentos hoteleiros e alojamento local), uma quebra homóloga de 58%, a maior entre os principais concelhos turísticos. Consequentemente, os indicadores de operação mantiveram quebras acentuadas, nomeadamente de 63% no RevPar e 21% na taxa de ocupação.
Registaram-se cinco novas aberturas de estabelecimentos hoteleiros, num total de 620 quatros, distribuídos entre unidades de 3 e 4 estrelas. Até 2024, estão previstos mais 33 hotéis com 3.100 camas, com maior preponderância da oferta de 5 e 4 estrelas, que respetivamente representam 46% e 33% da oferta anunciada. Entre estes, destacam-se o Radisson RED Lisbon Olaias (4 estrelas) com 290 quartos e o Meliá Lisboa (5 estrelas) com 240 quartos.
Porto
O aeroporto Francisco Sá Carneiro registou o segundo maior volume de tráfego entre janeiro e junho de 2021, num total de 1,3 milhões de passageiros, representando um decréscimo hómologo de 44%. À semelhança da capital, a cidade do Porto registou a segunda maior quebra nas dormidas em alojamentos turísticos, de 52% para os 330 mil. O impacto nos indicadores de operação nos estabelecimentos hoteleiros do Porto foi menos acentuado do que em Lisboa, com quebras de 47% no RevPar e de 18% na taxa de ocupação.
A cidade Invicta contou com quatro novas aberturas de unidades hoteleiras, num total de 400 quartos distribuídos pelas categorias de 4 e 5 estrelas, incluindo estas últimas o Eurostars Aliados com 150 quartos. Quanto à oferta futura, estima-se que 15 hotéis com 1.560 camas sejam concluidos até 2024, com uma distribuição equilibrada entre 4 e 5 estrelas. Entre as aberturas previstas, destaque para o The Student Hotel (conceito misto de estadias de curta e longa duração) com 300 unidades e que consiste na componente hoteleira do empreendimento Bonjardim (projeto de requalificação do quarteirão D. João I).
Perspetivas
Face à sua dimensão, a recuperação do turismo em Portugal encontra-se dependente de uma retoma a nível global, à medida que as condições de acesso aos países e liberdade de circulação de passageiros sejam repostas. Neste contexto, e dado que os fundamentais da atividade turística não se alteraram e o setor se adaptou de forma adqueada aos novos critérios de operação, Portugal deverá observar um aumento sustentado da procura. Ainda assim, em 2021, o volume de atividade deve situar-se em níveis similares a 2020, na medida em que os primeiros meses do ano foram em contexto de confinamento em grande parte da Europa, e o verão ficou marcado por barreiras de entrada no país e limitações na fruição de hotéis e outros equipamentos turísticos.
Complementarmente, mantém-se a expectativa de uma retoma diferenciada, nomeadamente mais célere no turismo de lazer comparativamente com o turidmo de negócio. Também o turismo urbano deverá registar um aumento mais gradual, antecipando-se contudo que atinja nos próximos anos volumes dominantes face ao turismo em ambiente de resort, suportado pela sua menor sazonalidade e capacidade de atrair um conjunto mais diversificado de procura.